“Acordo descumprido e muita violência”. Foi com essa frase que a Arquidiocese de Vitória resumiu a ação da polícia na última segunda-feira (15) contra manifestantes que se concentravam em frente à Assembleia Legislativa, em Vitória. No episódio, o seminarista Vitor Noronha, da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese, acabou sendo detido.
De acordo com a nota publicada no site da entidade religiosa, a Arquidiocese ouviu seus representantes – Noronha e padre Kélder Brandão – que tinham a missão ajudar a mediar as negociações com a polícia e evitar a violência.
Tanto Noronha quanto o padre Kélder relataram na nota que a polícia impediu a população de entrar na Assembleia Legislativa e usaram indiscriminadamente bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e tiros de borracha para expulsar os manifestantes da porta da Casa.
“O acordo firmado entre a Ales e os manifestantes durante a audiência de conciliação, com a presença da Defensoria Pública, da OAB, da Comissão de Justiça e Paz, do Conselho Estadual de Direitos Humanos e da Ufes, não foi respeitado. A votação de segunda (15), de acordo com o proposto, deveria ter a ampla e irrestrita participação da população, todos deveriam ter acesso, o que não aconteceu”, lamentou Kélder.
O religioso contou que ficou na frente da Assembleia junto com os manifestantes durante todo o tempo, presenciando e sofrendo ataques de bombas e gás e spray de pimenta, em uma ação violenta e abusiva ação por parte da polícia.
“O governo causou o caos em nome da ordem pública, caos provocado pela polícia em nome do governador. Eu nunca fui recebido na Assembleia Legislativa com gás lacrimogêneo, bombas e tiro de borracha, como ontem eu fui”.
Ele afirmou que foram tentadas todas as formas de diálogo para expor o que ocorria de fora da Casa, mas nada foi feito. De acordo com o seu relato, o BME expulsou e perseguiu os manifestantes pelas ruas, sem se contentar com a expulsão na frente da escadaria. “Houve total intencionalidade do governo em provocar o caos naquela situação”, afirmou padre Kélder.
Já Vitor Noronha, seminarista conhecido por participar de movimentos sociais desde a sua adolescência, disse que a tensão na ocasião foi provocada pela proibição da entrada das pessoas na Casa.
“Ao barrarem a entrada de todos os que estavam lá, iniciou um tensionamento entre policiais, que claramente estavam dispostos a criar um tumulto, e os manifestantes. No segundo ataque da polícia com balas de borracha, gás e bombas, corremos para o lado direito da Ales, onde estavam outros membros da comissão formada por representantes de diversas instituições. Algumas pessoas, então, subiram para conversar com o major Giovani, comandante da ação, para mediar o conflito, pedindo para cessar a violência, até que chegou o tenente Solete, mandando recuar. Expliquei a situação e o que fazíamos ali, e ele, chamando pelo meu nome, me deu voz de prisão” contou Vitor Noronha.
Para ele, a ação da polícia demonstra uma tentativa de criminalizar alguma instituição participante das conciliações entre manifestantes e deputados. “O escolhido fui eu. A ação foi algo inaceitável, que merece o nosso repúdio, um show de irregularidades e absurdos”.
Ele afirmou que irá fazer uma queixa crime e uma denúncia na Corregedoria da Polícia Militar sobre a ação ilegal realizada na última segunda-feira (15) por agentes da coorporação.
Um artigo divulgado na internet por Vitor Noronha aponta que sua prisão teve iniciativa política além de arbitrária, remontando os mais obscuros e sombrios anos da história do Brasil.
“Foi um absurdo, pois tinha autorização do Judiciário e do Legislativo para estar lá fazendo a mediação. Mesmo assim, não resisti à sua ordem, na medida em que parei de avançar para o diálogo. Portanto, a detenção foi ilegal na forma e no conteúdo. Mas, o que parecia ser meramente um erro policial, tão comum, se revelou como uma prisão política, feita de forma intencional”, diz no desabafo.
O seminarista foi apresentado aos outros policiais como: “Aqui está o Vitor que o major Giovani mandou prender”. Além disso, soldados chegaram a se recusar a assinar a notificação de detenção do militante.
“Depois de duas horas de impasse, reaparece o Tenente Solete, visivelmente abalado e provavelmente sob pressão, assina oficialmente a detenção. Fui liberado em seguida. Ficou explícito, foi um ato coordenado, vindo do Alto Comando da Polícia Militar e/ou do próprio governo Renato Casagrande”.