É cada vez maior a carência de qualidade de vida para os moradores de Vitória. Em audiência pública nessa terça-feira (27) com o prefeito eleito, Luciano Rezende (PPS), temas como a ocupação do solo, mobilidade urbana e os rumos da cidade nortearam o debate promovido pelo Gabinete Itinerante realizado na Praia do Canto, deixando claro que o crescimento registrado até o momento não é bom e, sobretudo, não favoreceu os moradores da Capital.
Na Fundação Nacional de Saúde (Funasa), onde foi realizada a audiência, a fala da moradora Maria das Dores Perim, que faz parte do Grupo Capixaba da Paisagem, abriu a pauta ressaltando o uso e a ocupação do solo na cidade, citando o adensamento exaustivo de algumas regiões. “Estamos impermeabilizando a cidade com cimento e degradando as paisagens daqui e do entorno. Essa concentração de imóveis não é saudável e a situação já atingiu um nível insustentável. Há prédios grudados e superdimensionados. Peço que isso seja revisto em nome das paisagens e de uma cidade mais sustentável”, ressaltou ela.
Para o professor e economista Arlindo Villaschi, o problema está na forma com que a cidade vem sendo ocupada. Ele citou a expansão do Shopping Vitória e explicou: “Vitória está triplicando seu adensamento sem mexer em suas áreas de lazer, como é o caso das Praças dos Desejos e da Ciência, que além de intactas em seu dimensionamento, estão sendo ocupadas irregularmente por moradores de ruas”.
“Prefeito Luciano, acho muito pouco provável que sua administração queira colocar Vitória no mapa brasileiro com a ampliação do Shopping”, disse Villaschi, referindo-se à expansão do Shopping Vitória.
Segundo Luciano Rezende, ele está acompanhando o projeto de ampliação do empreendimento com uma lupa, e atento desde o primeiro projeto apresentado para a ocupação da ZEE8, região onde está o Shopping Vitória, até o atual, que prevê além da ampliação, a construção de torres residenciais e comerciais na Enseada do Suá, todos do Grupo Buaiz.
O pedido por mais qualidade de vida surgiu em diversos momentos da audiência, ligado desde a mobilidade à prática de esportes e ao fomento da cultura. Segundo os moradores, apesar do notável crescimento da região, faltam áreas de lazer e de cultura, pontos substanciais para evolução humana e qualidade de vida.
Apesar de ter poucos representantes jovens na audiência pública dessa terça-feira (27), a questão sobre a ocupação do solo também foi alertada pelo morador Vitor Rocha, que reclamou dos poucos pontos de lazer e cultura na cidade. “Não acredito que nossa juventude só sabe sair para dançar em boates, devemos ter poetas, cantores, pintores que querem expressar sua diversidade na cidade”, ressaltou. Para ele, é preciso que a cidade também volte seus olhos para os ciclistas. “Há a cartilha orientando que os ciclistas não transitem nas principais vias da cidade. Entendo a prefeitura, porém, é preciso que ela mesma garanta meios para que se transite nestas vias”, cobrou Rocha.
Em meio às demandas sobre a qualidade de vida, Luciano afirmou que possui um compromisso com um desenvolvimento socioeconômico harmônico para a cidade. “Isso tudo com qualidade de vida, é claro. Cidades brasileiras já conseguiram isso e nós também podemos conseguir. São duas coisas que podem andar juntas, contribuir uma com a outra”, disse ele. Para isso, o prefeito eleito garantiu continuar em contato com as comunidades para a troca de ideias, que segundo ele, têm garantido uma qualidade excepcional.
Cotidiano
A insatisfação em relação aos cuidados da região foi ressaltada por grande parte dos participantes, que também citaram problemas com a cobrança do IPTU – que em Camburi chega à cobrança de zero real em uma sala comercial -, obras do Programa Águas Limpas, que deixaram as ruas em péssimo estado e sem as faixas indicativas de trânsito; drenagem, considerada ultrapassada na região; estacionamento rotativo; permanência do 3° Batalhão da Polícia Militar (que pode ser transferido para o Bairro da Penha), e até mesmo a falta de diálogo com a atual gestão, visto que todos os problemas só são resolvidos com “o dedo de um vereador”.
“Acredito que o vereador tem um trabalho mais nobre do que desentupir bueiros. Acredito que o novo prefeito terá um ganho maior liberando os vereadores para assuntos mais sérios”, reclamou Francisco Gava, presidente da Associação de Moradores do Barro Vermelho, cobrando mais interação entre as secretarias da prefeitura de Vitória.
Segundo Luciano Rezende, a procura dos moradores de Jardim da Penha levou o prefeito eleito a organizar uma audiência pública para a região que abrange o bairro, além das regiões do Bairro República e Mata da Praia. A audiência ainda não tem data marcada, mas deverá ocorrer em sequência das audiências realizadas pelo Gabinete Itinerante.