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Devotos celebram São Benedito no Centro de Vitória

Mais: história do festejo; e devoção também em Goiabeiras, Fundão, Serra e Vila Velha

A tradicional Festa de São Benedito do Centro de Vitória acontecerá na próxima sexta-feira (27). A programação começa às 10h, com uma missa solene presidida pelo padre José Pedro Luchi, na Igreja de São Benedito. Na parte da tarde, às 17h, haverá concentração na Igreja do Rosário para ocupar as ruas do Centro, seguindo rumo à Catedral Metropolitana de Vitória, onde haverá uma missa.

Gabriel Lordello

A festa é organizada pela Irmandade de São Benedito do Rosário. A Igreja do Rosário se tornou ponto de referência para a festividade no século XIX após o inusitado roubo da imagem de São Benedito, que ficava no Convento de São Francisco, na Cidade Alta. A situação dividiu a cidade em dois grupos rivais durante décadas e até deu origem a uma suposta rivalidade entre São Francisco e São Benedito, que hoje já fizeram as pazes.

Que história é essa?

O integrante da Irmandade, historiador e presidente da Associação dos Moradores do Centro (Amacentro), Wallace Bonicenha, relata que a devoção a São Benedito era no Convento de São Francisco, protagonizada pelos escravizados. Como o santo traz em seus braços o Menino Deus, os festejos eram feitos em dezembro em alusão ao nascimento de Jesus. No entanto, em 1832, o guardião do Convento de São Francisco impediu a saída da procissão, que já tinha mais de 100 anos. Além disso, retirou a imagem do altar.

Confusão instaurada

Fabiano Mazzini

A Irmandade do Convento de São Francisco, que se chamava Irmandade de São Benedito, passou por um racha. Alguns eram favoráveis à atitude do guardião, outros não. Com a troca de guardião, ainda assim o retorno da procissão não foi autorizado, nem a volta da imagem ao altar. Ela foi roubada em 1833, e levada para a Igreja do Rosário, construída pelos escravizados e onde tinha a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Lá, foi recebida com fogos e foi formada uma guarda de honra para que a imagem não fosse retirada. Surge, então, a Irmandade de São Benedito do Rosário.

Peroás x Caramurus

A Irmandade situada no Convento de São Francisco até solicitou a devolução da imagem, mas o delegado, segundo Wallace, deu ganho de causa para os negros da Igreja do Rosário, pois “foram ultrajados em sua devoção”. A rivalidade acabou fazendo surgir dois grupos: os Caramurus, ligados ao Convento de São Francisco, e os Peroás, da Igreja do Rosário. Ambos apelidos são pejorativos. Wallace explica que Caramuru, que, inclusive, dá nome ao viaduto próximo ao Parque Moscoso, era o nome de um partido que queria a volta do Brasil à condição de colônia. Já Peroá é um peixe que, na época, era considerado de pouco valor.

Ano dividido

Wallace relata que o ano acabou sendo dividido em dois. De 1º a 30 de junho, os Caramurus ficariam com o direito de fazer a Festa de São Benedito. De 1º de julho a 30 de dezembro, era a vez dos Peroás, que mantiveram consigo a imagem. Assim, cada grupo tentava fazer uma festa melhor do que a do outro, surgindo as filarmônicas, que são as bandas que acompanham a procissão. Havia registro de violência entre ambos, inclusive, com quebra de instrumentos musicais da filarmônica oposta.

Sem procissão

Diante disso, as procissões foram impedidas de sair no início do século XX. Wallace destaca que o caráter popular dos festejos também motivou o impedimento. O retorno foi somente na década de 40. Contudo, não podia existir duas procissões em homenagem ao mesmo santo. Por isso, o Convento de São Francisco criou a de Santo Antônio dos Pobres, que não vingou. Wallace avalia toda essa história como “uma insurreição em que os escravizados venceram”, já que a imagem permanece até hoje na Igreja do Rosário, a festa está cada vez mais forte e o roubo se deu em rejeição ao autoritarismo do guardião do Convento de São Francisco.

