Na Flórida, com muito mar e portos modernos, os cruzeiros são uma atração à parte
Meu pai sonhava com o mar, e vivia planejando uma viagem de navio que não aconteceu. Minha mãe detestava viagens. Para ir de Vitória a Vila Velha precisava de alguns comprimidos de dramamine… imagina em um navio! Isso em um tempo em que os cruzeiros marítimos eram caros e escassos, privilégios da elite.
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Não mais. Os navios modernos são verdadeiras cidades flutuantes que cruzam os sete mares com a mesma frequência dos aviões nos sete céus. Tem muita gente que vai uma vez e jura que nunca mais. A maioria, porém, faz desses cruzeiros seu esporte favorito. Na florida Flórida, com muito mar e portos modernos, os cruzeiros são uma atração à parte.
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Nesse princípio de novembro, meu grupo familiar de 20 pessoas embarcou em um cruzeiro de quatro dias pelo mar azul turquesa do Caribe, no gigantesco Allure of the Sea – Encantos do mar. E encantos não faltaram para os 6.780 passageiros, atendidos por uma equipe de 2.200 tripulantes. A cidade de Muniz-Freire, onde nasci, tem 10.000 habitantes. Se todos resolvessem embarcar nesse gigante, apenas mil ficariam de fora.
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Em uma área tão restrita e densamente povoada, podemos perceber as constantes migrações sociais – em outro cruzeiro que naveguei, há dois anos, a maioria dos atendentes era originária das pequenas nações caribenhas por onde os cruzeiros transitam. No Allures, no entanto, a grande maioria era de asiáticos, mais exatamente, de Bali.
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O Caribe é formado por 7 mil ilhas, sendo as maiores Cuba, Porto Rico e República Dominicana; outras tão pequenas como nossa Ilha do Frade. E são essas miniaturas que atraem os dólares das empresas de cruzeiros: compram essas ilhas que passam a ser território americano. A Royal Caribe, proprietária do Allures, investiu 31 bilhões nessa nova onda – nosso dia em terra firme foi na Coco Cay, uma pequena ilha com seis praias paradisíacas, e inúmeras atrações em terra e no mar para passageiro nenhum dormir na rede. Muitos coqueiros, mas nenhum vendedor de água de coco.
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Os humanos foram sempre atraídos pela vasta extensão aquática que nos rodeia: os sete mares, os sete oceanos. Mas toda essa água é parte de um único oceano que cobre 71% do globo que chamamos terra, e onde os navios de cruzeiros acharam seu filão de ouro. Arthur C. Clarke disse: “Quão inapropriado chamar Terra a este planeta, quando é evidente que deveria chamar-se Oceano.” Quando o aquecimento global inundar a superfície terrestre, viveremos em transatlânticos e transpacíficos.