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Conselho de Cultura quer o tombamento de todos os armazéns da Codesa

A Codesa apresentou, nessa quinta-feira (3), durante reunião do Conselho Estadual de Cultura, o “Projeto de Revitalização do Centro” que prevê, entre outras intervenções, a demolição de dois armazéns do Porto de Vitória e o “reaproveitamento” de outros três, como uma espécie de estação para a passagem, por dentro, do Sistema BRT (Bus Rapid Transit). O discurso do superintendente da Codesa, Eduardo Braga (foto), deixou o clima tenso na reunião. 
 
Em sua apresentação, Braga, alegou  que falta espaço na bacia de evolução para a manobra de grandes navios, e sem eles, o Porto não segue a tendência mundial de receber navios maiores.    
Entre números e cifras para justificar a expansão, entre elas a de que 65% do Produto Interno Bruto (PIB) da região metropolitana provêm das atividades portuárias, o superintendente da Codesa (foto) garantiu que a vocação da cidade não é turística e sim portuária e, portanto, é vital a expansão do empreendimento. 
 
 O projeto prevê, além da dragagem da baía de Vitória, a demolição do prédio administrativo e dos armazéns 4 e 5. O local dará lugar a um novo pátio de estocagem, sobretudo para o estoque de veículos, e ao novo prédio da Codesa. Em contrapartida, divulgou Braga, a Codesa, além dos galpões 1,2,3 para o Sistema BRT, doou parte do seu terreno limite com a Avenida Getúlio Vargas, que dará lugar a uma faixa de seis metros para o lazer do cidadão. 

 

Para Braga, é preciso que a cidade entenda que no mundo de hoje, um porto “tem que engolir e vomitar” carga e isso, precisa ser ágil. “ Vitória é portuária, nasceu de porto e não da vocação turística”, defendeu. 
 
O projeto foi questionado tanto por conselheiros como pela população presente que não gostou apenas da definição da cidade como “prioritariamente portuária”.  Entre os dados e ofertas ressaltados pela Codesa como benefícios aos capixabas, nenhum convenceu os presentes e passou longe do objetivo do Conselho: conservar a história da cidade e garantir o bem estar dos moradores. 
 
“Este projeto vai asfixiar a cidade. Quem foi que definiu que a cidade tem que ser um grande porto? Quem decidiu essa vocação? É necessário lembrar que a cidade já estava aqui, sobrevivendo, muito antes do porto. Para quê e para onde vai toda essa riqueza? Não é para a cidade”, disse o conselheiro titula Fraga Ferri, em destaque na foto ao lado. 
 
Entre os conselheiros foi ressaltado, ainda, a forma com que o projeto foi apresentado  ao conselho – a convite do colegiado –, sem qualquer discussão com a comunidade. De acordo com a titular da Câmara de Patrimônio Arquitetônico, Bens Móveis e Acervos do Conselho, Viviane Pimentel, os armazéns do Porto de Vitória passam pelo processo de tombamento desde 2011, e portanto, as estruturas não podem sofrer qualquer alteração até o fim desse processo. 
 
Outro ponto ressaltado foi o desmembramento dessas estruturas. Segundo os conselheiros, o tombamento diz respeito a todos os galpões do porto, e portanto, os que não serão demolidos também estão em processo de tombamento e não podem ser utilizados pelo Sistema BRT. Eles cobraram uma posição da Codesa, que desde 2011 ignora o ofício encaminhado sobre o tema. 
 
“A cidade está envolvida nessa história. Mas a população não foi ouvida, o processo de tombamento foi ignorado e vou te falar, se isso persistir, vai haver enfrentamento. Se vão construir mais 30 portos no Estado, porque temos que destruir a história da cidade, que é nosso corpo afeito, para implantar um projeto com menos de 20 anos de sobrevida? O conceito de evolução apresentado aqui é relativo ao interesse da Codesa, não da sociedade”, enfatizou Fraga 
 
Sem desprezar a importância do porto e sua economia, foi consenso entre os conselheiros que não há a necessidade de demolir os galpões para ampliar o pátio de estocagem do Porto de Vitória, sobretudo porque a cidade não comporta e não quer tamanho empreendimento. 
 
“O conteúdo do ser tem mais valor que o PIB. O que interessa são os 65% do PIB, para nós, a expansão vai gerar um caos. Ainda não vi como será possível expandir sem gerar um problema ainda maior de mobilidade na saída do porto. Sugiro que o porto saia da cidade e esse espaço seja voltado para a atividade turística”. 
 
Entre as propostas apresentadas à Codesa está a de reinventar o espaço do porto através de espaços de cultura para receber o turismo e ainda, o de “pular” os 15 anos que seriam beneficiados com a expansão para a fase onde os navios mercantilistas não mais frequentarão a região, tornando o tráfico mais ameno e condizente com a proporção da cidade e a qualidade de vida dos moradores. 
 
“Por que não reinventar o espaço do porto, ao invés de investir em uma expansão para atender esse volume monstruoso de produtos que a cidade não está capacitada a receber? A cidade para nós é nosso corpo afetivo e, sim, nós estamos com os ânimos aflorados. Vocês chegam aqui e nos apresentam um discurso fatalista, um projeto goela abaixo, e ainda não estão acostumados a lidar com o contraponto”, afirmou Frerri. 
 
Armazéns 1,2,3
 
A intervenção nos armazéns 1,2,3 foi apresentada pela secretária estadual de Transporte e Obras Públicas em exercício, Luciene Becacici (foto).  De acordo com ela, as estruturas não sofrerão alterações do lado de fora, já do lado de dentro, proporcionará a passagem, de ida e de volta, do Sistema BRT. No 1, entretanto, o projeto prevê espaço para um espaço de cultura, enquanto as outras servirão apenas como plataformas. 
 
O projeto também foi criticado durante a reunião. Para o professor do Departamento de História da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Luiz Cláudio Ribeiro, é preciso que o planejamento público pare de pensar no Centro de Vitória apenas como um corredor de passagem. 
 
Segundo a secretária, essa é uma proposta inicial, um conceito que vem sendo desenvolvido e, portanto, não há ainda um projeto executivo sobre a questão. 

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