Movimento VAT faz ações na Grande Vitória e mobiliza ato e paralisação para o 1º de maio
O Movimento VAT (Vida Além do Trabalho) tem intensificado suas mobilizações nesta semana, convocando para um grande ato pelo fim da escala 6×1 durante o feriado do Dia do Trabalho, no próximo 1º de maio. As ações visam pressionar o Congresso Nacional a acelerar a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/25, que propõe a substituição dessa jornada por uma escala 4×3, com 36 horas semanais de trabalho, sem mudança salarial.
Na última quarta-feira (19), militantes do VAT estiveram no Shopping Vitória para dialogar com trabalhadores e consumidores sobre a causa. Nesta sexta-feira (21), a partir das 16h, estão previstas panfletagens na região do comércio da Glória, em Vila Velha. No sábado (22), a mobilização ocorrerá no Terminal de Laranjeiras e no comércio varejista do bairro, na Serra, a partir das 9h30.
As ações continuarão nas próximas semanas para garantir ampla adesão popular ao movimento, destaca a coordenadora estadual do VAT, Júlia Alves. “Estamos conversando com movimentos sociais, sindicatos, centrais sindicais e partidos de esquerda, para que estejam presentes e apoiem as ações. Serão vários setores unidos pela causa”, afirmou.

O coordenador estadual do movimento, Vinícius Machado, explicou que as ações fazem parte de uma estratégia ampla para garantir o feriado prolongado do dia 1º de maio, que inicia com atos nacionais unificados no Dia do Trabalho, na quinta-feira, e continua com uma paralisação geral na sexta-feira, 2 de maio, com o eixo central na bandeira pelo fim da escala 6×1, em defesa da escala 4×3 e da jornada de 36 horas semanais.
“É hora de pressionar o Congresso pelo fim da escala 6×1, para que a PEC comece a tramitar e seja votada ainda este ano. Queremos também que o governo apoie essa pauta e nos ajude a pressionar o Congresso, mostrando compromisso com a classe trabalhadora. É fundamental que façamos uma grande paralisação no Brasil inteiro, chamando a atenção para a luta contra esse regime de superexploração”, finalizou.
Júlia também compartilhou o impacto pessoal e coletivo que a escala 6×1 tem sobre os trabalhadores. “Nós que sentimos na pele essa escala desumana temos muita ansiedade para que acabe logo. Hoje, com apenas um dia de folga, é preciso escolher entre descansar, sair para lazer ou cuidar da vida pessoal. É muito difícil. O VAT surgiu desse cansaço coletivo, especialmente após o desabafo do Rick Azevedo no TikTok, que viralizou justamente porque ecoou o sofrimento de muitos trabalhadores. De 2023 para cá, o movimento cresceu e cada representante tem ajudado a alcançar mais trabalhadores”, relatou.
O impacto do Movimento VAT levou o ex-balconista de farmácia Rick Azevedo à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, onde foi eleito pelo Psol como o parlamentar mais votado do pleito, com quase 30 mil votos. A luta se consolidou como Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/25, de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), protocolada na Câmara dos Deputados em fevereiro último. O texto, que estabelece uma jornada de quatro dias de trabalho e três de descanso, conquistou o apoio de 171 deputados, resultado de intensa mobilização popular, pressão nas redes sociais e manifestações nas ruas, e iniciou sua tramitação na Casa. Paralelamente, uma petição pública em apoio à PEC já reuniu mais de 2,9 milhões de assinaturas, demonstrando a força da adesão popular.
Atualmente, a Constituição Federal estabelece que a jornada de trabalho deve ser de até oito horas diárias e 44 horas semanais, o que permite a escala 6×1. A mudança atende uma reivindicação histórica da classe trabalhadora pela revisão da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), vigente há 81 anos no País, desde sua publicação em 1943. O porta-voz do movimento no Estado enfatiza que essas condições são insustentáveis para os trabalhadores, que precisam urgentemente de uma mudança. “Não dá mais para a classe trabalhadora viver nesse regime de trabalho, onde não se consegue descansar, estudar, ter lazer e, principalmente, ficar com a família”, enfatizou.

Crise de saúde
A sobrecarga de trabalho imposta pela jornada 6×1 tem provocado graves impactos na saúde mental dos trabalhadores, como evidenciam os dados do Ministério da Previdência Social. Em 2024, o número de brasileiros afastados por transtornos mentais e comportamentais atingiu o maior patamar dos últimos dez anos, crescendo 67% em relação a 2023.
Mais de 440 mil trabalhadores foram afastados, sendo os principais motivos transtornos de ansiedade (141.414 casos), episódios depressivos (113.604) e transtorno depressivo recorrente (52.627). Além disso, foram registrados afastamentos por transtorno afetivo bipolar (51.314), transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso de substâncias psicoativas (21.498) e reações ao estresse grave (20.873).
Também aparecem na lista casos de esquizofrenia (14.778), transtornos decorrentes do uso de álcool (11.470) e cocaína (6.873). O levantamento revelou que os afastamentos por transtornos de ansiedade aumentaram mais de 400%, enquanto os episódios depressivos quase dobraram durante a série histórica.
Lei estadual
Em novembro do ano passado, a deputada estadual Camila Valadão (Psol) apresentou o Projeto de Lei 635/2024 na Assembleia Legislativa, para extinguir a escala 6×1 nos contratos de fornecimento de mão de obra e serviços firmados pelo Governo do Estado. A matéria, que seguirá para análise nas comissões de Justiça, Direitos Humanos e Finanças, antes de ser votada em plenário, recebeu uma emenda da própria parlamentar em fevereiro deste ano, para incluir contratações feitas por concessões e permissões de serviço público.
A iniciativa busca garantir melhores condições de trabalho e qualidade de vida para os trabalhadores desses setores e garantir pelo menos dois dias de descanso semanal. Caso aprovada, a lei entrará em vigor seis meses após sua publicação.