Na guerra da Ucrânia, um modo histriônico e imaturo
As polêmicas de Elon Musk, além desta recente no Brasil, foram registradas no embate com a União Europeia, a qual anunciou, em 2023, uma investigação sobre disseminação de conteúdo terrorista e violento na rede X do CEO problemático, e ainda propagou discursos de ódio, sobretudo após o ataque do Hamas a Israel.
Em dezembro de 2023, por fim, a União Europeia formalizou a suspeita de violação de suas regras pela rede X através de conteúdos ilegais e de desinformação que circularam sem serem derrubados ou combatidos.
Dentre as acusações, estava a do comissário digital Thierry Breton, em que o X era colocado como suspeito de violação de regras de transparência. A rede social X respondeu que estava cooperando com o processo regulatório.
Contudo, em outro episódio, a rede X realizou o banimento de contas de jornalistas, fazendo com que Elon Musk recebesse uma saraivada de críticas vindas de governos, das Nações Unidas e, por fim, da União Europeia, quando a comissária Vera Jourova, baseada na nova Lei Europeia de Serviços Digitais, ameaçou a rede X com sanções, pois esta nova lei foi elaborada para afirmação de direitos fundamentais e pelo respeito à liberdade de imprensa.
Por sua vez, na questão da guerra da Ucrânia, Elon Musk se interpôs na discussão de modo histriônico e imaturo, chegando ao ponto de, em outubro de 2022, usar o ainda Twitter para sugerir um “plano de paz”, sob a forma de enquete, deixando as autoridades ucranianas indignadas. Os detalhes da enquete exalam pretensão e prepotência, parecendo a proposta de um chefe de Estado, sendo este apoiado por uma coalizão.
Mas, na verdade, se tratava de um pastiche modorrento e de mau gosto, com opções como “refazer eleições de regiões anexadas sob supervisão da ONU; a Rússia sai se essa for a vontade do povo”; ou ainda esta outra pérola de auto paródia involuntária do CEO infantilizado, como “Crimeia formalmente parte da Rússia, como tendo sido desde 1783 (até o erro de Khrushchev)”, além de outras baboseiras onipotentes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criou uma enquete no Twitter, na qual se perguntava qual Elon Musk os seguidores do presidente gostavam mais. E as opções eram uma ironia em que uma era “Aquele que apoia a Ucrânia” e, outra, “Aquele que apoia a Rússia”.
Outro conflito se deu entre Elon Musk e o Estado americano de Delaware, quando no dia 30 de janeiro, Musk escreveu no X: “Nunca registre sua empresa no Estado de Delaware”. Foi quando duas empresas de Musk, a Neuralink e a SpaceX, anunciaram que não teriam mais sede fiscal em Delaware. Em fevereiro, veio a notícia de que a Neuralink registraria seu endereço legal em Nevada, mesmo Estado em que a X tem sede, ao passo que a SpaceX se registraria no Texas.
A Tesla, por sua vez, ainda está em situação indefinida, enquanto Musk empreende uma campanha para que outras empresas não estabeleçam domicílio legal em Delaware, ao mesmo tempo em que o CEO tenta se livrar de qualquer vínculo com este Estado. Toda esta batalha é bem dura, pois Delaware é considerada atraente pelo setor empresarial há décadas.
Uma das causas do embate de Musk com o Estado de Delaware partiu da anulação de um pacote salarial de US$ 56 bilhões, que era o maior pagamento concedido a um CEO de uma empresa de capital aberto na História, e que foi barrada por uma juíza de Delaware, no fim de janeiro, decisão advinda de ação judicial movida por acionistas, julgando o pagamento excessivo, e que teve concordância da juíza.
O Estado de Delaware não é qualquer região do empreendedorismo norte-americano e mundial, longe disso, pois a coisa vai muito mais longe, uma vez que estamos lidando com um Estado que concentra mais de 60% das empresas que compõem o índice Fortune 500, este que inclui as 500 maiores empresas norte-americanas.
Ou seja, todas estas empresas que estão dentro desses mais de 60% têm seu registro legal de sede em Delaware. Tais empresas incluem, dentre várias, gigantes como Facebook, Amazon, Google, Walmart, MasterCard, Visa, LinkedIn etc. Contando as empresas do mundo, por fim, Delaware possui mais de 1,6 milhões destas empresas com sede legal por lá.
Em relação à Bolívia, em 2020, a confusão se deu através de postagens, que começaram com uma crítica de Elon Musk a uma iniciativa do governo dos Estados Unidos que visava um pacote de estímulo, e isso durante a pandemia da Covid-19. Na postagem de Elon Musk, dizia que tal pacote “não atendia aos melhores interesses do povo”.
Esta postagem gerou uma resposta que afirmava não se tratar dos melhores interesses do povo o fato do governo dos Estados Unidos terem organizado um golpe contra Evo Morales para que Musk tivesse acesso ao lítio da Bolívia. O lítio que, por sua vez, é um mineral usado para a fabricação de baterias na Tesla, por exemplo.
O fato era que, em 2019, o então presidente da Bolívia, Evo Morales, havia renunciado depois de uma mobilização popular e de um motim da maioria dos policiais bolivianos, mais o pedido de renúncia feito pelas Forças Armadas. A resposta de Elon Musk, em pleno ano eleitoral na Bolívia, foi categórica, para não dizer irresponsável: “Nós daremos golpe em quem quisermos. Lide com isso”.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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