Como o primeiro ano do governo Paulo Hartung foi trágico para a área de mobilidade urbana, os projetos apresentadas nessa terça-feira (19) pelo secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), Paulo Ruy Carnelli, devem ser interpretados menos como um esforço propositivo do que como uma tentativa de criar uma agenda positiva para disfarçar as trapalhadas em série de Hartung na área.
O governador disse uma coisa na eleição, mas, uma vez empossado, pegou a contramão. Cancelou toda medida que pudesse redefinir a lógica de deslocamento na Grande Vitória: Sistema Aquaviário, Sistema BRT (vias exclusivas para ônibus na Grande Vitória) e um estudo para construção de ciclovia na Terceira Ponte. Um tenebroso ciclo de retrocesso.
Quando se achou que o ciclo estava fechado, Hartung conseguiu piorar o que já era ruim: não só autorizar o aumento da passagem do Transcol, com reajuste acima da inflação, como ainda fazer vista grossa para a redução de frota dos ônibus, política clara de redução de custos a aumento de lucro das empresas concessionárias. Para o usuário, a viagem passou a ser ainda mais estressante. Em suma, um conjunto de medidas tomadas unilateralmente por Hartung.
A proposta de implantação do BRS, faixas preferenciais à direita para ônibus para conferir fluidez à circulação, com integração às linhas municipais de Vitória e Vila Velha, deve ser entendida nesse contexto. Daí que, junto com boas notícias, venha o montante espetacular de R$ 747,4 milhões em recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras do governo em mobilidade.
O governo priorizou a ampliação da BR-101, em Carapina, entre o viaduto da Vale e a descida do Aeroporto de Vitória, com uma passagem subterrânea de veículos para acesso à Avenida João Palácio; conclusão da Rodovia Leste-Oeste; Rodovia José Sette, em Cariacica; complexo viário do Portal do Príncipe, em Vitória, entre outros. Intervenções para receber as faixas preferenciais.
Mas, ao que parece, é uma ideia sacada apenas para abafar más notícias e reparar arranhões. A proposta de implantação do BRS é mais uma prova de que Hartung elegeu-se sem ideias de mobilidade: não nada que evoque a ideia em seu programa de governo.