Funcionário e acionista minoritário denuncia “transferência abusiva”
O operador de Estação de Tratamento de Água (ETA) Adailson Freire, funcionário com 43 anos de história na Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) e acionista minoritário da empresa, denuncia ter sido transferido de maneira “arbitrária” após questionar a gestão durante uma assembleia no último dia 6.
Poucas horas após a reunião em que protocolou um documento endereçado ao Conselho de Administração, solicitando esclarecimentos sobre investimentos e prioridades financeiras da gestão, ele relata que foi aberto um processo interno para transferir o funcionário de sua função original na ETA 5, em Carapina, na Serra, onde trabalhava desde 1982, para uma vaga na Estação de Cobilândia, em Vila Velha.
De acordo com a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sindaema), Wanusa Santos, a vaga foi criada especificamente para desviar Adailson de suas atividades habituais. O local de trabalho em Cobilândia, conforme descrito pela representante sindical e pelo funcionário, possui condições inadequadas e improvisadas, não sendo compatível com a função de operador de ETA.
Além de apontar descumprimento de normas trabalhistas previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e procedimentos internos da companhia, Adailson considera a transferência uma retaliação pela sua postura crítica. “Estou sendo penalizado por questionar a gestão da Cesan. Isso é um recado para outros trabalhadores que também possam querer manifestar suas preocupações sobre as práticas atuais”, ressaltou.
A transferência gerou uma redução salarial para o empregado, que perdeu benefícios como adicional noturno e horas extras devido à mudança de escala. Segundo o funcionário, a medida coloca em risco a eficiência da segunda estação de tratamento do Estado, em Carapina, especialmente em períodos críticos de alto consumo. “Eles vão gastar muito mais com hora extra para cobrir a minha ausência, além de penalizar outros trabalhadores com jornadas excessivas”, explicou.
A diretora do Sindaema reitera que a decisão agravou a sobrecarga da equipe da ETA 5, que já enfrenta déficit de operadores devido à falta de reposição por concurso público. Ela destaca a necessidade de garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores e prevenir futuras represálias contra a liberdade de expressão.
“É uma perseguição clara por ele ter exercido seu direito de questionar a gestão. Enquanto a Cesan enfrenta problemas graves de falta de operadores, optam por transferir um funcionário experiente para uma função inadequada, causando sobrecarga na equipe que já está no limite”, criticou.
Diante do ocorrido, o sindicato e o trabalhador estão tomando medidas administrativas e judiciais para reverter a transferência. O Sindaema moverá uma ação trabalhista para questionar a legalidade da mudança de função, uma ação por danos morais devido à “situação vexatória a qual o funcionário foi submetido”, além de notificar o Ministério Público do Trabalho (MPT), pois a transferência sem consentimento fere direitos trabalhistas.
Adailton acredita que o episódio possa desencadear um movimento mais amplo de denúncias entre outros trabalhadores. “O que está acontecendo comigo não é isolado. Transferências arbitrárias têm se tornado rotina, e isso afeta a confiança e a moral de toda a categoria”, alertou.