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Nem sempre é Carnaval

Herezia! Já é quarta-feira de cinzas

Perdidos na memória do tempo, esquecidos por 11 meses mas sempre lembrados em fevereiro ou março, ah, que saudade dos carnavais na primorosa cidade alegrense! Nessa época eu achava que toda cidade que se prezasse tinha seu Carnaval, todos iguais aos da nossa cidadezinha dormitando entre verdejantes montanhas. O tempo rolou, rodei meio mundo, e passei muitos carnavais vendo televisão – nem mesmo um bloqinho de rua!

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Alegre tinha dois clubes: o Rio Branco, perto do Grupo Escolar Professor Lellis, onde comecei a me entender com letras e números, e o Comercial, lá atrás do Jardim Velho. Embora o Rio Branco fosse na nossa rua, a preferência era pelo Comercial, não apenas por ser mais animado, mas os bailes acabavam mais tarde. Ou mais cedo, que quando a gente saía do clube o pessoal da missa já ia subindo o morro da igreja. Chato, porque o Monsenhor Pavesi levantava o crucifixo – Herezia, já é quarta-feira de cinzas!

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Sou do tempo do lança-perfumes importado da Argentina, que no Brasil era proibido. Como era caro, poucos podiam comprar, mas a latinha passava de mão em mão, democraticamente. Não matou ninguém porque a dose era reduzida. “Lança menina, lança todo esse perfume”. Rita Lee ainda não existia, e as marchinhas de carnaval eram importadas das rádios cariocas.

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Todo mundo devidamente fantasiado, fosse de Pirata ou de Cinderela, Pierrot ou Colombina. Anos mais tarde fomos passar um carnaval na Bahia, e nos preparamos de acordo: todos devidamente fantasiados, as marchinhas de carnaval devidamente decoradas. Qual não foi o espanto, atrás do trio-elétrico iam todos de abadá, ou lá que nome tinham, e as músicas nada tinham a ver com as cantadas na Rádio Tupi. Mesmo assim, valeu.

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Oh, jardineira porque estás tão triste… cantava Orlando Silva, e a bela marchinha venceu os anos, se esticou por muitos carnavais. A Máscara Negra, tão bela quanto, e mais moderna, deu nome a uma tela escura que a gente punha na frente da TV P/B pra parecer que era a cores. Ou tremendo irradiação, sei lá. A lendária guerra entre Marlene e Emilinha deixou saudades. Hoje se sabe, as duas eram amigas, mas a guerrinha incrementava as vendas. Lata d’água na cabeça versus Chiquita Bacana.

  • No carnaval alegrense a gente sabia todas as letras de todas as marchinhas e sambinhas. A folia começava à tarde, pois crianças e adultos brincavam nos bailes ditos infantis, que ainda nos brindava com um concurso de fantasias. O irmão Zé ganhou um ano fantasiado de Aladin. Eram chamados de matinê, e ali dançavam grandes e pequenos, numa boa. Quando terminavam a gente corria para brincar no ‘bloco-sujo’, mascarados dançando pelas avenidas. Haja fôlego!

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Por fim, o baile noturno! Ah, quanta alegria! A festa só acabava no raiar do sol! As fantasias eram confeccionadas às escondidas, em quartos lacrados a sete-chaves, onde poucos podiam entrar, tecidos e lantejoulas importados de Cachoeiro para não vazar o segredo de estado. E surpresa! As duas jovens mais belas da cidade entram no salão com a mesma fantasia: Espanhola Diferente, com mantilha e castanholas! Ah, quanto choro!

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