quarta-feira, abril 16, 2025
26.9 C
Vitória
quarta-feira, abril 16, 2025
quarta-feira, abril 16, 2025

Leia Também:

‘Depender de um transporte coletivo ruim precariza os nossos sonhos’

Taru Souza critica prestação do serviço da Ceturb no município de Viana

Moradores de Viana intensificam as críticas à Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Espírito Santo (Ceturb-GV) por negligência na prestação dos serviços e total ausência de diálogo com a população. A falta de resposta às demandas, a escassez de horários, a má conservação da frota e a sensação de insegurança nos coletivos compõem o cenário apontado por usuários como “inaceitável” diante do crescimento da cidade.

As principais queixas vêm de diferentes regiões do município e refletem uma insatisfação coletiva com o serviço de transporte oferecido. “O bairro cresceu, a população aumentou, mas os horários não acompanharam. Durante a semana, tem intervalo de mais de uma hora entre os ônibus. Nos fins de semana, chega a duas. A manutenção é péssima. Tem ônibus com vazamento do ar-condicionado, sujos, sem manutenção. Recentemente, houve até princípio de incêndio em Viana Sede. É um risco real para todo mundo que depende do coletivo”, descreve o morador do bairo Vila Nova, Wilder Castello.

Ele também observa como a situação atinge diretamente estudantes, trabalhadores e idosos. “Os ônibus param de rodar às 23h, mas algumas instituições de ensino da região têm aulas até 22h40. Quem estuda e mora aqui precisa terminar parte do trajeto a pé, estamos falando de até 1,5 km em locais com muitos relatos de assaltos. Para idosos e pessoas com deficiência, isso é desrespeitoso. A gente pede o mínimo: limpeza, conservação, cumprimento de horários”, realçou.

Outro problema mencionado pelos moradores, incluindo o vereador Diego Grijó (PSB), conhecido como Diego da Farmácia (PSB), que convocou uma audiência pública na Câmara Municipal para tratar do assunto, está na falta de respostas da Ceturb. Segundo eles, as sugestões e reclamações são ignoradas. “Nós ligamos, mandamos email, a Ceturb não responde, se vai implementar, se não vai, e nem por que não vai. É como se estivéssemos falando sozinhos. Isso é um desrespeito com quem depende do transporte coletivo todos os dias”, avalia o parlamentar.

Diego afirma que o padrão de silêncio da companhia foi repetido até mesmo após a audiência, realizada no último dia 27 de março. Apesar da presença do gerente de Atendimento ao Usuário da Ceturb-GV, Gilmar Pimenta, moradores relataram que o encontro terminou com frustração geral, diante da falta de encaminhamentos concretos e da sensação de que não havia boa vontade em resolver os problemas apresentados. 

Na ocasião, foi encaminhado um ofício com nove demandas centrais para a melhoria do transporte em Viana, como revisão dos horários das linhas mais críticas, aumento da frota nos horários de pico, retorno de linhas seletivas, extensão de trajetos e melhorias na manutenção e segurança dos veículos. Até o momento, a concessionária não respondeu ao documento.

Dezenas de moradores também manifestaram suas críticas na audiência, cobrando melhorias urgentes. Para Wilder, a falta de diálogo agrava ainda mais o sentimento de abandono por parte da população. “Já mandei sugestão tanto sobre meu bairro como outros, nunca recebi retorno, nem para dizer o porquê de não ter aceitado os pedidos. Eles se colocam como donos da verdade”, enfatizou.

O produtor cultural Taru Souza, do Coletivo Bom Pastor, trouxe à tona uma reflexão sobre a mobilidade pendular, conceito que descreve os deslocamentos diários de casa para o trabalho e estudo. “Precisamos sair de casa para trabalhar, estudar, e no dia seguinte fazer tudo de novo. Só que aqui isso se torna um grande obstáculo. Morar em Viana é viver longe dos centros de emprego e ensino, e depender de um transporte coletivo ruim precariza os nossos sonhos. Tem gente que anda 15 km, como em Coqueiral de Viana, só para conseguir pegar um ônibus”, destacou.

Câmara Municipal de Viana

De acordo com Diego, a insatisfação é generalizada. O município tem crescido como centro logístico, mas o sistema de transporte não acompanhou esse crescimento, reforça. “Isso impacta diretamente na contratação de professores, na locomoção de trabalhadores e na rotina de estudantes”, aponta.

Taru enfatizou que o sistema atual força a população a fazer escolhas duras, como optar entre estudar ou trabalhar, a descansar ou realizar uma atividade de lazer ou cultural. “A rotina de trabalho já é precarizada. Quando chega o domingo, que seria um momento de descanso, a pessoa só quer dormir, porque sabe que na segunda já vai começar tudo de novo”. Além disso, quem depende do transporte coletivo, geralmente, também não tem condições de pagar por outras opções, argumenta. “Aí a vida tem que se encaixar dentro desses horários de ônibus. Com isso, a população perde o direito ao lazer, à cultura, ao entretenimento”, ressaltou.

Mesmos problemas

A precariedade do transporte público também foi alvo de críticas durante audiência pública convocada pela Câmara Municipal da Serra. Apesar de problemas de superlotação, frota e horários de circulação insuficientes e condições inadequadas dos ônibus, a Ceturb tem optado por reduzir ainda mais os serviços para a população, sem aviso prévio ou diálogo com as lideranças comunitárias. Os problemas foram apontados por representantes de 50 comunidades, vereadores e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (Sindirodoviários) a representantes da concessionária e da Secretaria Estadual de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi). Diretor do Sindirodoviários, o vereador Cléber Serrinha (MDB) enfatizou a insatisfação geral, entre a categoria de trabalhadores e os passageiros.

Em janeiro deste ano, movimentos estudantis e sociais, sindicatos e organizações de trabalhadores realizaram protestaram em frente ao Departamento de Edificações e Rodovias do Espírito Santo (DER-ES), na Ilha de Santa Maria, em Vitória, contra o aumento da tarifa do Sistema Transcol durante a reunião do Conselho Tarifário, que aprovou o reajuste de 4,26%. Na ocasião, os manifestantes denunciaram que o modelo atual penaliza os usuários do transporte coletivo, que já enfrentam dificuldades com as condições do serviço e o impacto do custo no orçamento familiar. Além disso, moradores de áreas periféricas relataram dificuldades adicionais de acesso, que agrava desigualdades na região.

A necessidade de uma auditoria do contrato vigente, que prevê reajustes anuais até 2044, foi uma das reivindicações apresentadas na ocasião pelo Movimento Passe Livre (MPL) e o Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE), que articularam o protesto. As organizações também cobraram a realização de um estudo de viabilidade para a implementação da tarifa zero no Sistema Transcol e a construção de políticas públicas que garantam o direito ao transporte para todos, assim como a elaboração de um plano gradual para viabilizar a tarifa zero até o fim do contrato atual.

Mais Lidas