Renata Alves se tornará a primeira mulher preta vereadora do município de Alegre
As eleições municipais deste ano no sul do Estado não significaram avanços em representatividade de gênero nas prefeituras e câmaras municipais em comparação com os resultados de 2020. A região não terá mulheres no comando das prefeituras e apenas 28 foram eleitas para exerceram a legislatura – no pleito passado, foram 30. Apesar de 52% do eleitorado ser composto por mulheres, a presença feminina nas câmaras permanece em 10%, mesmo com a adição de duas novas vagas na Câmara de Itapemirim, um dos oito municípios que continuará a ter apenas homens como parlamentares. A proporção de vereadoras eleitas na região foi inferior à média nacional de 18,24% entre os vereadores eleitos no último domingo (6).
O número de vereadoras que se declaram pretas ou pardas, que na classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define a população negra no País, não teve alteração em relação às eleições municipais anteriores, com apenas três negras entre 230 vagas distribuídas em 22 municípios: Fabíula Barreto (PSB), em Presidente Kennedy; Professora Carmelita (PP), em Iconha; e Renata Alves (PT), em Alegre.
Única parlamentar eleita pelo PT no sul do Estado, Renata Alves se tornará a primeira mulher preta vereadora do município de Alegre, quebrando a dupla marginalização que caracteriza o cenário político brasileiro e capixaba, tanto pela questão de gênero quanto pela racial. Embora existam cotas específicas para mulheres e políticas de incentivo para candidaturas de pessoas negras, a interseção dessas duas identidades, ser mulher e preta, significa enfrentar barreiras ainda maiores para ocupar os espaços de poder.
Além de atuar em movimentos de base em prol da educação de qualidade, Renata integra a luta feminista nas frentes do coletivo “Umas Pelas Outras” e como presidente do Conselho dos Direitos da Mulher de Alegre. A eleição da professora de História representa a única vitória da esquerda em todos os municípios da região, dominada por partidos de centro e centro-direita.
A sigla com o maior número de mulheres eleitas no sul do Estado foi o PSB, que conquistou sete cadeiras, seguido pelo PL, MDB e Podemos, ambos com três mulheres eleitas.
Candidaturas à prefeituras
A dificuldade de mulheres ocuparem cargos majoritários no Espírito Santo, Estado com menor número de mulheres eleitas para prefeitura, se refletiu no resultado das eleições de 2024 na região sul, onde apenas seis mulheres concorreram à liderança do executivo: Lana Roppe (Psol), em Atílio Vivácqua; Angélica Baptista (Agir), em Bom Jesus do Norte; Lorena Vasques (PSB), em Cachoeiro de Itapemirim; Dra Criziane Moreno, Ibatiba (MDB), Claudinha (Psol), em Itapemirim; Vilma Soares (PL), em Muniz Freire. Entre as candidatas, apenas Claudinha se declara parda.
Além de ser o Estado com a menor equidade de gênero no executivo municipal, o Espírito Santo também se destaca negativamente pelo descumprimento da cota de gênero, que exige que partidos apresentem pelo menos 30% de candidaturas femininas. Conforme aponta levantamento realizado pelo Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP) da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, 16 dos 78 municípios capixabas descumpriram essa legislação em 2024, o que representa mais de 20% do total, superando a média nacional.
Dominação masculina se amplia
O número de câmaras municipais ocupadas exclusivamente por homens cresceu no sul do Estado, com exceção apenas de Cachoeiro de Itapemirim, que reverteu a tendência ao eleger Renata Fiório (PP), que retorna ao cargo após ter sido vereadora entre 2017 e 2020. Além de Divino São Lourenço, Dores do Rio Preto, Bom Jesus do Norte, Itapemirim e Marataízes, que permaneceram como em 2020, Muqui, Muniz Freire e Guaçuí entraram para o grupo de municípios sem representação feminina.
Entre os municípios que tiveram avanços em participação feminina, além de Cachoeiro de Itapemirim e Alegre, que passou de uma para três parlamentares eleitas em 2024, Ibatiba cresceu de uma para duas vereadoras, enquanto Irupi e São José do Calçado também ampliaram a representatividade, passando de uma para duas cadeiras ocupadas por mulheres.