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IA multimodal em nossas vidas

O que está por trás das tecnologias que enxergam, ouvem e falam como nunca antes?

A evolução da inteligência artificial passa por uma revolução silenciosa. Enquanto boa parte do público ainda associa IA a simples chatbots que respondem a perguntas em texto, a realidade já avançou para algo muito mais sofisticado. Agora, a IA não apenas responde, ela ouve, vê, interpreta e interage com o ambiente de forma multimodal.

Ferramentas como o NotebookLM, do Google, exemplificam essa nova onda de IA. O simples ato de transformar um perfil do LinkedIn em um podcast de nove minutos pode parecer trivial, mas revela a potência de uma tecnologia capaz de captar dados de múltiplas fontes e apresentá-los de forma coesa e interativa. Para os gigantes da tecnologia, como Google e Meta, essa é apenas a ponta do iceberg.

A verdade é que estamos diante de uma corrida frenética, impulsionada pela pressão financeira sobre as empresas de IA para inovar. Em meio à enxurrada de novas ferramentas, fica claro que há muito experimento e pouca certeza. Esse modelo de “testar para ver o que cola” não é fruto de planejamento cuidadoso, mas sim de um mercado que exige resultados imediatos, mesmo que os próprios criadores dessas tecnologias não saibam ao certo para onde estão indo. A velocidade com que essas inovações são lançadas não permite tempo suficiente para avaliar suas consequências a longo prazo e isso gera preocupações sobre os impactos éticos e sociais que podem surgir.

Esse cenário, por outro lado, traz à tona uma questão incômoda: estamos preparados para lidar com tecnologias tão invasivas e poderosas? As interfaces mais interativas e personalizáveis parecem promissoras, mas o sucesso de funcionalidades inesperadas, como o podcast de IA, também expõe o quanto dependemos de experimentos sem supervisão ou compreensão total de suas consequências, o que intensifica a sensação de imprevisibilidade.

O impacto vai além da inovação técnica. O que está em jogo é o controle dessas ferramentas por corporações que moldam o que vemos e ouvimos, influenciam até como pensamos. Ao lançar uma enxurrada de novidades multimodais, as empresas de tecnologia podem criar monstros que, assim como no mito de Frankenstein, acabam escapando ao controle.

Com tanto em jogo, a pergunta não é se a IA multimodal vai transformar nossas vidas. Ela já está fazendo isso. A questão é se seremos capazes de acompanhar o ritmo e manter o controle de um futuro que parece cada vez mais moldado por decisões algorítmicas.

No Brasil, o cenário da IA multimodal segue os passos do que ocorre em nível global, mas com nuances que amplificam os riscos. Enquanto as grandes corporações internacionais avançam rapidamente, a ausência de uma discussão mais profunda sobre os impactos dessas tecnologias deixa o país exposto. As empresas que operam aqui têm acesso a uma imensa quantidade de dados pessoais, sem que haja, de fato, uma regulação clara para lidar com o uso ético dessas informações. Assim como em outros lugares, as ferramentas de IA estão sendo integradas ao nosso cotidiano antes mesmo de termos tempo para debater suas implicações.

Essa corrida tecnológica, sem o devido acompanhamento regulatório e social, pode levar a uma dependência ainda maior de tecnologias estrangeiras, moldando nossos comportamentos, preferências e até nossa visão de mundo de acordo com os interesses de quem controla essas ferramentas. Em um país onde o acesso à tecnologia ainda é desigual, isso agrava a questão da exclusão digital. Enquanto alguns terão acesso a essas inovações, a maioria da população pode se ver marginalizada, sujeita a algoritmos e sistemas sobre os quais não têm controle, com pouco espaço para a criação de soluções próprias ou para a crítica dessas ferramentas.

Flávia Fernandes é jornalista, professora e pós-graduanda em Inteligência Artificial e Tecnologias Educacionais pela PUC-MG.

Instagram: @flaviaconteudo

Emal: [email protected]

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