Desde que a saúde no Brasil se tornou um negócio, os médicos viraram empresários e o paciente passaram a ser tratados como mercadorias, o padrão de atendimento privado está cada vez mais parecido com o do sistema público. Quem entra hoje no pronto atendimento de um hospital privado enfrenta um drama semelhante ao da grande maioria da população, que é obrigada a se submeter ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A evolução dos planos de saúde no Brasil ajuda a entender esse processo de precarização do atendimento oferecido pelas operadoras de planos de saúde. As primeiras associações privadas criadas para oferecer serviços de assistência médica surgiram no país nas décadas de 1950 e 1960.
Inicialmente, grandes empresas estatais passaram a oferecer o serviço diferenciado a seus funcionários. Processo semelhante ocorreu com as grandes empresas do setor automobilístico, que começaram a se instalar no Brasil mais intensamente a partir da segunda metade da década de 1950. A partir daí, a rede privada não parou mais de crescer.
A Constituição de 1988, além de assegurar o direito à saúde a todos os cidadãos com a criação do Sistema Único de Saúde, passou a regulamentar o setor de assistência médico-hospitalar privado, que crescia a passos largos. A exemplo da educação, as classes sociais mais abastadas, fugindo da baixa qualidade do serviço público, passaram a incluir no orçamento familiar as despesas com os planos de saúde. Muitas empresas também passaram a criar planos coletivos para seus funcionários, que se tornou um benefício valioso.
Em 2003, o sistema já tinha mais de 2 mil operadoras atuando no setor para segurar cerca de 30 milhões de usuários, movimentando mais de R$ 28 bilhões. Em 2010, o número de associados saltou para 45 milhões, o faturamento para R$ 70 bilhões. O problema é que a qualidade de atendimento não acompanhou a pujança desse crescimento.
Preocupado com esse gargalo, o Tribunal de Justiça do Estado (TJES) promoveu nessa sexta-feira (27) o Seminário Saúde Suplementar, Regulação e Poder Judiciário. O objetivo do encontro foi ajudar consumidores e operadores de planos de saúde a encontrar soluções para resolver seus conflitos para aperfeiçoar o atendimento do sistema.
O responsável pelo relacionamento institucional do Núcleo da Agência Nacional de Saúde (ANS) de Minas Gerais e membro do Comitê Executivo Estadual de Saúde de Minas Gerais, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ricardo Castro Ramos, alertou que no Espírito Santo, cerca de 80% da população têm convênio com algum plano de saúde, índice que coloca o Estado como um dos que têm maior número de associados.
Ramos destacou que faltam hospitais para atender a toda a demanda e que os pacientes acabam sendo atendidos nos corredores.
O cenário apresentado pelo representante da ANS preocupa os usuários que, mesmo sabendo que a qualidade do atendimento despenca a cada dia, ainda dão graças a Deus por terem um plano de saúde, por mais precário que ele seja. O segurado já se conforma com as longas esperas e as filas para marcar consultas e exames. Entre o sistema público e o privado, ainda preferem ficar com o SUS melhorado.