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‘A Suzano precisa voltar à mesa de negociação no Estado’

Protesto de mulheres sem terra marca desocupação de área em Aracruz 

A ocupação de mais de mil mulheres sem terra na fazenda da Suzano Papel e Celulose, em Aracruz, norte do Espírito Santo, chegou ao fim nesse sábado (15). A decisão de saída foi tomada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) diante da iminência da reintegração de posse emitida em menos de 24 horas pela Justiça Estadual, e da precariedade no acesso à água, agravada por um boicote de comércios locais à disponibilização de caminhões-pipa. Antes da retirada, as militantes bloquearam a rodovia ES-445 para reafirmar sua luta pela reforma agrária e denunciar o modelo degradante do agronegócio.  

Para representar a disparidade entre os dois projetos, uma mulher sem terra segurou, de um lado, um prato com eucalipto e, do outro, um prato com arroz, feijão, mandioca, abóbora e laranja, na rodovia bloqueada para a manifestação, em frente a uma faixa com o dizer: “As terras da Suzano podem assentar mais de 100 mil famílias”.  

MST

A ocupação teve início na quinta-feira (13), como parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, em todo o Brasil, que ocorreu até esse domingo (13 a 16), para denunciar a violência do agronegócio e reivindicar a reforma agrária, sob o lema: “Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o Capital”. O objetivo foi pressionar a empresa e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a retomarem as negociações sobre a destinação de 22 áreas para reforma agrária, conforme acordado em 2011. Contudo, a Justiça acatou a ação da empresa em que requeria a reintegração de posse no mesmo dia. 

A dirigente nacional do MST no Espírito Santo, Lia, criticou a decisão. “Na verdade, isso não é nenhuma novidade para nós. A Justiça e todo o aparato do Estado está em função da empresa”, afirmou. Segundo ela, esse cenário se repete em ocupações anteriores, como a de 2023, quando a liminar de despejo também foi concedida no mesmo dia da ação emitida pela papeleira solticitando a reintegração.  

Além da decisão judicial, as mulheres sem terra enfrentaram uma série de dificuldades no acampamento. A dirigente denunciou que a Prefeitura de Aracruz se recusou a fornecer água para as ocupantes. “O prefeito [Dr. Coutinho (PSDB)] e todas as autoridades do município nos encurralaram com a falta de água. A área não tem abastecimento, e até isso o eucalipto faz, porque havia um córrego próximo, mas a água estava contaminada”, afirmou. 

Diante da impossibilidade de garantir condições mínimas de permanência e da iminente ação policial, o MST decidiu desocupar a área. “A coordenação avaliou que já havíamos cumprido o objetivo de denúncia contra a Suzano e suas atrocidades: a concentração de terra, a violência contra populações indígenas e sem terra, e a degradação ambiental causada pelo monocultivo de eucalipto”, explicou. 

MST

A dirigente reforça a reivindicação de que a empresa volte a negociar no Estado, e não apenas em âmbito nacional, e defende o assentamento das 1,5 mil famílias acampadas, assim como das que vivem nas seis áreas da empresa em conflito fundiário. Lia lembra que a Suzano se retirou da mesa de negociação ainda na pandemia do Covid-19, em 2021, e, desde então, apenas neste ano propôs negociar duas das seis áreas em disputa no Espírito Santo.

As integrantes do movimento ressaltam que, enquanto a região permanece dominada pelo monocultivo de eucalipto, muitas famílias aguardam uma solução para o assentamento e a produção de alimentos saudáveis. Elas cobram celeridade do governo federal na desapropriação e no assentamento em terras que pertenciam ao Estado e foram apropriadas ilegalmente pela empresa. 

A Suzano, uma das maiores multinacionais do setor de papel e celulose, adquiriu a antiga Aracruz Celulose, acusada de grilagem de terras desde quando se instalou na região, ainda na década de 1970, durante a ditadura empresarial militar. Denunciada por uma de uma série de crimes, como “roubo de água, desvio e morte de rios, perda de diversidade, e uso de agrotóxicos associados ao câncer”, a empresa detém 2,7 milhões de hectares de terras no Brasil, uma área que poderia assentar as 100 mil famílias do MST que ainda lutam por terra, estima a organização.

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