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Ambientalistas cobram plano de recuperação do Rio Formate

Estudo que apontou impactos ambientais no rio fundamenta reivindicações

Laburp Ufes

Ambientalistas se mobilizam para cobrar a implementação de um plano de recuperação do Rio Formate, entre os municípios de Viana, Cariacica e Vila Velha, na região metropolitana, com base nos resultados preliminares de um estudo realizado pelos estudantes de Planejamento Territorial do curso de geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que realizaram uma expedição ao longo do manancial neste mês.

Entidades da área reforçam a urgência da medida, além de ações de fiscalização e controle da ocupação irregular das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), protegidas por lei, para evitar erosão, preservar a qualidade da água e garantir a biodiversidade.

Os resultados iniciais do estudo foram apresentados no seminário “Bacia do Rio Formate: diagnósticos e propostas preliminares”, realizado nessa terça-feira (25), na Ufes. Foram coletadas amostras de água em diferentes pontos do Rio Formate, incluindo áreas urbanas e industriais, para verificar a presença de metais pesados, matéria orgânica e outros poluentes. Também foi feito um levantamento sobre a cobertura vegetal nas APPs e a estabilidade das margens, utilizando técnicas de geoprocessamento e inspeção de campo.

O Rio Formate é um afluente do Rio Jucu que nasce na Reserva Biológica de Duas Bocas, na zona rural de Cariacica, a aproximadamente 600 metros de altitude, e atualmente a maior parte de sua água escoa para o Rio Marinho, devido a alterações na sua dinâmica hídrica. De acordo com as análises preliminares, os trechos iniciais do Rio Formate ainda apresentam boa qualidade da água, porém, à medida que avança pelo território urbano, essa condição se deteriora.

Entre os principais problemas ambientais enfrentados pelo manancial, estão a ausência de matas ciliares preservadas ao longo das margens, o assoreamento, e a contaminação por metais como alumínio e ferro. Um ponto crítico identificado foi a região próxima à indústria Real Café, onde os índices desses metais aumentaram significativamente, levantando suspeitas de poluição industrial.

No entanto, as análises não conseguiram comprovar diretamente a relação entre a deterioração da qualidade da água e a atividade da indústria, pois a empresa postergou qualquer conversa sobre a captação de efluentes para abril, dificultando a investigação, como aponta o representante da Associação Intermunicipal Ambiental em Defesa do Rio Formate e seus Afluentes (Asiarfa) e integrante do Observatório Capixaba das Águas e do Meio Ambiente, João Pereira Neto.

As organizações, que participaram da expedição e seminário, ressaltam ainda os impactos das atividades de extração mineral, construção de rodovias, e a expansão de empreendimentos logísticos nas proximidades. Segundo João Neto, um laudo técnico detalhado será concluído nos próximos 15 dias e encaminhado aos órgãos competentes.

As cobranças serão direcionadas às prefeituras municipais de Viana, sob gestão de Wanderson Bueno (Podemos), e Cariacica, de Euclério Sampaio (MDB), além do governador Renato Casagrande (PSB), para a execução de ações de recuperação e preservação do Rio Formate; ao Comitê de Bacia do Rio Jucu, que pode deliberar sobre medidas relacionadas à gestão dos recursos hídricos; e à Coordenação de Recursos Hídricos do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), para intensificação da fiscalização.

Para João Neto, as gestões municipais têm se mantido inertes diante da situação. “Tanto Viana quanto Cariacica não dialogam e não adotam medidas concretas para impedir a degradação. Tudo que conseguimos até agora foi por mobilização popular, e mesmo assim, as respostas das gestões são escassas”, denuncia.

O ambientalista também pressionam por uma atuação mais efetiva do Comitê da Bacia do Rio Jucu e a Coordenação de Recursos Hídricos do Iema, que deveriam atuar na fiscalização e implementação de políticas de proteção ao rio. “Há um sucateamento das instituições que deveriam garantir a gestão hídrica do Estado. O Iema não tem capacidade de atuar como deveria, devido ao desmonte que está sofrendo, e o Comitê de Bacia precisa assumir seu papel de gestão participativa e eficiente”, ressalta.

Outro ponto levantado pelas entidades é a falta de execução de um projeto de recuperação do Rio Formate, apresentado pelo governo do estado em 2015, mas que nunca saiu do papel. Um novo seminário será realizado em abril para a divulgação dos resultados completos do estudo, onde serão apresentados dados mais detalhados sobre a qualidade da água e as propostas de ações efetivas para a recuperação do manancial.

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