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PSB rompe com Dilma e inviabiliza reedição do arranjo da unanimidade no Estado

Aconteceu o que o governador Renato Casagrande mais temia. O presidente do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, comunicou à presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira (18) que o partido não faz mais parte do governo do PT. 
 
Campos, virtual pré-candidato a presidente da República, após se reunir por cerca de 40 minutos com a presidente, publicou no site do PSB a mesma carta entregue a Dilma, que explica os motivos que levaram o PSB a entregar os ministérios da Integração Nacional, dos Portos e outros cargos que o partido ocupa nos primeiros e segundo escalões do governo federal. 
 
Na carta, Campos não nega que o PSB tem a intenção de lançar candidato a presidente em 2014, embora despiste que essa é uma discussão que o partido só fará no ano que vem. 
 
O anúncio, apesar do tom elegante da carta, significa o rompimento de uma parceria de mais de 10 anos com o PT. No Estado, a decisão do PSB tem impactos diretos e devastadores no projeto de reeleição do governador Renato Casagrande, que ainda sonhava em reeditar o arranjo da unanimidade que o elegeu de maneira retumbante ainda no primeiro turno das eleições de 2010. 
 
Isso explica por que Casagrande sempre foi refratário ao projeto de Eduardo Campos de se candidatar a presidente da República. Á época, Casagrande chegou a declarar publicamente que julgava extemporâneas as movimentações de Campos. 
 
Na verdade o governador capixaba sabia do prejuízo que a candidatura socialista poderia representar para o seu arranjo político. Tanto que Casagrande, ao perceber que o projeto de Campos era irreversível, passou a defender a tese da neutralidade, tentando manter a aliança com o PT e PMDB blindada às movimentações nacionais. 
 
O mercado político, no entanto, já vinha prevendo que o desfecho do projeto de Campos resultaria no rompimento com o governo federal. Isso também explica as recentes declarações do senador Ricardo Ferraço (PMDB), que passou a alimentar a hipótese de se lançar candidato ao governo. O senador chegou a afirmar, inclusive, que o arranjo da unanimidade já não correspondia ao atual cenário político. 
 
Além do rompimento do PSB com o governo Dilma praticamente selar a candidatura de Campos, a decisão afasta de vez as chances de Casagrande em manter o PT no seu arco de alianças. 
 
Imediatamente ao anunciou de Campos, os caciques do PSB já mostraram seus dentes aos petistas. Em declaração nesta quarta (18) ao jornal O Globo, o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), afirmou que a decisão foi tomada como reação às críticas que o partido vinha sofrendo por parte de governistas que acusavam o PSB de estar dentro do governo mas fazendo críticas permanentes à presidente Dilma
.
Sem rodeios, Albuquerque disse que o PSB quer ficar livre para tomar a decisão de ter candidato a presidente da República. “O apoio ao governo vai depender dos temas e das pautas. Não vamos virar oposição radical, mas quem não está no governo não é da base. Somos um partido independente”, disse ao jornal carioca.
 
O deputado gaúcho voltou a provocar os petistas, defendendo que eles também entreguem os cargos que possuem nos seis governos de estado comandados pelos socialistas, incluso o Espírito Santo. “O PT que nos cobrou aqui (no plano nacional), é o que ocupa cargos em nossos governos, mesmo tendo disputado contra nós, então eles deveriam ser coerentes”, disse Albuquerque ao Globo. 
 
Esse será outro imbróglio para Casagrande. A tendência é de que a nacional aumente a pressão sobre os governadores socialistas. Apesar de Campos ter prometido que o partido só tratará de eleição em 2014, as movimentações políticas com vistas ao processo eleitoral do próximo ano já estão em curso.
 
Se de fato Campos quisesse deixar a discussão sucessória para o ano que vem, teria ouvido os apelos do ex-presidente Lula, que se desdobrou para convencer o governador pernambucano a não abandonar Dilma agora.
 
