Mais: ameaças à festa quilombola; Calila das Mercês em Vitória; e Lei João Bananeira
A festa Raiar da Liberdade, que acontece todo dia 13 de maio na comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Espírito Santo, será registrada como Patrimônio Cultural Capixaba neste domingo (3). O registro será na Solenidade do Patrimônio Imaterial do Estado, na qual também será celebrado o Dia Nacional da Cultura, às 10h, na Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, na Serra.
O Caxambu Santa Cruz, da comunidade de Monte Alegre, fará uma apresentação no local. Genildo Coelho, da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, afirma que a obtenção do registro é o primeiro passo. Agora, é essencial a criação de um plano com a participação da comunidade para salvaguardar a festa, já que está ameaçada pela intolerância religiosa que parte, principalmente, “de pastores brancos que nem ao menos são da comunidade”.
Demonização da cultura negra
Genildo destaca que, mesmo com o registro, nada garante que a festa, realizada desde 1888, vai permanecer caso não haja ações de salvaguarda. “Há uma demonização de tudo que vem da cultura negra. Falam, por exemplo, que bater tambor é do Diabo, mas o Diabo nem existe na Umbanda”, contesta, apontando a maneira como muitos se referem aos tambores do Caxambu. A Umbanda, salienta, é a religião de Maria Laurinda Adão, uma das lideranças da comunidade quilombola, e de outras mestras da região.
Fim de projeto
Uma das consequências da intolerância religiosa, relata Genildo, é o fato de um projeto executado na escola pública da comunidade de Monte Alegre desde 2000 não ser realizado há dois anos. O motivo? Responsáveis pelos alunos, entre eles, dois pastores, que comandaram o processo de rechaço à cultura quilombola, se manifestaram contra o projeto, que levava mestras da cultura popular para a unidade de ensino para falar sobre a cultural local. “Na verdade, eram as avós, as bisavós das crianças, conversando com elas, mostrando como bate tambor, falando de cada música”, diz.
Ações
Genildo defende que, no plano de salvaguarda, uma das ações a serem executadas deve ser o financiamento da festa por parte do poder público, já que o evento acaba dependendo de recursos de edital de cultura e “não se ganha edital todo ano”. Além disso, considera que editais não são “democráticos”, já que para os mestres e mestras da cultura popular, é mais difícil “lidar com a burocracia do Estado”. Outra iniciativa de salvaguarda defendida por ele é a obrigatoriedade de aulas de educação patrimonial na escola da comunidade.
Dossiê do Congo
Na solenidade deste domingo na Igreja dos Reis Magos, também será lançado o Dossiê do Congo, com informações coletadas a partir de entrevistas, pesquisa de campo, levantamento histórico, fotografia e gravações de áudio, com objetivo de produzir conhecimento e documentar a história deste patrimônio imaterial. A publicação do dossiê, aponta a Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo (Secult/ES), dará aos mestres, mestras, rainhas, guardiões dos costumes e tradições e produtores da cultura congueira, “a voz e o registro de seus conhecimentos na história escrita para gerações futuras”.
Calila das Mercês em Vitória
A escritora baiana Calila das Mercês, destaque da literatura brasileira, participará da mesa redonda “Literatura, substantivo feminino”, no dia 23 de novembro, às 18h, na quadra da Unidos da Piedade, no bairro Fonte Grande, em Vitória. A atividade, aberta ao público, é promovida pelo projeto Lugares de Ler. Calila das Mercês é poeta, jornalista, pesquisadora e doutora em Literatura pela Universidade de Brasília. Planta Oração, seu primeiro livro de contos, foi indicado para o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira. Neste ano, a escritora fez parte da programação oficial da Festa Literária de Paraty (RJ).
Questões de gênero
O evento com Calila das Mercês será uma mesa-redonda com a escritora e um mediador, que conduzirá a conversa explorando as várias faces de como as questões de gênero provocam o estado consolidado da literatura nacional. Além disso, será debatido como essas questões têm provocado mudanças no sistema literário.
Debate e lançamento de livro
A escritora e gestora cultural Karlili Trindade participa de um debate sobre o mundo do trabalho na cultura e os desafios para a produção cultural na próxima terça-feira (5), às 19h, no Sesc Glória, no Centro de Vitória. Na ocasião, ela também lançará o livro Produção Cultural – Guia de Bolso. A obra traz debates como o que é cultura, o trabalho nessa área, estrutura institucional, Sistema Nacional de Cultura, leis, e passo a passo para construir e produzir projetos culturais. O livro será vendido durante o evento, por R$ 30,00. Para participar da atividade, basta retirar o ingresso gratuitamente neste link.
Lei João Bananeira
A Prefeitura de Cariacica lançou, nessa quarta-feira (30), o edital da Lei João Bananeira. Uma boa notícia, tendo em vista que em 2023 o edital foi publicado, porém, cancelado. Por causa disso, os artistas do município ficaram, pela primeira vez, sem acesso a essa política desde que foi criada. Este ano, a João Bananeira traz mudanças importantes, como a categoria Meu Primeiro Edital, voltada para artistas que ainda não foram contemplados pela lei de incentivo à cultura. As inscrições podem ser feitas neste link.
Até a próxima coluna!
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