Eleições marcaram a continuidade da velha política
As eleições deste ano marcaram a continuidade da velha política tradicional e dos acordos para a manutenção de cargos e poder, tudo isso bancado com recursos financeiros, humanos e materiais, provenientes das fortes máquinas públicas e seus orçamentos, além das emendas impositivas e dos financiamentos por meio de fundos partidários e eleitorais.
Pudemos observar um cenário de mais de 80% de reeleição de prefeitos e vereadores, respaldados por uma narrativa de normalidade democrática, com apresentação da capacidade e da experiencia histórica de dialogar e de fazer as realizações com recursos públicos, sempre demonstrando no discurso um compromisso com as necessidades da população local, como se realizar em obras e serviços com o orçamento público fosse uma grande virtude, e não um dever.
O marketing, a comunicação digital e as mídias sociais se mostraram importantes ferramentas para utilização em campanha, mas cada uma limitada à sua área de atuação e abrangência, e ainda desconhecidas de parte do eleitorado, principalmente as gerações com mais vivência no funcionamento pessoal e analógico das relações humanas.
Pesquisas, análises de dados e comunicações virtuais ainda se mostram muito distantes da realidade e das crenças da população em geral, que ainda prefere o ator em cena, com as emoções humanas, as reações motivadas pelos impulsos e o calor dos coletivos e das aglomerações.
A polarização nacional entre democratas e conservadores influenciou menos nas disputas municipais que os recursos provenientes dos fundos eleitorais e partidários, além das emendas direcionadas para ajudar aliados. A hegemonia política configurada com essas eleições está fragmentada em diversos partidos de centro-direita, com posicionamentos políticos bem distintos.
Na disputa pelo poder municipal, muito foi valorizada a necessidade de continuidade, as experiências em gestão pública, o que foi demonstrado pelo alto índice de reeleição para prefeitos ou “novos” apadrinhados por gestores experientes, “renovando” para conservar tudo como está.
Tanto na Capital quanto nos demais municípios, nos menores e nos grandes centros, a narrativa construída era para que os eleitores reconhecessem aqueles que realizavam obras e serviços com os recursos públicos, como se isso fosse um sinal de competência e capacidade de gestão.
A Justiça Eleitoral cumpriu o seu papel como sempre procurou fazer, mesmo sendo atacada por muitos conservadores. Dentro das regras da Constituição, buscou regulamentar o uso das redes sociais e outras demandas, com celeridade em suas decisões para combater possíveis abusos.
Funcionou de forma educativa a firmeza e o rigor com que tratou atos antidemocráticos desde os episódios de 8 de janeiro de 2023, o que garantiu o bom funcionamento das eleições deste ano. Alguns candidatos que se excederam foram punidos exemplarmente, como forma também de evitar comportamentos semelhantes nas disputas futuras.
Com tal postura, essas eleições ocorreram sem maiores problemas, o que nos mostra o resultado dos esforços das instituições dos três poderes para um retorno gradual de um bom funcionamento de uma sociedade democrática.
O que ainda se percebe é que uma grande parcela do povo trabalhador está sem identidade política. Ainda não se sente pertencente e sujeito capaz de influenciar na transformação da sociedade.
Para que o povo trabalhador se assuma enquanto sujeito político capaz de transformar sua realidade, é preciso que lideranças dos movimentos sociais, populares, sindicais e políticos, que se propõem a representá-los, sejam capazes de descer até suas bases, ouvi-los, vivenciar suas realidades, e entender suas necessidades e lutas.
É urgente que saiam de suas zonas de conforto, de suas apatias quase depressivas, e compreendam que quem conhece as dificuldades do transporte público é quem os utiliza, que quem sabe das dificuldades de estudar nas escolas públicas são os alunos e seus pais, e que é grande o sofrimento e a dor de quem vive a realidade da saúde pública. Realidades diferentes de quem utiliza seu veículo para mobilidade, de quem estuda em escolas particulares, de quem tem plano de saúde e utiliza o atendimento particular na saúde.
Teremos o povo do nosso lado, defendendo um projeto democrático e popular, quando ele puder participar e suas lideranças forem mais audaciosas em suas propostas de mudanças políticas e sociais. O povo trabalhador estará na defesa de uma sociedade justa e mais igual quando falarmos a sua linguagem, estivermos ao seu lado em suas necessidades e lutas. É preciso que as lideranças entendam sua linguagem e ouçam suas inquietações, para diagnosticar os problemas e propor alternativas de soluções viáveis e com a participação popular. “Nada por mim, sem mim”.
A linha do tempo avança sempre para o futuro e as necessidades de melhorias vão se renovando a cada dia. Precisamos enfrentar nossas mazelas, combater a fome, a miséria, aumentar a geração de trabalho, de emprego e de renda digna, com a evolução das políticas públicas de saúde, educação, moradia, cultura, lazer e segurança pública. Que venha o futuro, nossas lutas continuam. Enquanto houver vida, haverá lutas por um mundo justo e mais igual!
Ah, e as eleições, sim, além das nossas lutas diárias, acontecem a cada dois anos. Estamos aprendendo com elas, fortalecendo nossa democracia e nos preparando para disputar os espaços de poder, que é de direito do povo trabalhador, a maioria da sociedade, que produz a riqueza econômica, que na distribuição fica com a menor parte, mas que ainda é minoria na representação política nos espaços de poder. Avante meu povo trabalhador, poder político não se ganha gratuitamente, se conquista com muita luta e determinação. Até a vitória.