Centro cultural celebra estreia do Cine Queimado na próxima quarta-feira

O Centro Cultural Eliziário Rangel, localizado em São Diogo, na Serra, inaugura na próxima quarta-feira (19), a primeira sala de cinema não convencional do município, o Cine Queimado. Apresentações de teatro, congo e capoeira, debate e duas exposições marcarão o lançamento, que terá programação gratuita e acontece no dia em que se comemora os 176 anos da Insurreição de Queimado, um dos mais importantes levantes contra a escravidão no Espírito Santo, episódio que serve de referência e inspiração para o local.
A iniciativa foi viabilizada por meio de recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, via Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult/ES), e reforça o compromisso do Eliziário com a democratização do acesso à arte. A mesa de abertura terá a participação da professora Beth Barros, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e de Galdene Santos, integrante do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) da Serra. Além disso, a inauguração contará com a presença do Fórum Chico Prego, guardião da memória da insurgência.
Com capacidade para 70 pessoas, o Cine Queimado contará com sessões diárias de segunda a sexta-feira. Haverá duas exibições gratuitas por dia, uma no horário do almoço, pensada para trabalhadores da região, e outra à noite, voltada para famílias e debates sobre direitos humanos. O diretor do Centro Cultural Eliziário Rangel, Antônio Vitor, explica que o cinema tem como missão ser um espaço de resistência e fortalecimento da produção audiovisual independente, com exibições contínuas de produções capixabas, brasileiras, latino-americanas, realizadas por mulheres, pessoas negras, LGBT e outros grupos sociais marginalizados, ressalta. “A proposta é oferecer uma sala de cinema que promova debate e formação. Vamos trabalhar com uma programação continuada que vai privilegiar essas produções”, afirma.

Entre os projetos em desenvolvimento, está a Mostra Rosilda Moreira, uma homenagem a uma mulher vítima de feminicídio, assassinada junto com seus filhos e injustamente responsabilizada pelo crime. Prevista para o segundo semestre deste ano, a mostra terá como eixo central o enfrentamento ao racismo e ao extermínio de mulheres negras. Em 2026, será realizado um festival de cinema da Serra, intitulado A Cidade que Brinca, com foco na discussão dos direitos das crianças e adolescentes.
Para Antônio Vitor, a construção da sala de cinema foi um desdobramento do trabalho do centro cultural com cineclubismo e exibições. Com uma estrutura fixa, será possível ampliar o alcance e oferecer uma programação regular e acessível. Ele ressalta que o Cine Queimado surge como uma alternativa aos cinemas comerciais, que muitas vezes impõem barreiras ao acesso da população periférica — seja pela restrição à entrada em shoppings, pela vigilância ostensiva de seguranças ou pelos altos preços dos ingressos e da alimentação.
“Nós identificamos que essa é a primeira sala de cinema fora de um shopping na Serra e uma das poucas da Grande Vitória. Isso nos dá um potencial enorme para expandir nossa atuação e fortalecer o trabalho de outros cineclubes, fazedores de cultura e produtoras da região. Queremos ser mais um espaço possível na articulação e difusão dessa produção pujante”, destaca.
A curadoria do cinema será feita por Adryelisson Maduro, a projeção ficará a cargo de Marília Favalessa, e a produção cultural será conduzida por Roberta Portela. Além do cinema, o centro cultural oferece teatro, biblioteca, café-bar e sala multiuso.
A iniciativa faz parte de um projeto mais amplo do Eliziário Rangel, que atua em rede com coletivos e instituições voltadas à promoção de políticas públicas, participa ativamente dos Conselhos Estadual e Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Conselho Municipal de Defesa e Direitos da Pessoa Idosa, e desenvolve atividades em parceria com escolas e projetos sociais. “A proposta de trazer a sala de cinema não é no sentido de tornar sofisticado o centro cultural, mas de sofisticar a luta por direitos humanos, por uma vida que vale a pena ser vivida”, conclui Antônio Vitor.
Em fevereiro, o Século Diário visitou as obras do Cine Queimado para acompanhar de perto a construção da primeira sala de cinema independente da Serra. Confira o vídeo da visita:
Programação completa:
18h: Recepção de convidados e exposição da Associação de Banda de Congo da Serra, ao som do DJ Alterres Freitas
18h50: Berimbalada do Grupo São Salvador de Capoeira
19h: Esquete teatral A Casaca Contadora de Histórias, da Impropria Trupe, e abertura da exposição Iconografia do Queimado, de Walter Assis
19h40: Apresentação de congo com o Grupo Parafolclórico Batuque do Queimado
19h50: Mesa de debates com Beth Barros e Galdene Santos
20h20: Performance teatral Voos de Liberdade, da Atrevida Trupe
20h40: Exibição do curta-metragem Nós Importa (Mulheres)
21h: Encerramento com buffet
Serviço:
Inauguração Cine Queimado
19 de março (quarta-feira), a partir de 18h30
R. Humberto de Campos, 1201, São Diogo I, Serra
Entrada gratuita