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‘Não pode transferir culpa para os pescadores’

Pescadores contestam Mário Louzada, que indicou “pesca predatória na baía de Vitória”

Os pescadores que atuam na baía de Vitória afirmam que se sentem desrespeitados com a afirmação do presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Mário Louzada, de que a mortandade de peixes e frutos do mar pode ser resultado de “pesca predatória, por meio do uso de bomba”. O gestor disse isso, sem apontar evidências, em entrevista à TV Gazeta nessa sexta-feira (11), quando afirmou ainda que o laudo das amostras das águas coletadas no dia 29 de agosto no rio Santa Maria teve resultado “inconclusivo”. Século Diário solicitou ao órgão ambiental informações sobre o laudo, mas não obteve respostas.

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“Não pode transferir culpa para os pescadores”, sentencia a presidente da Associação de Pescadores de Porto de Santana e Adjacências, Rosinéia Pereira. Ela destaca que, se fosse pesca predatória, os animais não ficariam boiando, pois “ninguém pesca para deixar na água, pegariam para vender”.

A presidente da associação diz, ainda, que não há pesca predatória na região, e refuta a afirmação do presidente do Iema de que os pescadores devem fiscalizar esse tipo de prática. “Aqui não existe pesca com bomba. Os pescadores cuidam do meio ambiente, porque a gente vive disso. Não é competência nossa fiscalizar, mas é competência do Iema fiscalizar as grandes empresas”, salienta, recordando a suspeita de que a contaminação tenha sido por parte da empresa RG Centro Logístico por conta da construção de um aterro com Revsol às margens do rio, junto a outras empresas instaladas ao longo da BR-101, no trecho da rodovia que margeia os corpos hídricos.

Os pescadores também questionam o fato de não terem tido acesso ao laudo e afirmam que farão novas manifestações. “É um descaso com as associações, não estão nem aí. Nós protestamos, procuramos o governador e não fomos recebidos, fomos para a Assembleia Legislativa, falamos com os deputados, mas nem ao menos nos procuraram para falar diretamente conosco sobre o resultado”, diz o presidente da Associação de Pescadores de Nova Rosa da Penha (Ascapenha), Deraldo Jesus da Silva.

O ambientalista Eraylton Moreschi, presidente da Organização Não Governamental (ONG) Juntos SOS Espírito Santo Ambiental, aponta que se o laudo foi inconclusivo, não se pode descartar a possibilidade de contaminação por causa do Revsol. Ele recorda que alguns pescadores coletaram amostras do material do aterro, colocaram junto a peixes da espécie tainha e, ao comparar com outros da mesma espécie que não tiveram contato com o material, percebeu-se que os que tiveram acesso ao produto químico morreram após 40 minutos.

Moreschi aponta que a utilização de Revsol na região não atende à Nota Técnica 04/2023 sobre a elaboração de diretrizes técnicas e procedimentos administrativos vinculados ao uso ambientalmente seguro de escórias siderúrgicas, como não usar em áreas próximas a recursos hídricos. O ambientalista defende que é preciso, urgente, pesquisas sobre os impactos do Revsol no meio ambiente e nos lençóis freáticos.

Retorno à pesca

Os pescadores estavam sem trabalhar desde o dia 20 de agosto. Contudo, estão voltando aos poucos a exercer o ofício. Dos cerca de 200 trabalhadores de Cariacica, uma média de 40 já retornaram à atividade pesqueira. O número, acredita Rosinéia Pereira, tende a aumentar diante da falta de providências da gestão estadual para garantir a sobrevivência dos trabalhadores, que chegaram a reivindicar um auxílio emergencial enquanto o resultado do laudo não saia, mas não obtiveram retorno quanto ao pleito, cujo atendimento será mais difícil agora com a afirmação de que o laudo foi inconclusivo.

“Os pescadores estão voltando a trabalhar porque não querem morrer de fome”, destaca Rosinéia, que afirma que muitos estão com luz cortada, sem internet, telefone bloqueado e sem condições de comprar remédios de uso contínuo. Destaca, ainda, que para além da sobrevivência, a concessão ao auxílio emergencial seria uma questão de saúde pública. “O Governo do Estado está obrigando os trabalhadores a vender um produto de qualidade duvidosa para o consumidor, colocando a saúde das pessoas em risco”, sentencia.

Rosinéia participou da plenária sudeste do Plano Nacional de Pesca Artesanal, em Vitória, de 9  a 11 de outubro. A abertura contou com autoridades como o secretário estadual de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli; e o secretário nacional de Pesca Artesanal, Cristiano Ramalho. A pescadora relata que, na ocasião, pegou o microfone para denunciar a situação dos trabalhadores. Sua atitude, afirma, forçou Enio Bergoli a se pronunciar.

O gestor disse que, naquele momento, uma equipe formada por representantes do Iema, da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e da Secretaria Estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) estava reunida para discutir o assunto, mas não deu detalhes se estavam sendo debatidos o resultado do laudo, a questão do auxílio emergencial ou outra questão relacionada à mortandade de peixes e frutos do mar. Rosineia acredita que a afirmação feita pelo secretário foi somente para dar uma resposta diante da exposição pública e que a entrevista concedida por Mário Louzada à TV Gazeta foi por causa da denúncia feita na plenária, diante do secretário nacional de Pesca Artesanal.

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