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segunda-feira, abril 28, 2025
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Os descamisados

E não sobrou ninguém!

Nascemos chorando, porque já sabemos que a lei da vida é uma só: ela é finita, já vem com hora marcada. O amanhã sempre virá, até que não venha mais. Mesmo assim, vivemos atados aos milagres da tecnologia, como se não soubéssemos que, ao partir, não podemos levar o celular – ah, mundo ingrato! 

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Aos 89 anos, morre Mario Vargas Llosa, o escritor peruano inserido na lista dos meus favoritos. Quem leu A Casa Verde ou Conversa na Catedral, e não se apaixonou? Meu preferido é  Uma Gerra no Fim do Mundo, de 1981, o primeiro romance de Llosa passado fora do Peru. E onde ele foi achar inspiração? No livro Os Sertões, do nosso escritor e jornalista Euclides da Cunha, que continua imbatível como a obra mais importante já escrita sobre a Guerra de Canudos, conflito que ocorreu entre 1896 e 1897, no sertão da Bahia. 

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Nada mais desigual: de um lado o Exército brasileiro, bem treinado, bem alimentado, bem municiado. Do outro, uma legião de sertanejos maltrapilhos, mal alimentados, a maioria analfabetos, liderados por um homem à beira da morte: Antônio Conselheiro. Comprovando que, de fato, o sertanejo é, antes de tudo, um forte!

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Llosa se apaixonou pela obra do Euclides e criou sua versão dos fatos, com um personagem inspirado na trágica vida do próprio Euclides. Llosa disse: “Peregrinei por todas as vilas onde, segundo a lenda (sic), o Conselheiro pregou e nelas ouvi os moradores discutindo ardorosamente sobre Canudos, como se os canhões ainda trovejassem no reduto rebelde e o apocalipse pudesse acontecer a qualquer momento naqueles desertos salpicados de árvores sem folhas, cheias de espinhos…”

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Segundo ele, o Conselheiro tinha olhos que “flamejavam com um fogo perpétuo” – e hipnotizavam seus seguidores. Acho que ainda há muito a estudar sobre esse profeta de pé no chão. Se o Conselheiro estivesse forte e saudável, ainda capaz de pregar para multidões de fiéis, ao invés de estar no final da vida, cego e doente, teria vencido essa guerra?

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As forças do mal sempre vencem, dirão os realistas. Nossa também nada honrosa Guerra do Paraguai dizimou 70% da população do país, sendo 90% homens. O Paraguai até hoje não se recuperou, e nomeamos Caxias Patrono do Exército! Em Canudos morreram 5 mil militares bem treinados e 25 mil mulambentos ignorantes – ou seja, toda a população de Canudos…entre a espada e a cruz, não sobrou ninguém!

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