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Movimentos sociais ressoam o ‘Grito dos Excluídos’ pelas ruas da Capital

Leonardo Sá

De um lado do Centro de Vitória, o povo nas arquibancadas para assistir a ostentação e espetacularização das armas e do militarismo na Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, no desfile oficial do Sete de Setembro. Do outro, o povo não assiste a nada, ele protagoniza, enche as ruas de bandeiras de várias pastorais e movimentos sociais, e “ostenta” o desejo de uma sociedade mais justa, por meio da 30ª edição do Grito dos Excluídos, na manhã deste sábado (7), com concentração na rodoviária e caminhada até o Palácio Anchieta.

Os dois eventos, apesar de realizados na mesma região de uma cidade tão pequena como Vitória, não se encontraram, como acontecia lá em 1995, quando ocorreu a primeira edição do Grito, e alguns anos posteriores, quando os manifestantes fechavam, a contragosto da organização da festividade do Dia da Pátria, o desfile oficial, se colocando no final da última ala, para questionar que independência é aquela que estava sendo comemorada.

Leonardo Sá

Novamente, como sempre foi e sempre será enquanto houver gente precisando gritar e, portanto, enquanto houver Grito dos Excluídos, não se encontraram em termos de propósito, daquilo que de fato importa para que se viva um mundo melhor. Dentro dessa lógica, este ano a manifestação trouxe como tema “Vida em Primeiro Lugar!”, e o lema “Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?”. O protesto começou com o protagonismo da população em situação de rua, na concentração, em frente à rodoviária, que em uma mística, mostrou um pouco da sua realidade.

“Quem se importa com a criminalização da pobreza, com aquela pessoa que tem seus pertences tirados na madrugada? Quem se importa de nos jogar creolina? A quem importa quando nos negam direito à moradia, se não temos emprego porque ninguém quer contratar quem vive nas ruas? Quem se importa quando o papelão é nos tirado de madrugada, com as doenças mentais que adquirimos nas calçadas? Numa cidade com tanta água encanada, a gente morre de sede porque não querem nos dar água”, questionou Bruno, uma das lideranças do Movimento das Pessoas em Situação de Rua.

Leonardo Sá

Após a mística, os manifestantes seguiram em marcha até o Palácio Anchieta, ao som de músicas que diziam frases como “irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra, um novo mar”, “juntos vamos celebrar a confiança, nossa luta na esperança de ter terra, pão e paz”, “nossos direitos vêm! Nossos direitos vêm! Se não vêm nossos direitos, o Brasil perde também”, “tem que acabar com essa história de negro ser inferior, o negro é gente e quer escola, quer ter carinho e e ter amor”, que há décadas embalam as lutas populares e, consequentemente, as vitórias, pois a trajetória dos movimentos sociais também é de conquistas.

Uma outra canção dizia “sou índio xavante, ianomani, tupi, guarani, carajá”, fazendo referência aos povos originários, que também estavam presentes, como os indígenas venezuelanos Warao, que se encontram na Capital, na ocupação Chico Prego, no Centro, e levaram para as ruas a necessidade de efetivação de políticas para os refugiados. Muitos movimentos e pastorais fizeram várias de suas bandeiras tremularem, como as do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimentos dos Atingidos por Barragem (MAB) e Pastoral Operária.

Outros manifestantes, mesmo com uma única bandeira, se fizeram presentes e foram acolhidos, como Wilson Coelho, que defendeu a descriminalização da maconha. “A maconha, inclusive, é usada para fins medicinais. A descriminalização acaba com a hipocrisia. Os grandes traficantes moram em Miami, a criminalização só mata pobre, negro, periférico”, apontou.

Em uma manifestação organizada pela Igreja junto com os movimentos sociais, não houve espaço para exclusão da comunidade LGBTQIA+, que se fez presente com suas reivindicações e camisas com frases como “eu não saí do armário, eu explodi do armário”. Já no Palácio Anchieta, em virtude do ano eleitoral, a tônica do protesto foi para que as pessoas votem em candidatos alinhados com as lutas populares.

Leonardo Sá

Interior

O Grito dos Excluídos acontece em todo o Brasil. No Espírito Santo, a manifestação não foi restrita a Vitória. Aconteceu também nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, no sul; São Mateus e Aracruz, no norte; e Colatina, na região noroeste, abrangendo, portanto, todas as dioceses do Estado. Em Cachoeiro, que pertence à Diocese de Cachoeiro, a concentração foi na Igreja da Consolação, no bairro Guandu. De lá, os manifestantes seguiram rumo à Catedral, no Centro da cidade.

Em São Mateus, pertencente à Diocese de São Mateus, a concentração foi na praça São Benedito, no centro da cidade. O ponto de chegada foi a Catedral, também no centro, local onde aconteceu a apresentação musical de Zé Vicente e Raquel Passos. Em Colatina, na Diocese de Colatina, a concentração foi na comunidade Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Airton Senna. Também na Diocese de Colatina, aconteceu o Grito dos Excluídos em Aracruz, na Praça da Amizade, no bairro Coqueiral de Aracruz. No local, houve falas de representantes dos encarcerados, das mulheres vítimas de violência, da comunidade LGBTQIA+, dos quilombolas e indígenas.

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