Que a Internet mudou nossas vidas, todos estão cansados de ouvir, ler, falar. Todos sabem por experiência própria, sem precisar que lhes lembrem o óbvio a todo instante. No entanto, o que ainda nos surpreende são as muitas formas com que tais mudanças se manisfestam. Foi o caso da Marlice, que sem qualquer malícia digitou um comprometedor e-mail falando mal do chefe, narrando deslizes que ela não teria como saber se não andasse espionando os e-mails dele.
Também já sabemos que os e-mails não são secretos, e já estão sendo usados como prova em juízo. Estamos em constante vigilância, e viver nas nuvens hoje em dia já não tem a conotação que tinha outrora. Mas é impossível rastrear o tsunami de e-mails que caem na rede, revelando segredos, maracutaias, complôs, revoluções, fórmulas de remédios, ingredientes de receitas, códigos de conta bancária, ou mesmo quem está digitando uma coluna no horário de expediente.
A não ser, claro, que haja algum deslize. Pois também sabemos, nos maiores desastres, na maioria das vezes, a falha é mesmo humana. Temos uma propensão natural para o erro, não importa em que área. Pois aos enviar o e-mail comprometedor para seu melhor aliado, Marlice acessou sem querer o e-mail de seu arquiadversário, que não perdeu tempo e repassou a todo o departamento. E claro, logo toda a empresa…
O chefe ficou mal, mas tinha as costas largas, como se dizia no tempo do Getúlio, e continuou na empresa, embora rebaixado. A esposa não foi tão compreensiva, e além da queda de salário, o divórcio causou outro duro rombo nas finanças do ex-chefe. Mas quem ficou na pior foi a Marlice, sumariamente demitida por invasão de privacidade e quebra de sigilo operacional. Na cadeia hierárquica, tal como acontece na cadeia alimentar, os menores sempre saem perdendo.
Tais deslizes não nasceram com a Internet; existem desde que o homem aprendeu a raciocinar. Em 1993, Marluce mandou uma carta para uma amiga contando os muitos atributos de sua nova paixão, o Deoclécio. A carta voltou por insuficiência de selo, o marido a recolheu na caixa postal, e pelo volume do documento ficou desconfiado… Por causa de um erro de alguns centavos, um duplo crime foi cometido. Triplo, porque o viúvo passou o resto da vida na cadeia.
Em 2003, um simples telefonema causou outro drama, embora menos trágico. Tudo porque o celular da Marlaine e o do marido diferem apenas no último algarismo, e ao dar o número ao bonitão com quem andou interagindo na praia, passou o do marido. Que no dia seguinte recebeu um torpedo devastador… Por causa de uma pequena falha digital, um lar aparentemente bem-estruturado foi pro brejo, como se dizia no tempo do Juscelino.
Hoje temos o Facebook, desunindo mais pessoas do que nossa vã ingenuidade pode imaginar. Foi o caso da Marlone, que postou a foto do ex… Com tantos dispositivos, aparatos e gadgets com que nos brinda a alta tecnologia, vivemos em constante perigo de uma dessas nuvens, a qualquer momento, desabar sobre nossas cabeças. Literalmente.