Terceira edição do evento reuniu mais de 3 mil pessoas em Aracruz
Reunindo quase 500 atletas e mais de 3 mil pessoas ao longo de três dias, a terceira edição dos Jogos Tradicionais Indígenas ocorreu no último fim de semana na Aldeia de Caieiras Velha, em Aracruz, norte do Estado. Um dos idealizadores dos jogos, Jocelino Tupinikim, avaliou como um dos pontos forte desta edição o maior envolvimento de coletivos culturais locais.
“As comunidades fecharam grupos para poder participar com uma força maior. Foi um evento tranquilo, super família, um momento de rever amigos e parentes, e também de receber visitantes de fora”, destacou. O local que recebeu as atividades foi o Complexo Educacional, Cultural, Esportivo e Recreativo da Comunidade de Caieiras Velha, que se consolida como um espaço multiuso capaz de receber este e outros eventos com uma estrutura ampla, que ainda deve ser aprimorada ao longo do tempo.
Além das competições nas diferentes categorias e modalidades, a programação dos Jogos Tradicionais Indígenas teve desfile de moda, apresentações culturais, exibição de vídeos, shows e feiras de artesanato e gastronomia. “O evento busca valorizar os artesãos e produtores locais, que podem mostrar suas habilidades artísticas e movimentar essa economia criativa com peças artesanais como roupas, colares, cocares e grafismos. Foi uma oportunidade de geração de renda e economia local”. Além disso, quase toda equipe que trabalhou no evento na produção, estrutura, cozinha, montagem, curadoria, foi formada por moradores das próprias comunidades indígenas.
Ao todo, foram sete modalidades em disputa: arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força, corrida com tora, corrida livre, luta corporal e zarabatana ao alvo. Para o próximo ano, a comissão organizadora vai analisar a inclusão de novas modalidades, conforme pedidos que chegaram durante o evento. O regimento dos jogos também será enviado para todos os grupos e comunidades para que possam enviar sugestões de alterações para edições futuras.
Uma lei de autoria da deputada Iriny Lopes (PT), aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Renato Casagrande (PSB), prevê que os jogos aconteçam a nível estadual a cada dois anos. Uma lei municipal do vereador Vilson Jaguareté (PT), prevê edições municipais entre elas. Neste ano participaram comunidades das etnias Tupinikim e Guarani de Aracruz, além de atletas da etnia Pataxó, embora sejam residentes no território indígena Tupinikim e Guarani. Para os jogos estaduais, a expectativa é que possam vir indígenas de municípios como Anchieta, no sul, e Conceição da Barra e Linhares, também na região norte, que ainda lutam pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais.
“Sempre tivemos a preocupação de formar coletivos e fortalecer os jogos dentro dos territórios, com a necessidade de formar equipe de treinamento durante o ano”, afirma Jocelino. Neste ano, um coletivo de jovens, o Taba Oiepengatu, realizou uma jornada de treinamentos no mês que antecedeu o evento, com formações em todas aldeias da região. A ideia é que essas atividades possam se ampliar e se estender ao longo do ano.
Para ele, é possível vislumbrar o crescimento dos jogos e das modalidades e até sonhar que atletas de alto rendimento surjam a partir das aldeias para disputar esportes olímpicos similares às modalidades praticadas nos Jogos Tradicionais Indígenas, como é caso do arco e flecha, arremesso de dardos, judô, e atletismo.
A médio prazo, o Instituto Cocar, que realiza os jogos em parceria com associações indígenas e o poder público, pretende que os jogos aconteçam também com estudantes a nível municipal e estadual, além de sonhar com uma edição regional, que poderia reunir cerca de 18 etnias trazendo competidores e comunidades de estados próximos como Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Jocelino Tupinikim ressalta que os jogos também são uma forma de fortalecer as comunidades na luta por seus direitos, que estão ameaçados. “Temos uma bancada ruralista que se instalou no Congresso Nacional e está ameaçando rasgar a Constituição, que está contra os direitos dos povos originários, apoiando teses como a do Marco Temporal. Ninguém sai de seu espaço de origem sem motivações, e sim por conta da dor, ameaças, tristezas, coisas que vão acontecendo ao longo do tempo. Esperamos que os jogos contribuam também trazendo essas reflexões”.
Ele acredita ser importante que cada vez mais as pessoas conheçam a existência do evento e que saibam que podem participar, com suas famílias, para ter contato com os povos indígenas e conhecer suas verdadeiras histórias. “É um espaço familiar. Existe sim competição, mas também muitos momentos de brincadeira e descontração”
Confira a lista dos campeões e as aldeias que representam:
Arco e flecha
Masculino
1° lugar – Alex “Gambá” (Caieiras Velha)
2° lugar – João Francisco (Caieiras Velha)
Feminino
1° lugar – Mariane Marques (Irajá)
2° lugar – Karine Francisco (Pau Brasil)
Arremesso de Lança
Masculino
1° lugar – Iran Santana (Caieiras Velha)
2° lugar – Thalis Pajehú (Caieiras Velha)
Feminino
1° lugar – Micaela Oliveira (Caieiras Velha)
2° lugar – Paula Oliveira (Caieiras Velha)
Corrida com Tora
Masculino
1° lugar – Iran Santana (Caieiras Velha)
2° lugar – Alejandro (Pau Brasil)
Feminino
1° lugar – Camila Sebastião (Boa Esperança)
2° lugar – Júlia Benedito (Irajá)
Cabo de força
Masculino
1° lugar – Equipe Caeiras Velha
2° lugar – Equipe Aldeia Irajá
Feminino
1° lugar – Equipe Kunhãguarinin (Caieiras Velha)
2° lugar – Equipe Ybymembyra (Caieiras Velha)
Luta Corporal
Masculino 17 a 25 anos
1° lugar – João Francisco (Caieiras Velha)
2° lugar – Iran Santana (Caieiras Velha)
Masculino 26 +
1° lugar – Kenald Pereira – (Caieiras Velha)
2° lugar – Juenilson (Pau Brasil)
Feminina 26+
1° lugar – Keidiane Ramos – (Caieiras Velha)
Corrida Livre
Masculino
1° lugar – Jhon Adryan (Caieiras Velha)
2° lugar – Alexandro (Pau Brasil)
Feminino
1° lugar – Isis Santana (Caieiras Velha)
2° lugar – Camili Souza (Irajá)
Zarabatana ao alvo
Feminino
1° lugar – Dalila Matos (Caieiras Velha)
2° lugar – Mosane (Caieiras Velha)
Masculino
1° lugar – Fábio Quiezza (Caieiras Velha)
2° lugar – Alex “Gambá” (Caieiras Velha)