Arquiteto do BR Cidades ressalta necessidade de não excluir parte importante da população
Desativado na década de 1990, o sistema aquaviário voltará a operar na Região Metropolitana de Vitória, conforme anunciado pelo governador Renato Casagrande (PSB) nessa terça-feira (12), ao apresentar o edital de contratação para a construção dos quatro pontos de parada do sistema: Praça do Papa e Centro, em Vitória; Prainha, em Vila Velha; e Porto de Santana, em Cariacica.
Na avaliação do arquiteto e urbanista Karlos da Vitória Rupf, membro do movimento BR Cidades, a iniciativa do Estado acerta na integração física, com pontos de parada próximos a terminais rodoviários e a locais com pontos de ônibus; na integração tecnológica, com utilização do Cartão GV, mas precisa promover a integração econômica, igualando o valor da passagem ao do Sistema Transcol, para não correr risco de excluir parte da população.
De fato, o aquaviário terá uma complementação tarifária por ser “um sistema um pouco mais caro”, segundo declarou o secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, presente na cerimônia desta terça, juntamente com o presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (Podemos); e o líder do governo, Dary Pagung (PSB).
Karlos, que em sua dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo (USP) estudou o sistema aquaviário da região metropolitana de Vitória, afirma que no que diz respeito à mobilidade, as pessoas têm que ter o direito de escolha de qual tipo de transporte utilizar, e não ficar restrito a um por falta de condições de pagar outro. “Em algumas comunidades, diante de uma tarifa mais cara no aquaviário, será que as pessoas não irão continuar restritas ao transporte rodoviário?”, questiona Karlos.
O arquiteto afirma que o custo vai depender do modelo operacional a ser adotado, que ainda não foi apresentado. Para isso, explica, é preciso fazer questionamentos como quantos barcos irão operar, com quantas pessoas cada um, periodicidade de embarque e desembarque. Karlos leva em consideração ainda o fato de que as pontes d’água, como ele chama os trajetos entre um ponto de parada e outro, não precisam de asfalto, desapropriações, manutenção e outras iniciativas por parte do poder público. “Isso está sendo computado na passagem?”, questiona. Independentemente disso, o arquiteto acha positivo o retorno do aquaviário.
O governador Renato Casagrande afirmou que, com o passar do tempo, podem surgir novos pontos de parada do aquaviário. Karlos também acredita nessa possibilidade e sugere que um deles possa ser na Rodoviária de Vitória, na Ilha do Príncipe, uma vez que já há estrutura no local para isso e seria uma forma de interligação com os transportes rodoviários intermunicipal e interestadual. Além disso, poderia incrementar atividades econômicas como o turismo. “Imagina uma pessoa chegar de outro Estado e poder pegar um barco para desembarcar na Prainha e visitar o Convento da Penha?”, vislumbra.
Outra sugestão de aperfeiçoamento é transportar também cargas, além de passageiros. O envio de subsídios sólidos para descarte em Cariacica, por exemplo, que o governo do Estado faz por meio de caminhões, poderia ser feito através da navegação, com barcos que carregam mais cargas, mas com consumo menor de diesel. “O Rio Sena, por exemplo, tem um grande fluxo turístico, mas à noite quando esse fluxo é menor, há transporte de resíduos sólidos”, diz.
O arquiteto acredita, ainda, que a implantação do aquaviário deve vir acompanhada de mudanças na infraestrutura dos locais de parada. Ele destaca que para uma integração maior, é preciso, por exemplo, que em Porto de Santana seja feito um bicicletário. Karlos defende que alguns projetos de mobilidade urbana já em andamento na Região Metropolitana podem ser revistos com o retorno do transporte marítimo. Um deles é o da alça da Terceira Ponte, para passagem de ciclistas.
Karlos explica que a declinação recomendada para uma ciclovia é de até 5%, sendo que a da Terceira Ponte é maior do que isso, sendo mais praticável para atletas. Para ele, em vez de utilizar a ponte para passar de bicicleta, seria interessante que o poder público estadual pudesse calcular quantas bicicletas podem ser levadas pelo passageiro através do aquaviário e, até mesmo, criar balsas somente para o transporte de ciclistas.
Integração com o Sistema Transcol é necessária
O aquaviário será integrado com o Sistema Transcol. De acordo com Karlos, a decisão é acerta, pois, como recorda, o aquaviário foi extinto em um contexto de investimento na Terceira Ponte e no modal rodoviário. “Não era interligado ao Sistema Transcol, não tinha intermobilidade entre os modais, sendo operados por empresas diferentes. Na correlação de forças o Sistema Transcol se sobressaiu”, relata.