Paz selada

Fabiano Mazzini

Wallace narra que no período de cisão dos devotos entre Caramurus e Peroás, quando a imagem de São Benedito passava em frente ao Convento de São Francisco, ela ficava de costas para o templo, simbolizando que os santos “estavam de mal”. Hoje, com a paz selada, São Benedito faz saudação a São Francisco. A devoção a São Benedito no Centro de Vitória é uma das mais antigas do Brasil, já que, segundo Wallace, teve início antes mesmo dele ser canonizado, quando ainda era beato.

Festejo em Goiabeiras

Divulgação

Em Vitória, a devoção a São Benedito ocorre também no bairro Goiabeiras. Na quarta-feira (25), Natal, acontecerão, a partir das 17h, a puxada e fincada do mastro. Ao som das bandas de congo, os devotos irão às ruas com estandartes dos santos. A Festa é dividida em três momentos. O primeiro aconteceu em 8 de dezembro, com a cortada simbólica do mastro. O segundo é o do dia 25. O último é a retirada do mastro, marcada para 2025, no Domingo de Páscoa.

Devoção também em Fundão

São Benedito também é festejado em outros municípios do Espírito Santo. Em Timbuí, Fundão, ele é reverenciado junto com São Sebastião. A festa teve início no dia 8 de dezembro, com a Cortada do Mastro, mas há muita coisa pela frente ainda. Na segunda-feira (30), acontecerá a Visita à Bandeira, seguida pela Puxada do Navio, no dia 31, e pelo Encontro Regional de Bandas de Congo e Fincada do Mastro, no dia 1º de janeiro, em frente à Igreja de Nossa Senhora da Penha. Os festejos continuam em Três Barras, no dia 23 de fevereiro, com a Fincada do Mastro. Serão encerrados em maio, com a derrubada dos mastros em Timbuí, Fundão Sede e Três Barras. 

Festa em Serra Sede

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PMS

Ali pertinho de Fundão, na Serra, mais precisamente em Serra Sede, os festejos em homenagem a São Benedito já começaram, mas ainda há muito para aproveitar. Neste sábado acontece o desfile das bandas de Congo Mirim. A concentração dos grupos será às 18 horas, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Serra Sede, na Avenida Getúlio Vargas. As bandas de congo mirim presentes serão São Benedito, de Santiago; São Benedito Santo Antônio de Pádua, de São Domingos; São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, de Pitanga; São Benedito e São Sebastião, de Nova Almeida; Konshacinha, de Serra Sede; Santo Antônio de Pádua, de Bicanga; São Pedro, de Jacaraípe; e Banda de Congo Mirim de Timbuí.

Festa em Serra Sede II

A programação retorna nesta terça-feira (24), bem cedo, às 5h, com a Alvorada de Natal, da qual participarão a banda de congo Konschaça e a banda Estrela dos Artistas. No fim do dia, às 20 horas, ocorre a Missa de Natal na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. No dia de Natal, a programação começa às 8 horas, com outra Missa de Natal. Às 18 horas, ocorre a procissão de Natal e de São Benedito com saída e retorno na Igreja Matriz. Logo depois da procissão, ocorre a Puxada do Navio Palermo, com bandas de congo e a banda Estrela dos Artistas. A programação se encerra com show da banda Blacksete.

Festa em Serra Sede III

Nesta quarta-feira (26), a programação começa às 9h, com a Missa do Serrano, na Igreja Matriz. A partir das 11h, será realizada uma solenidade na Câmara Municipal com a transferência da capital do Espírito Santo para a Serra. A partir das 18h30, acontece a Puxada do Mastro, percorrendo diversas ruas do centro da Serra. A Fincada do Mastro, com show pirotécnico, tem início às 21h, na frente da Igreja Matriz. Em seguida, acontecerão os shows de Forró Bem Te Vi e João Neto e Frederico. No sábado (27), último dia de evento, haverá desfile das bandas de congo, às 19 horas. Depois, a partir das 21h30, acontece o show com Júnior Ávila.

Congo na Barra do Jucu

Divulgação

Em Vila Velha, neste domingo (22), a Banda de Congo Raízes da Barra abre o ciclo das tradicionais fincadas de mastro de São Benedito, na Barra do Jucu. A concentração será a partir das 15h, na rua Reginaldo Leão, conhecida como rua do campo do Barrense. Os congueiros irão percorrerão as ruas até chegar à praia do Barrão, onde o mastro de São Benedito será fixado até a retirada, em janeiro.

Até a próxima coluna e um feliz Natal!

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