Jovanna Baby, ícone do movimento trans no Brasil, marcará presença no evento
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Os resultados da pesquisa “Travestilidades Negras: Movimento Social, Ativismo e Políticas Públicas”, do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), serão apresentados em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, no próximo dia 10 de março. Jovanna Baby, figura histórica do movimento trans brasileiro e fundadora do Fonatrans, será a responsável pela apresentação.
O evento acontecerá no Palácio Bernardino Monteiro, que fica na Praça Jerônimo Monteiro, no Centro da cidade. Às 18h, haverá apresentação com a artista afro Agatha Benks e uma roda de conversa com movimentos sociais. A apresentação da pesquisa será logo em seguida, a partir das 20h.
“Sempre tivemos a vontade de fazer alguma atividade em Cachoeiro, por se tratar de uma das grandes cidades do Espírito Santo localizadas no interior. A gente precisa interiorizar as ações de formação e informação acerca desse segmento populacional tão abandonado e deixado à margem. Há uma participação bem constante de pessoas trans de Cachoeiro nas atividades executadas na Capital, então eu entendo que nós precisamos prestigiar essas pessoas que costumam se deslocar de suas cidades”, comenta Jovanna Baby.
Lançada no fim de janeiro, a pesquisa sobre travestilidades negras é uma iniciativa inédita sobre o tema no Brasil. Os dados se baseiam nas respostas a questionários online divulgados por movimentos sociais. No total, foram obtidas respostas de 395 pessoas (entre travestis, transexuais, homens trans, transmasculinos e não bináries) de 170 cidades dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. Do Espírito Santo, foram registrados respondentes de Vitória; São Mateus e Linhares, no litoral norte; e Colatina, no noroeste.
Os resultados apresentam um panorama da situação das pessoas trans negras no Brasil. No que diz respeito ao emprego e renda, 54,74% disseram não possuir emprego formal, sendo que 15,2% das que estão na informalidade atuam na prostituição. Apenas 6% declaram renda acima de dois salários mínimos, e 41% disseram ganhar menos que um salário mínimo mensal – atualmente fixado em R$ 1.518 no Brasil.
No quesito educação, 35,65% possuem ensino médio completo, e 61,74% não estudam mais. Os motivos citados para abandonar os estudos incluem dificuldades financeiras (52,07%), transfobia (28,79%) e transfobia e racismo (6,21%). No que diz repeito a saúde, 80% confirmaram buscar atendimento em unidade de saúde com frequência, e quem assinalou a opção negativa apontou transfobia e mau atendimento como empecilhos.
Das situações de violência vivenciadas, foram citados racismo e transfobia (70,14%), além de transfobia (24,12%) e racismo (5,74%) individualmente. Outro dado importante é que 58% declaram ter o nome civil retificado. Entre quem não retificou, 32% disseram não possuir recursos para o procedimento e 10% não quiseram ou não tiveram tempo.
Em relação ao acesso a políticas públicas, 67% disseram não ter acesso a programa social como bolsa família, e 40% informaram também não terem acessado nenhuma política específica para a população trans.
A avaliação sobre políticas públicas para população trans apontou que: necessitam de melhorias urgentes (21%); são pouco acessíveis (19%); são pouco eficazes na prática (19%); falta suporte adequado (15%); são insuficientes (14%); são boas (7%); falta alocação adequada de recursos (5%). Entre as indicações do que o Estado pode fazer para melhorar: educação de qualidade (32%); respeito institucional (17%); e formação profissional (16%).
O estudo também indicou propostas de melhorias das políticas públicas, incluindo: reconhecimento de violências pelo Estado; aplicação de políticas afirmativas; gratuidade na retificação do registro civil; inclusão de identidade de gênero e orientação sexual no Censo do IBGE; acesso à saúde integral; educação inclusiva e não discriminatória; e mercado de trabalho inclusivo.
Serviço
Seminário de lançamento do relatório da pesquisa sobre travestilidades negras
Quando: 10/3
Onde: Palácio Bernardino Monteiro (Praça Jerônimo Monteiro, Centro, Cachoeiro de Itapemirim)
Programação: 18h – roda de conversa sobre histórico da luta trans no Brasil; 20h – lançamento do relatório da pesquisa sobre travestilidades negras
Realização: Fonatrans e Unegro-ES