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Sem providências do governo, pescadores voltam a trabalhar

Dificuldades financeiras geraram o retorno à baía de Vitória, mesmo com contaminação

Sem trabalhar desde 20 de agosto, quando diversos peixes e frutos do mar apareceram mortos no rio Santa Maria, os pescadores da baía de Vitória estão voltando aos poucos a exercer o ofício. Dos cerca de 200 trabalhadores de Cariacica, uma média de 40 já retornaram à atividade pesqueira. O número, acredita a presidente da Associação de Porto de Santana e Adjacências, Rosinéia Pereira, tende a aumentar diante da falta de providências da gestão de Renato Casagrande (PSB) para garantir a sobrevivência dos trabalhadores enquanto não se aponta a causa das mortes.

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) chegou a coletar amostras da água do rio. O prazo para divulgação dos resultados era até 29 de setembro, mas não saiu. Os pescadores reivindicam que, enquanto isso, seja concedido um auxílio emergencial, já que temem vender para os consumidores um alimento que pode estar contaminado. Contudo, não há nenhuma resposta da gestão estadual quanto ao pleito.

“Os pescadores estão voltando a trabalhar porque não querem morrer de fome”, diz Rosinéia, que afirma que muitos estão com luz cortada, sem internet, telefone bloqueado e sem condições de comprar remédios de uso contínuo. Destaca, ainda, que para além da sobrevivência, a concessão ao auxílio emergencial é uma questão de saúde pública. “O Governo do Estado está obrigando os trabalhadores a vender um produto de qualidade duvidosa para o consumidor, colocando a saúde das pessoas em risco”, sentencia.

Rosinéia está participando da plenária sudeste do Plano Nacional de Pesca Artesanal, em Vitória, que começou nessa quarta-feira (9) e termina na sexta (11). A abertura contou com autoridades como o secretário estadual de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli; e o secretário nacional de Pesca Artesanal, Cristiano Ramalho. A pescadora relata que, na ocasião, pegou o microfone para denunciar a situação dos trabalhadores.

Sua atitude, afirma, forçou Enio Bergoli a se pronunciar. O gestor disse que, naquele momento, uma equipe formada por representantes do Iema, da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e da Secretaria Estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) estava reunida para discutir o assunto, mas não deu detalhes se estavam sendo debatidos o resultado do laudo, a questão do auxílio emergencial ou outra questão relacionada à mortandade de peixes e frutos do mar. Ela acredita que a afirmação feita pelo secretário pode ser somente para dar uma resposta diante da exposição pública durante o evento.

Com o fim do prazo para divulgação do resultado dos laudos, Rosinéia chegou a entrar em contato com o Iema, e foi atendida pela assessoria do presidente da autarquia, Mário Louzada. Ela relata que a resposta obtida foi de que houve um atraso na análise e que um email já havia sido enviado para o laboratório responsável para que informasse uma nova data de entrega e “exigindo agilidade”. Os trabalhadores chegaram a fazer uma manifestação no dia 24 de setembro, no Palácio Anchieta, Centro de Vitória, para reivindicar o auxílio emergencial.

Obtiveram como resposta, contudo, que é preciso esperar o resultado do laudo das amostras coletadas e, a partir daí, ver quais iniciativas serão tomadas pela gestão estadual. “Por mais emergencial que seja, existem trâmites a serem seguidos”, afirmou na ocasião o subsecretário da Casa Militar, Sérgio Luiz Anechini. Ele atendeu os trabalhadores na rua, do lado do Palácio Anchieta, após eles iniciarem um protesto no qual gritavam palavras de ordem como “do rio ao mar, não vamos nos calar” e “governador, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!”. Antes de ir ao Palácio, eles protestaram na avenida, em frente à escadaria Bárbara Lindemberg. Quando o semáforo fechava, os pescadores se colocavam na faixa de pedestre, em frente aos carros, com cartazes e entoando as palavras de ordem.

Sérgio Luiz afirmou que Mário Louzada foi orientado a atender os pescadores e sugeriu que entrassem em contato com o gestor. Contudo, os trabalhadores, quando procuraram o Iema para saber o porquê da não divulgação do resultado dos laudos, deixaram claro para a assessoria do presidente do Iema que acreditam que, na verdade, é o gestor que deve entrar em contato com os trabalhadores.

O subsecretário também apontou vício de iniciativa na indicação do deputado estadual Fabrício Gandini (PSD), aprovada no dia 2 de setembro pela Assembleia Legislativa, para concessão de auxílio emergencial, já que o Legislativo não pode impor custos ao Executivo, devendo a criação de um auxílio emergencial partir do governo. Os pescadores não ficaram satisfeitos com as negativas e por terem sido atendidos fora do Palácio.

Os pescadores suspeitam que a empresa RG Centro Logístico seja a causadora da contaminação do Rio Santa Maria, por conta da construção de um aterro com Revsol às margens do rio, junto a outras empresas instaladas ao longo da BR-101, no trecho da rodovia que margeia os corpos hídricos.

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