Epidemiologista deixa Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente e volta para a Ufes
A epidemiologista Ethel Maciel anunciou seu pedido de exoneração da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde, que comandava desde 2023, quando o presidente Lula (PT) iniciou seu terceiro mandato. Agora ela retorna para a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), instituição de ensino da qual integra o corpo docente.

O anúncio, feito por Ethel nas redes sociais, já era esperado diante da exoneração da ministra Nísia Trindade, em fevereiro último, que foi substituída por Alexandre Padilha. “Quando a ministra Nísia me convidou para o desafio de assumir a SVSA, senti-me honrada e reconhecida. Não era filiada a nenhum partido (e ainda não sou) e nunca havia almejado um cargo de tanta responsabilidade”, recordou.
Ethel acrescentou que “quando não fui nomeada reitora da Ufes, apesar de ter sido eleita, fiquei com um sentimento que podia fazer algo a mais pelo país; mas havia sido impedida devido ao machismo e a articulações de bastidores. Aceitei o convite para o Ministério da Saúde com esse sentimento”, diz, recordando quando foi a mais votada na consulta à comunidade acadêmica, mas foi preterida pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), que escolheu outro nome da lista tríplice que nem sequer tinha sido candidato à Reitoria: Paulo Vargas.
Ethel disse, ainda, que “nesses dois últimos anos, acredito que tenha realizado mais do que esperava, e deixado muitos avanços, cujos resultados serão vistos a curto, médio e longo prazo na melhoria da saúde e qualidade de vida da população”.
A epidemiologista recordou diversas ações feitas nos últimos dois anos. “Vou agradecer e me orgulhar para sempre de todas e todos que nos ajudaram na recuperação das coberturas de praticamente todas as vacinas; nas ações de emergência junto aos yanomami, nas enchentes no sul do país e das mudanças climáticas; no enfrentamento à dengue; no combate à desinformação; na atenção às doenças negligenciadas e na saúde dos trabalhadores; e ainda em iniciativas como o Brasil Saudável, com foco nas doenças que atingem à população mais pobre; o Uma Só Saúde, que muda a forma de pensar a integração humanos, natureza e mundo animal; e, sobretudo, por ter trazido para a alta gestão todas as reflexões de décadas atuando na pesquisa epidemiológica”, disse.
Pandemia
Ethel ganhou uma grande projeção durante a pandemia da Covid-19. Por isso, a possibilidade de sua nomeação na SVSA já era comentada nos bastidores. Ela chegou a integrar, em 2020, o corpo técnico da Sala de Situação para o coronavírus do governo do Espírito Santo no início da crise sanitária e também a equipe do Plano Nacional de Vacinação contra Covid-19, tendo decidido sair quando percebeu o estelionato por parte do governo federal.
Durante todo o tempo, defendeu o fortalecimento da atenção primária e se posicionou contrária à postura negacionista do governo Bolsonaro. Em março de 2021, Ethel apontou o equívoco da estratégia de abrir leitos esperando as pessoas chegarem doentes. Isso aconteceu após declarações atribuídas à “cúpula do Ministério da Saúde” em reportagem publicada no jornal Valor Econômico, dando conta de que o governo federal estimava que, ainda naquele mês, o Brasil atingiria picos de mais de três mil mortes diárias pela Covid-19. Segundo a reportagem, o alto escalão da pasta de Saúde do governo federal entendia que a única coisa a fazer diante dessa tragédia era abrir mais leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e enfermaria.
Apesar de ter declarado apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) em 2022, durante a pandemia Ethel não poupou críticas a ações do governo estadual quando as considerava equivocadas, como no início desse mesmo ano, quando reforçou a posição a favor da vacinação infantil antes do retorno às aulas diante da afirmação do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, de que não era necessário aguardar a conclusão da vacinação das crianças de cinco a onze anos para o início do ano letivo de 2022.
Trajetória
Graduada em Enfermagem pela Ufes, Ethel se apaixonou pela pesquisa e seguiu se especializando na área de epidemiologia. Realizou o doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e, na universidade referência mundial nos estudos epidemiológicos, a Johns Hopkins University (EUA), concluiu o pós-doutorado. Foi presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, cargo que deixou para assumir a SVSA, e vice-reitora da Ufes na gestão de Reinaldo Centoducatte.
Ethel é mãe de três filhos. Uma característica que pode ser desconhecida para a maioria em relação à personalidade pública da Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde é sua paixão pelo balé. A dança clássica foi sua primeira profissão. Aos 17 anos dava aulas de balé na sua cidade natal, Baixo Guandu, no noroeste do Estado.
Outro trabalho envolve a causa das mulheres na ciência, sendo, inclusive, autora do livro Mulher na Ciência – Lutar e existir em tempos de pandemia, lançado em setembro último. A obra apresenta, na primeira parte, textos inéditos produzidos pela autora durante quase dois anos, entre fevereiro de 2020 e dezembro de 2021, e uma coletânea de artigos publicados no jornal A Gazeta. Na segunda parte, escritos também exclusivos de amigos e colegas mais próximos, sobre o trabalho de orientação de políticas públicas para o combate ao vírus, realizado em âmbito estadual e nacional.