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O inferno de Trump (final)

O caos diplomático como política de hegemonia

Trump tanto é a voz como joga para esta América branca, racista, xenófoba, e que ainda tem o fetiche do Destino Manifesto e do ineditismo norte-americano como um lugar especial, do país mais poderoso do mundo, de uma hegemonia perene.

E no caso da Europa ocidental, a ruptura é grave, tendo no centro do problema a questão ucraniana, com hipócritas como o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, que pede a renúncia de Zelensky, presidente ucraniano que a esta altura já acusou o golpe e admitiu a proposta trumpista, após a suspensão da ajuda militar norte-americana.

Este acordo de paz de fancaria, uma “pax americana”, é na verdade um arrego do governo de Zelensky, que tem tudo para retalhar a Ucrânia para os interesses dos Estados Unidos, na exploração dos metais de terras raras, para a produção de material tecnológico, ligas, chips e etc. Mais uma vez, é a América grande de novo, e a América em primeiro lugar.

O rompimento com a Europa ocidental, por sua vez, representa o aspecto mais profundo e impactante desta guinada geopolítica norte-americana, trumpista, encerrando um paradigma que surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, e que é um mergulho no escuro, pois os efeitos do fim da Otan, do racha do Ocidente ao meio, produz uma instabilidade política, comercial, econômica, que pode ter reflexos até em acordos ambientais e climáticos, dificultando o diálogo entre as nações, num mundo novo e pior, depois de ter almejado um mercado globalizado, de trocas comerciais racionais e de crescimento econômico mundial.

Donald Trump move as peças do jogo geopolítico segundo determinações e interesses próprios, privativos aos Estados Unidos. Ao menos é o que Trump acredita, que é o de estar impondo, a ferro e fogo, a hegemonia do Tio Sam. É o Big Stick na versão de tarifaços e gestos surreais contra o Canadá, em anúncios de anexação inauditas.

No caso de Trump, tais anúncios não são bravatas, mas uma carta de intenções, pois é tudo real no discurso mão dura trumpista. Os casos citados ainda se somam à ideia de um resort em Gaza, que é nada mais que a proposta de uma limpeza étnica, criando um balneário de ricaços, que pode virar um parque de criminalidade financeira e sexual.

A aliança com Benjamin Netanyahu, por sua vez, tem como objetivo a reafirmação da guinada sionista de extrema direita em Israel, que é um dos poucos países do mundo com bombas nucleares, e que representa um eixo norte-americano dentro do mundo árabe.

E esta ideia de invasão de Gaza, portanto, é o clímax de uma postura segregacionista, que é uma pré-disposição trumpista e de seus eleitores supremacistas e racistas, podendo gerar uma nova geração de jovens malucos influenciados no ódio por organizações como o Estado Islâmico e outros, numa revolta renovada contra o Ocidente e os Estados Unidos.

Por sua vez, as investidas agônicas de um governo feito de miríades de decretos sem passar pelo Congresso, numa tática de estresse constante, pois é uma sucessão de movimentos sempre marcados pela dureza irracional, sob protestos de grupos de congressistas democratas, foram renovados agora com o primeiro discurso de Trump diante do Congresso norte-americano. Que foi mais um episódio desta tragédia mundial do trumpismo.

Lá no Congresso dos Estados Unidos, por sua vez, Trump teceu suas ideias e medidas governamentais sobre imigração, combate a transgêneros, além de planos como a intervenção no Canal do Panamá, na Groenlândia, passando por anúncios de tarifas amalucadas.

A coisa toda continuou, por conseguinte, com gestos estereotipados de ufanismos e chauvinismos baratos, patrocinando imposturas ridículas e sem legitimação internacional, como a suposta mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América, etc. O que se viu no púlpito era o delírio de grandeza de um presidente, e que pode ser sintetizada no cartaz de uma deputada democrata, que traduzido para o português, dizia: isso não é normal.

Por fim, o inferno de Trump é o caos diplomático como política de hegemonia, cevado por um discurso mão dura, e que ainda pode culminar em intervenções e invasões inauditas que, de tão fora da curva, parecem se tratar de bravatas, algo comum na política, mas que no caso de Trump é tudo muito sério e real. A carta de intenções está na mesa, e não se trata de uma teoria da conspiração da alt-right, pois esta é só a sua fonte ideológica de contraste e confusão. O que vemos agora, no entanto, é um ensaio geral do Big Stick, com todas as suas afetações.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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