Campanha do Diretório de Estudantes começou nesta semana, com eleição em março
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A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) se prepara para uma nova eleição do Diretório Central dos Estudantes (DCE), marcada por uma disputa entre dois grupos com visões distintas sobre o modelo de atuação representativa. A campanha eleitoral teve início nessa segunda-feira (11), e a votação ocorrerá nos dias 11 e 12 de março. Duas chapas concorrem: a primeira, “Pra Fazer Valer” – parte dos integrantes apoiou a gestão eleita de Eustáquio de Castro e Sonia Lopes -, e a de número 2, “Na Luta é Que a Gente Se Encontra”, que apoiou as candidaturas concorrentes, de Edinete Maria Rosa e Maria Lúcia Teixeira Garcia.
Composta por membros do Levante Popular da Juventude, União da Juventude do PT (JPT) e Movimento Participa (ligado a JSB, juventude do PSB), a “Chapa 1” tem 371 inscritos, e busca dar continuidade às pautas da atual gestão do DCE, defendendo avanços por meio do diálogo institucional, a partir dos canais estabelecidos com a Reitoria.
Já a “Chapa 2”, com 116 inscritos, que se define como oposição e reúne movimentos como Fogo do Pavio (juventude do MTST e Brigadas Populares, ligada ao Psol), Juventude Comunista (UJC, do PCB) e Movimento Correnteza (UP), critica o que chama de “passividade” da atual gestão do DCE. O grupo se coloca como uma alternativa mais combativa, defendendo a necessidade de uma mobilização em favor das pautas estudantis com participação direta, por meio de assembleias e retomada de atos de rua.
“Durante a greve de professores e técnicos, o DCE deveria ter colocado os estudantes no centro das decisões, mobilizando não só os centros acadêmicos, mas também fomentando entidades de base”, afirma Letícia Sá, estudante de Direito e representante da “Chapa 2”, destacando ainda que o DCE deve adotar uma postura mais crítica em relação aos governos federal e estadual. O programa da chapa traz uma abordagem de enfrentamento direto à Reitoria, como na ocupação de 2023 em defesa da gratuidade do Restaurante Universitário (RU). “Estamos sob ameaça do aumento do preço e tem um RU que não é climatizado, superlotado, e que não garante acessibilidade a pessoas com deficiência”, critica Letícia.
A ameaça a qual Letícia se refere está relacionada à possibilidade de que a mudança no formato de subsídio das refeições impacte significativamente os estudantes que hoje dependem da gratuidade ou de descontos para se alimentar nos RUs. Caso a proposta seja aprovada, estudantes que possuem renda familiar acima de 1,5 salário mínimo per capita perderão o acesso à gratuidade das refeições, o que poderia comprometer sua permanência na universidade.
A falta de espaços culturais e de vivência também aparece no centro dos debates. A “Chapa 2” cobra da Reitoria a finalização da reforma da sede do DCE e a ampliação da estrutura para eventos estudantis. “Outras universidades têm conchas acústicas e auditórios para a produção cultural dos estudantes. Aqui, tudo que fazemos é no sentido de ocupação”, enfatiza Letícia.
Além disso, o grupo defende a desmilitarização da universidade, argumentando que a presença da Polícia Militar tem gerado abordagens abusivas contra estudantes negros e LGBTQIA+. “Não é uma questão de segurança, e sim de vigilância. Precisamos garantir segurança de direitos, não repressão policial dentro da universidade.”
No campo concorrente, a estudante de História Lauane Gusson, da “Chapa 1”, aponta como um dos principais compromissos a garantia de que a luta estudantil abarque todos os campi da Ufes, não apenas Goiabeiras. “As realidades são muito diferentes. Por exemplo, Maruípe não tem um RU autônomo, porque as refeições são preparadas em Goiabeiras. Se acontece um problema em Goiabeiras, os dois ficam afetados.”
Ela também destacou como prioridades a luta por permanência estudantil, com ampliação das bolsas de pesquisa e extensão, a luta pela gratuidade e melhoria nutricional das refeições nos Restaurantes Universitários (RUs), e a conclusão da reforma do DCE, promessa da última gestão. “Queremos uma universidade popular, acessível a todos os estudantes, onde eles possam permanecer”, destacou.
As diferenças entre as duas chapas refletem uma divisão histórica do movimento estudantil na Ufes. “Viemos de processos muito polarizados entre esses dois grupos”, reconhece Letícia Sá. Ela avalia que o resultado da eleição definirá se o DCE continuará com uma gestão focada no diálogo institucional ou se adotará uma postura mais combativa, em que pautará mobilizações e enfrentamentos mais diretos.
As divergências de ideias serão debatidas nos campi da universidade. O primeiro evento nesse sentido será na próxima semana, em 21 de fevereiro (sexta-feira), no campus de São Mateus, norte do Estado. Em seguida, no dia 24 (segunda-feira), ocorrerá o debate no campus de Alegre, no sul. No dia 25 de fevereiro (terça-feira), acontecerão dois debates, um no campus de Maruípe e outro no campus de Goiabeiras, em Vitória.
Participação
A estudante Maria Isabel Cardoso, que integra a Comissão Eleitoral, destaca que foram pensados vários mecanismos para incentivar a participação dos estudantes no processo. Entre as iniciativas, estão a emissão de certificado para quem participar dos debates, a certificação da votação e a permissão para campanha eleitoral no dia da votação, desde que respeitada a distância mínima de 5 metros da urna. “Na pós-pandemia, houve uma desmobilização, então pensamos nessas medidas para reverter esse quadro”, explica.
Ela reforça que este é um momento essencial para os estudantes refletirem sobre a universidade e suas dificuldades. “Cada estudante precisa se organizar, identificar os problemas que dificultam sua permanência e conclusão do curso, entender o movimento dentro da Ufes e expressar isso nas urnas, para que no próximo período, o DCE represente as reais lutas e ajude na organização dos estudantes, dentro e fora da Ufes”, conclui.