sexta-feira, abril 18, 2025
26.9 C
Vitória
sexta-feira, abril 18, 2025
sexta-feira, abril 18, 2025

Leia Também:

Pescadores reforçam críticas a projeto de reurbanização do Canal de Camburi 

Reunião com empresa e Prefeitura de Vitória não atendeu às demandas dos trabalhadores

Antônio Queiroz

Falta de diálogo, falhas técnicas, frustração e revolta. Esse é o resumo relatado pelo pescador Antônio Queiroz em relação à reunião de apresentação do projeto de urbanização do Canal de Camburi pela a Contractor Engenharia e a Prefeitura de Vitória, que envolve o terminal da Praia do Canto. “Convocaram os pescadores só para sacramentar o projeto, sem intenção de mudar nada”, desabafou.

Segundo ele, a expectativa era de apresentar propostas, fazer questionamentos e participar do processo de decisão sobre um projeto que impacta diretamente suas vidas e meios de subsistência, o que não aconteceu. Os pescadores relataram que sequer conseguiram compreender as informações. “O sistema de som era precário, a projeção do datashow estava apagada, e o auditório improvisado apresentava eco, o que dificultava ainda mais a compreensão. “Parece que foi feito de propósito. A gente não conseguiu entender nada”, reafirmou.

Os trabalhadores também criticaram a postura dos representantes da construtora e da prefeitura, apontando a falta de preparo e sensibilidade. “Disseram que estavam ali para dar atenção porque tinham sido orientados a isso, mas que atenção é essa? O projeto já estava pronto, ninguém discutiu conosco”, acrescentou.

Um dos pontos mais sensíveis para os pescadores diz respeito à remoção das embarcações que atualmente ocupam o canal. Foi informado que, para viabilizar o avanço da obra, que prevê a passagem de dragas, balsas e outros equipamentos, os barcos que estiverem no trajeto precisarão ser realocados. A notícia gerou forte resistência por parte da categoria, destaca. “Os pescadores não estão animados em deixar remover barco, não. Isso vai dar polêmica. Eles não têm nem proposta de fazer rampa para encalhe de barco e manutenção, mas vão construir uma rampa para jet ski, para quem faz pesca esportiva com caiaque. Não é projeto para pescador”, acrescentou.

Ele considera que as soluções propostas não atendem às necessidades reais da atividade pesqueira e cita como exemplo o município de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, onde a gestão disponibilizou trator para puxar os barcos, oferecendo uma estrutura mínima de apoio. 

Outra questão levantada foi a completa exclusão da comunidade pesqueira no processo de elaboração do projeto, que inclui uma marina, passarelas, quiosques, restaurantes e uma peixaria. Para os pescadores, a proposta da peixaria é simbólica da desconexão do projeto com a realidade local. “A representante da empresa falou de uma peixaria com uma portinha, uma banquinha, uma balança. Isso não atende nunca. Precisava ter vários boxes para os pescadores venderem suas pescarias direto na pedra”, explicou.

Antônio também denunciou que parte da vegetação nativa do manguezal já foi removida e que galhos foram jogados sobre barcos, em um ato que classificou como desrespeitoso. “Pedi que respeitassem a área verde, que é nosso refúgio do sol. Lá na Ilha das Caieiras, cortaram tudo. Fizeram um negócio bonito, mas sem nenhuma árvore. O povo não tem nem sombra”, lamentou.

A decepção foi agravada pela forma como a reunião foi finalizada. Ele ressalta que a única promessa foi de que a construtora entraria em contato posteriormente com cada pescador, com base na lista de presença. “Isso desarticulou a gente. A reunião não encaminhou, chamaram só para dizer que chamaram. Os pescadores saíram descreditados”, afirmou. Ele enfatiza que a empresa não considerou o impacto das obras em um território tradicionalmente ocupado por uma comunidade centenária

Sem respostas concretas às demandas apresentadas, a comunidade ainda aguarda o envio do projeto detalhado prometido pela Contractor e exige que suas reivindicações sejam incorporadas. Entre os principais pedidos, estão a construção de rampas adequadas, um atracadouro seguro, infraestrutura para venda e manutenção das embarcações, e a preservação da vegetação nativa. Para os pescadores, o processo de urbanização que deveria beneficiar a cidade como um todo, não pode se dar à custa da exclusão de uma das comunidades mais tradicionais de Vitória.

A urbanização faz parte do projeto “Vitória de Frente para o Mar”, que visa conectar a região de São Pedro a Camburi por meio de uma orla. A primeira etapa foi concluída em julho do ano passado, com a inauguração da nova orla de São Pedro. A segunda, atualmente em andamento, abrange as orlas dos bairros Santo André, Redenção, Nova Palestina e Resistência. A prefeitura também planeja a criação da Orla de Andorinhas, que contemplará os bairros Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi, e a reurbanização da Avenida Beira-Mar, no trecho entre o Clube Álvares Cabral e a antiga sede do Clube Saldanha da Gama.  

Mais Lidas