Entre a noite desse domingo (1) e a manhã desta segunda-feira (11), a bancada federal capixaba inundou as redes sociais de mensagens de indignação com a mais recente hecatombe viária no trecho capixaba da BR-101, que vitimou 11 pessoas. O clamor pelo cancelamento do contrato parece unânime. Mas unânime, mesmo, até aqui, foi a passividade com que a mesma classe digeriu todas as desculpas oferecidas pela empresa para justificar o atraso nas obras.
Desde março, quando anunciou publicamente um pedido de repactuação do contrato de concessão, a ECO 101 apresenta as mesmas explicações para o atraso nas obras. Afora a lentidão do processo de licenciamento ambiental e problemas com desapropriações e desocupações das faixas de domínio, culpa a combinação de recessão nacional e local, com destaque para a estiagem de 2016, o fim do Fundap e a paralisação da Samarco.
O fato da ECO-101 ser controlada em 27,5% por gigantes do setor empresarial capixaba – Águia Branca – Rio Novo Participações Ltda (24%), Coimex (24%), Tervap Pitanga (24%), A. Madeira Indústria e Comércio (10%), Contek Engenharia (10%), Urbesa (5%) e MMF (3%) – explica por que esse vale de lamentações é acolhido sem tantos questionamentos. O sócio majoritário do consórcio é o Grupo Eco Rodovias, do Paraná, que tem 58%; a gaúcha Grant Concessões e Participações tem 14%.
Nesse sentido, os posts de políticos capixabas são sintomáticos.
Coordenador do principal instrumento de fiscalização da concessão, o deputado federal Marcus Vicente (PP) publicou um post desalentador nas redes: “Amigos, outra tragédia anunciada na BR 101. Vamos seguir lutando, principalmente cobrando das autoridades competentes, para que as obras de duplicação saiam do papel. Que Deus conforte as famílias que sofreram perdas irreparáveis por conta da irresponsabilidade e ganância dos envolvidos neste processo”.
O deputado federal Lelo Coimbra (PMDB) também publicou uma mensagem tão pesarosa quanto vaga. “É com muita tristeza que recebi a informação do acidente com o micro-ônibus do grupo de dança alemã Bergfreunde, de Domingos Martins. Meus sentimentos aos familiares e amigos das vítimas. Que Deus conforte a todos neste momento difícil”.
Mas se os posts são sintomáticos, os comentários são mais ainda.
“Lamentável Lelo Coimbra é o governo não fazer nada para frear o descaso da ECO101 que esta recebendo do povo para matar o povo. Exigimos uma resposta dos nossos parlamentares”, respondeu um seguidor ao pemedebista. “Vc é uma autoridade competente,e aí até quando vamos ter que ver tantos inocentes tendo a vida interrompida por um descaso do governo?”, responde outra ao coordenador.
Ambos acusam a falta de propostas consistentes para garantir a duplicação. A primeira tragédia, que deixou 23 mortos, não intimidou a ECO 101. Bem longe disso. Simplesmente anunciou que não faria a duplicação, substituindo-a por terceiras faixas e contornos. Vitória então foi tomada por ações midiáticas, como visita de ministro e embate entre a bancada e o governador Paulo Hartung (PMDB), para garantir as obras de duplicação.
A ECO 101 também não se intimidou. A proposta de terceiras faixas e contornos ainda consta na mesa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para análise, o que demonstra a fragilidade política capixaba.
Desse jeito, o raio da tragédia, que já caiu duas vezes no mesmo lugar, vai continuar caindo.