Mobilização nesta sexta-feira sairá do Teatro da Ufes e se concentrará em Bento Ferreira
O movimento “Amazônia Passa Aqui”, em parceria com o coletivo Pedalamente e o projeto Bike Anjo ES, realiza um ato nesta sexta-feira (1), em memória aos seis anos da morte da cicloativista Detinha Son, vítima do trânsito em 2016. O grupo sairá do Teatro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), às 18h, e se concentrará em Bento Ferreira, onde será feita a revitalização da Ghost Bike (Bicicleta Fantasma) da ciclista, que exerceu um papel fundamental na luta por políticas de mobilidade no Espírito Santo.
“Grande parte das pautas que existem hoje e estão em funcionamento, em luta, é por causa dela. Então a importância de rememorar isso é trazer à tona que essas vidas estão sendo ceifadas e nada tem sido feito”, declara Hudson Ribeiro, integrante do coletivo Pedalamente.
Detinha também era educadora ambiental, por isso a ideia é discutir temas como a Amazônia, a mobilidade ativa e a luta de cicloativistas pela preservação do meio ambiente no Brasil. “A violência no trânsito e a destruição da natureza ceifam milhares de vidas anualmente no Brasil. São guerras que matam pessoas na cidade e no campo – aqui, em sua maioria, povos indígenas e quilombolas, os verdadeiros guardiões da floresta”, diz a nota de chamamento para o ato.
O Governo do Estado também planeja homenagear a cicloativista. Na última sexta-feira (24), o governador Renato Casagrande (PSB) enviou à Assembleia Legislativa, uma proposição para que a ciclovia da Terceira Ponte seja denominada “Ciclovia da Vida Detinha Son”.
A proposta é uma homenagem a Detinha, que também atuou em diversos projetos de incentivo à mobilidade urbana e implementação de ciclovias no Espírito Santo, inclusive a da Terceira Ponte.
No anúncio da proposta de homenagem pelo Governo do Estado, essa participação foi destacada pelo secretário de Estado de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno. “A Detinha era muito atuante dentro do movimento cicloativista e participava constantemente das discussões e debates com a Secretaria dos Transportes, à época. Em 2014, ela era uma das mais atuantes do grupo que pedia a construção de uma ciclovia na Terceira Ponte”, ressaltou.
Para Hudson Ribeiro, a homenagem é extremamente importante, e inclusive já tinha sido proposta por pessoas próximas a Detinha, mas faltam medidas efetivas para impedir que mortes como a dela sejam evitadas. “A gente vê com muito bons olhos a indicação e a homenagem a ela, mas isso é pouco. Precisa ser feito muito mais. A gente precisa de mudanças reais (…) Temos uma ciclovia, por exemplo, com um projeto que é péssimo de conexão com a cidade de Vitória e Vila Velha. As prefeituras não vão criar nenhuma estrutura cicloviária para se conectar com essa da Terceira Ponte”, critica.
Mais uma morte evitável
Detinha Son sofreu traumatismo craniano após um acidente de bicicleta no dia 30 de junho de 2016. Após um evento de mobilidade, ainda no estacionamento, o ocupante de um carro abriu a porta no momento em que ela passava e a atingiu. Detinha chegou a ser internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do então Hospital São Lucas, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.
“Esse ato é para mostrar que tão pouco ou quase nada mudou desde esses seis anos em que ela se foi. O que mudou foi que a gente perdeu uma pessoa essencial na luta, no engajamento, nas políticas públicas que ela pautava dentro do governo”, enfatiza Hudson.
Além de ser um reencontro de pessoas que amavam Detinha, o intuito é sensibilizar políticos e a própria sociedade sobre a urgência de mudança de uma realidade que faz com que, ano após ano, bicicletas fantasmas precisem ser instaladas. A última foi a da ciclista Luisa Lopes, atropelada em abril, na Avenida Dante Michelini, pela motorista Adriana Felisberto, que em vídeo após o ocorrido apresentava sinais de embriaguez.
“Queremos mostrar, mais uma vez, que Detinha vive em nós e que nós estamos lutando e que essa luta não acaba. Pelo contrário, ela vai se mostrando cada vez mais necessária diante das mortes recorrentes, diante da realidade que a gente enfrenta, de saber que nós estamos revitalizando uma bike ghost agora e daqui a um tempo vai ter outra pra fazer. E que a gente nunca vai dar conta de homenagear todas as pessoas que são mortas no trânsito”, lamenta o cicloativista.