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Comunidade quilombola de Graúna teve fim de semana de violência

Jovem morreu e outros dois ficaram feridos após ação policial; ônibus também foi incendiado

Foto Leitor

A comunidade quilombola de Graúna, localizada em Itapemirim, cidade do litoral sul do Estado, teve um fim de semana marcado por violência. Na noite desse sábado (19), três jovens foram baleados durante uma ação da Polícia Militar (PMES), sendo que um deles morreu e os outros dois estão internados em um hospital. Na manhã de domingo (20), um ônibus foi incendiado na região.

De acordo com a versão da PMES, militares da Força Tática foram até a região de Graúna verificar a informação de que indivíduos armados planejavam um ataque na localidade de Itaipava, também em Itapemirim. Durante o patrulhamento, eles teriam avistado quatro pessoas com armas de fogo, que desobedeceram à ordem de largar o armamento e atiraram contra a viatura policial.

No confronto, uma das pessoas armadas fugiu, e os outros três foram levados feridos para um hospital, sendo que um deles – um jovem de 18 anos identificado por moradores como Andrey, mais conhecido pelo apelido de “Parafuso” – não resistiu aos ferimentos. Um dos jovens que segue internado seria irmão do rapaz que morreu. Os militares afirmam que encontraram um revólver calibre 38, com capacidade para cinco munições, todas deflagradas, e um revólver calibre 32 com os suspeitos.

Um vídeo registrado no momento da ocorrência e compartilhado em grupos de WhatsApp mostra o corpo de uma pessoa estendido no chão, na garagem de uma residência, e outras pessoas feridas na rua, com vários moradores ao redor. “Por que fizeram isso? Foram vocês que fizeram isso?”, questiona a pessoa que está filmando os policiais, aos prantos. “Calma, senhora! Ninguém fez nada, não! ‘Tava’ todo mundo armado!”, gritou um agente da PM, em resposta.

Em outro vídeo, uma pessoa relata que o confronto ocorreu no morro das “casinhas populares”. Os moradores teriam sido surpreendidos por “policiais à paisana que chegaram dando tiro nos moradores, em uma casa cheia de crianças”, e todos tiveram que correr às pressas para se refugiar no interior de seus imóveis. Também é relatado que o corpo do rapaz que depois faleceu foi arrastado pela rua até a viatura, deixando uma grande marca de sangue no local

A Polícia Militar afirma que “os policiais foram hostilizados por parte da população local com várias pedradas, sendo necessário o uso de material não letal para conter a situação”. Vídeos do dia seguinte mostram também pessoas colocando fogo em pneus e fechando vias públicas da região – ao que tudo indica, em protesto contra o ocorrido na noite anterior.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou, em nota, que “o Corpo de Bombeiros foi acionado, por volta das 6h desse domingo (19), para atender uma ocorrência de incêndio em veículo, em Graúna, Itapemirim. As equipes chegaram ao local e constataram que as chamas atingiam um ônibus. O fogo foi combatido e extinto, sem feridos. O incêndio teria sido criminoso”.

Localizada às margens da rodovia ES 490, Graúna é uma localidade rural de Itapemirim, reconhecida em 2010 pela Fundação Cultural Palmares como remanescente de quilombos. A comunidade enfrenta muitas dificuldades de acesso a serviços públicos. Recentemente, os moradores resistiram a um processo que quase resultou na municipalização da escola local, e continuam lutado por mais investimentos em educação.

As ações do tráfico de drogas e abordagens policiais já estão naturalizadas na região. Mesmo assim, moradores – que preferem não ser identificados por motivos de segurança – relatam que nunca antes tinham visto uma situação com esse nível de violêncoa na localidade.

Sobre os desdobramentos da ação, a Polícia Civil (PCES) informou que “a ocorrência foi entregue na Delegacia Regional de Itapemirim. Os dois detidos foram autuados em flagrante por tentativa de homicídio qualificado e serão encaminhados ao sistema prisional, assim que receberem alta médica”.

Ainda de acordo com a PCES, “o corpo do suspeito, de 18 anos, foi encaminhado para a Seção Regional de Medicina Legal (SML), da Polícia Científica, em Cachoeiro de Itapemirim, onde passará pelo processo de necropsia. Posteriormente, será liberado para os familiares. As armas apreendidas serão encaminhadas para o Departamento de Balística Forense, da Polícia Científica (PCIES), juntamente com as munições”.

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