O fato é que a candidatura de Eduardo Campos está lançada e Casagrande em breve terá que escolher um caminho: ou abandona de vez o projeto da unanimidade e passa a considerar a hipótese de ter o PMDB e o PT como adversários em 2014, ou continua negando os fatos e insistindo na tese de que só tratará do assunto eleições no ano que vem. Se ficar marcando passo, corre o risco de perder o bonde e as eleições. 
 
Leia a íntegra da carta do PSB à presidente Dilma
 

Brasília, 18 de setembro de 2013
 
À Sua Excelência Senhora Dilma Rousseff
 
Em mãos.
 
Senhora Presidenta,
 
Desde 1989, quando da criação da “Frente Brasil Popular”, o Partido Socialista Brasileiro integra, juntamente com o Partido dos Trabalhadores e outros do campo da esquerda, a base política e social que, durante as sucessivas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e no segundo turno de 2002, apoiou e, finalmente, levou àPresidência da República, o companheiro Luís Inácio Lula da Silva, cujo governo contou com nossa participação, colaboração e  sustentação, no Executivo e no Parlamento. 
 
Convidado a ocupar funções governamentais, nosso  Partido contribuiu para os avanços econômicos e sociais proporcionados ao País pelo governo do honrado Presidente Lula, dedicando seus melhores esforços e sua total lealdade nos momentos mais difíceis dos oito anos de mandato.
 
Em março de 2010, embora contássemos com um pré-candidato àpresidência da República e fosse desejo manifesto de nossa base e das lideranças do partido o lançamento de candidatura própria, o PSB, a partir de uma profunda reflexão e discussão política com o companheiro Lula, abdicou dessa legítima pretensão e decidiu integrar a frente partidária que apoiou a candidatura de Vossa Excelência àPresidência da República.
 
Quando da formação do governo, Vossa Excelência convidou-nos para discutir nossa participação, ocasião em que manifestamos a possibilidade de apoiar sua administração sem necessariamente ocupar cargos. Vossa Excelência, entretanto, expressou o desejo de quadros do PSB na Administração, com o que concordamos sem apresentar condicionantes.
 
Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por, comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura àPresidência em 2014.
 
Longe de receber tais manifestações como ameaça, o Partido Socialista Brasileiro – que nunca se caracterizou pela prática do fisiologismo – reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental, e reitera  que seu apoio a qualquer governo jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza, e sim do rumo estratégico adotado que, a nosso ver, deve guardar identidade com os valores que alicerçam a trajetória política do nosso Partido. Nossas divergências, todavia, não impediram nosso apoio ao governo de Vossa Excelência, mas pretendemos discutir com a sociedade, de forma mais ampla e livre.
 
O Partido Socialista Brasileiro, nos seus 60 anos de presença na vida política nacional, jamais transigiu ou negociou suas convicções e seus ideais programáticos.
 
Com longa tradição na luta pela democracia e pela justiça social, o PSB participou ativamente de importantes momentos da vida nacional, como a memorável campanha do “petróleo énosso”, a luta pela reforma agrária, a luta pelas “Diretas-já” e pela democratização do País. Sempre nos inspiraram exemplos como os de nossos companheiros João Mangabeira, Hermes Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Evandro Lins e Silva, Antônio Houaiss, Miguel Arraes e Jamil Haddad.
 
É justamente pelo apego a essa  história que o partido, nos últimos anos, vem merecendo o reconhecimento da sociedade brasileira refletido no seu crescimento nas sucessivas vitorias eleitorais.
 
Por todas essas razões, o PSB vem àpresença de Vossa Excelência, formalmente, declinar de sua participação no Governo, entregando os cargos que ora ocupa, ao mesmo tempo em que reafirma que permanecerá, como agora, em sua defesa no Congresso Nacional. Esta decisão não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia –que não exclui a possibilidade de candidatura própria –serádiscutida nas instâncias próprias, considerando nosso programa e os mais elevados interesses do País e a luta pelo desenvolvimento com igualdade social.
 
Saudações Socialistas,
 
Eduardo Campos
 
Presidente Nacional do PSB
 
 

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