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Mais um jovem é morto em ação da PM no Território do Bem

Com o caso de Davi, sobe para oito o número de assassinatos em setembro em Vitória

Com mais um assassinato na noite dessa terça-feira (3) no bairro São Benedito, no Território do Bem, o mês de setembro foi encerrado com o triste índice de oito mortos em ações da Polícia Militar (PM) na cidade de Vitória. Dessa vez, a vítima foi Davi, de 16 anos, conhecido na comunidade como Dan, que levou um tiro na cabeça ao sair de casa para comprar refrigerante. Moradores, que preferem não se identificar por medo, afirmam que não houve confronto com a corporação.

Os relatos são de que, por volta das 17h, as viaturas rondavam a parte de baixo do bairro Bonfim. Depois subiram a Escadaria do Trabalhador, foram para o Bairro da Penha e São Benedito. Alguns policiais se esconderam na mata. Ao ver as viaturas, um grupo de jovens correu. Davi, que tinha saído para comprar refrigerante, acabou correndo também. Foi quando os policiais que estavam na mata dispararam vários tiros em direção aos rapazes, acertando a cabeça de Davi.

Pessoas da comunidade, então, foram até o local, onde, afirmam, avistaram policiais com o pé na cabeça do rapaz. Elas relatam que pediram para enviar Davi para o hospital, mas os PMs ameaçaram atirar contra os moradores que estavam ali. “Quando pegaram o corpo e desceram com ele na escadaria, a cabeça batia nos degraus. Uma parte do cérebro do menino caiu. Jogaram no camburão como se fosse um lixo”, denunciam. O ocorrido motivou manifestações, na noite dessa terça, nas comunidades de Consolação, Gurigica e Bairro da Penha.

Os moradores alertam para o fato de que se tivesse outras pessoas na rua também seriam atingidas, e lamentam que ações policiais desse tipo façam parte do cotidiano das comunidades do Território do Bem. “Já vimos vários corpos, já enterramos várias pessoas, é algo constante. Os policiais falam, inclusive, que quando eles chegam, ‘quem correr vai descer no saco preto’, mas como não correr? As pessoas têm medo da polícia”, dizem.

Os moradores recordam outras mortes violentas registradas na região, como em fevereiro último, quando um jovem morreu com um tiro na cabeça, ficando com o rosto desfigurado. Por isso, foi velado com o caixão fechado. Outro rapaz foi morto na mesma época com um tiro no coração, perdendo parte do abdômen.

“Porque atirar na cabeça e no coração? Porque a polícia sai falando que foi troca de tiro? Como foi troca de tiro se nunca tem um policial que sai ferido?”, questionam. Eles acrescentam: “são jovens que deixam mãe, irmãos, tios, tias, avós, e para a Polícia tanta faz. É triste ver uma mãe chorando pelo filho que ela gerou, cuidou e agora está vendo no caixão, isso quando consegue ver, pois de tão desfigurado, é velado com o caixão fechado”, protestam.

Mortes

Ao todo, foram oito mortos em ações policiais na Capital no mês de setembro. As primeiras vítimas foram Breno Passos Pereira da Silva, de 23 anos, e Matheus Custódio Batista Quadra, de 26, alvejados em São Benedito no dia 9 de setembro. Breno, de acordo com moradores do bairro São Benedito, foi assassinado em um beco, quando a polícia chegou atirando. Matheus foi alvejado cerca de 30 minutos depois, quando, ao fugir da polícia, entrou na casa de uma moradora. Os policiais, então, adentraram a residência, o algemaram e disparam contra ele.

Em Tabuazeiro foram mortos também Maycon, de 16 anos, e Rafael Cardoso Moreira, de 23, vitimados fatalmente dentro de casa, também a tiros. Moradores afirmam que ambos estavam dormindo quando policiais militares entraram na casa, os sufocaram com travesseiro e depois deram os disparos. A ação policial motivou uma manifestação na comunidade no dia 13 de setembro.

No dia 19, também em Tabuazeiro, Esmael dos Santos Lopes, de 21 anos, foi baleado na praça do Morro do Macaco. Foi internado no Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), mas veio a óbito dois dias depois.

O comandante-geral da Polícia Militar (PM), Douglas Caus, disse, na ocasião, que a corporação recebeu a informação de que traficantes estavam processando drogas “em um parquinho, em via pública, na frente dos moradores”. Por isso, foram separadas duas tropas de força tática, fazendo com que fugissem para uma área de mata. Uma equipe que cercava a região e a força tática, segundo o comandante, foram recebidas a tiros e “houve o pronto revide, legítima defesa”. Douglas Caus apontou, ainda, que o jovem estava com uma arma israelense 9 mm. Entretanto, moradores da região negam a versão da PM, afirmando que Esmael não estava armado e que a Polícia chegou atirando.

Os outros jovens assassinados foram Bruno Vieira Lopes da Silva, de 24 anos, e Vinicius Alves de Jesus, de 20, em Jesus de Nazareth. Suas mortes motivaram uma manifestação na noite do dia 25, do ponto final do bairro até a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp). A versão da PM é de que os policiais se depararam com cerca de seis homens em um beco, que dispararam, dando início a um confronto no qual Bruno e Vinicius foram vitimados. Contudo, a comunidade apresenta uma outra versão. Moradores relatam que Bruno tinha acabado de sair do campo de futebol rumo a sua casa. Ao passar pelo beco, foi cercado por policiais.

“As pessoas que testemunharam disseram que ele caiu, mas não foi a polícia que derrubou. Talvez tenha se assustado. Com a queda, disse que tinha machucado o braço e começou a pedir ajuda. Aí os policiais atiraram na testa dele”, afirmaram, destacando que o jovem, levado ao Hospital São Lucas pela PM, morreu na hora. “Levaram somente para disfarçar. Tiraram o corpo do local para não haver perícia. Desfizeram a cena do crime”, denunciaram.

Os moradores classificaram o ocorrido como “um ato covarde, desumano”. “Interromperam uma vida que estava apenas começando”, dizem. De acordo com eles, a violência policial é comum na região e normalmente não há apuração dos casos, que ficam impunes. “Se considera somente a palavra da PM, porque nós somos pobres, negros e da periferia”, lamentaram.

No caso de Vinicius, ele tinha acabado de sair de casa depois de deixar o trabalho em um supermercado, onde era estoquista, para ir ao campo de futebol, quando foi alvejado. Os moradores não têm detalhes do crime, mas garantem que não houve confronto, pois o rapaz estava desarmado.

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