Dandara Dias prepara espaço próximo a famoso monumento natural
A região do Monumento Natural do Itabira (Monai), na zona rural de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, passará a contar com o Espaço Cultural Afro Dandara, dedicado à arte, à educação socioambiental e à valorização da história afro-brasileira. Com capacidade para receber até 40 pessoas, o centro cultural será equipado com uma biblioteca comunitária e receberá mensalmente apresentações de artistas locais abertas ao público. As obras de adaptação do espaço estão em fase final, e a programação de estreia, a ser anunciada em breve, contará com apresentações de artistas locais e outras atividades culturais.
A inaciativa é de Dandara Dias, agente cultural, historiadora, educadora socioambiental, professora e escritora, além de vice-presidente da associação de moradores da comunidade da Pedra do Itabira. Inclusive, o espaço funcionará no terraço da casa de Dandara. “Teremos autores da região e a ideia também é incentivar a leitura e escrita dos moradores, além de oferecer apresentações artísticas”, explica.
Dandara ressalta que o objetivo é promover o letramento na comunidade, composta por cerca de 60 famílias, onde muitos não tiveram acesso à formação escolar. “Alguns moradores nunca viram uma peça teatral ou um show, então a ideia é trazer, mesmo que sejam pequenas, essas apresentações artísticas para a comunidade”, acrescenta.
A idealizadora do espaço também destaca a importância de abordar tanto o letramento racial quanto discussões sobre ecologia e sua relação com a vida das populações negras. “A intenção é movimentar a questão racial e a educação socioambiental também, por ser próximo ao Itabira, que é um monumento natural de Cachoeiro”, afirma. Essa relação se reflete, ainda, no conceito de racismo ambiental, que evidencia como grupos racializados, sobretudo pessoas negras, são desproporcionalmente impactadas por desastres naturais devido às desigualdades estruturais, acrescenta a historiadora.
A história da comunidade, originada de duas antigas fazendas escravocratas – a Fazenda Sant’Anna do Itabira e a Fazenda Maquiné -, também é carregada de simbolismos que reforçam a importância do centro cultural voltado ao letramento racial e educação ambiental, reforça a idealizadora. Vestígios dessa época ainda estão presentes, desde objetos deixados por escravizados até lendas locais, como a da Bola de Fogo, que alimentam a memória coletiva da comunidade. “Temos muitos traços e objetos de passagem de escravizados na comunidade, o que contribuiu para promover essa temática aqui”, considera.
Com o Centro Cultural Afro Dandara, a idealizadora espera transformar o lugar onde vive em um polo de resistência e valorização cultural da comunidade itabirense. A ideia surgiu após visitar espaços culturais privados no centro de Cachoeiro de Itapemirim. “Analisando esses espaços, percebi que eram iniciativas privadas que conseguem promover a arte mesmo diante da fragilidade dos equipamentos culturais públicos do município”, comenta.
Atualmente, Cachoeiro não possui um teatro público em funcionamento, destaca Dandara, já que o principal teatro da cidade foi desativado após danos causados por uma enchente em 2020, e até hoje não tem previsão de reativação. A situação a motivou a levar a experiência de centros culturais para sua própria comunidade, de modo a oferecer acesso à arte e cultura de forma inclusiva.
Rota Afro
O centro cultural integrará a Rota Afro, uma iniciativa turística que integra o programa nacional Rotas Negras. Desenvolvido pela Secretaria de Estado do Turismo (Setur), o projeto busca valorizar a história, memória e cultura afro-brasileira, conectando locais históricos, como quilombos e comunidades de terreiro. “É o único centro cultural que vai trabalhar com a temática afro-brasileira na região”, destaca Dandara. O objetivo é gerar empregos, fortalecer a economia local e ampliar a representação negra no setor turístico.
Essa rota terá como um dos pilares a promoção do afroturismo, que valoriza a contribuição dos negros na formação da sociedade brasileira, com a colaboração de diversos ministérios e entidades, como o Ministério da Igualdade Racial e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O objetivo é preservar a história oral e os espaços de memória das comunidades negras.
Mais projetos
Dandara também é responsável por outros projetos de impacto cultural na região, como o podcast “Dandara Vive em Mim”, que amplifica as vozes de mulheres negras capixabas, e o documentário “História Que Meus Avós Contavam”, que apresenta casos de moradores do Itabira, ambos disponíveis no canal da agente cultural no Youtube.
Ainda neste ano, ela iniciará o projeto Kitanda Cultural, que promoverá apresentações artísticas em periferias de Cachoeiro.