O aumento da passagem dos ônibus do Sistema Transcol, anunciado nesta quinta-feira (7), não foi devidamente discutido no Conselho Tarifário, afirma Lucas Costa, que representa o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) no Conselho. Lucas relata que a proposta foi apresentada nesta quinta-feira, sem debate prévio e de maneira não muito compreensível a todos, já que, segundo ele, foi feita uma apresentação de power point com dados muitos técnicos.
Para Lucas, o correto seria apresentar a proposta previamente, para que os membros do Conselho Tarifário, que tem representantes do Governo, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada, pudessem de fato analisar. A nova tarifa começa a vigorar neste domingo (10), passando de R$ 3,90 para R$ 4,00, ou seja, um reajuste de 2,56%. A tarifa com desconto no domingo, passará de R$ 3,40 para R$ 3,50. O Bike GV passará de R$ 1,95 para R$ 2,00.
Lucas informa que foi apresentada contraproposta de congelamento de preços durante a pandemia, que teve voto favorável somente do DCE, da Ufes e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio). “Estamos em uma pandemia, a tendência é de agravamento da crise em 2021. É até um crime reajustar tarifa diante de tanta gente que perdeu o emprego, auxílio emergencial. Esse reajuste é contra o povo”, diz Lucas.
O Fórum em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Capixabas e Brasileiros Durante e Depois da Pandemia também discorda do aumento da passagem. Clemilde Cortes, que integra essa organização e também preside a Central Única dos Trabalhadores no Espírito Santo (CUT), critica a falta de diálogo da gestão de Renato Casagrande (PSB) com a sociedade e a forma de atuação do Conselho Tarifário. Para ela, o Conselho se resume a debater aumento de passagem, devendo discutir também questões como qualidade do transporte e mobilidade urbana.
“A gente entende que o debate que deve ser feito não é somente sobre o aumento da passagem, tem que debater transporte, qualidade de vida dos trabalhadores, se o trajeto de determinadas linhas é o mais adequado. Precisa debater do ponto de vista da classe trabalhadora, da sociedade”, defende. Assim como Lucas Costa, Clemilde acredita ser absurdo aumentar a passagem durante a pandemia. “Aumentaram passagem com um monte de gente desempregada, que não tem nem o que comer. Se a pessoa não tem dinheiro para pagar passagem, fica difícil até para procurar emprego. Como a pessoa vai fazer?”, questiona.
Outro motivo destacado por Clemilde para que não haja aumento da passagem é o fato de que, de acordo com ela, as empresas economizaram muito durante o ano de 2020, já que afastaram os cobradores, ficando responsáveis apenas pelo pagamento de 30% dos salários desses trabalhadores, sendo os outros 70% de responsabilidade do governo Federal, além do fato de que em outubro de 2020 o governo do Estado comprou mais de R$ 40 milhões em combustível para socorrer as empresas do Sistema Transcol durante a pandemia da Covid-19. O recurso foi utilizado para a compra de 11,2 milhões de litros de diesel, pois as empresas alegaram perdas acima de R$ 130 milhões por causa da queda no número de passageiros e risco de colapso e demissões em massa.
O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Espírito Santo (Sindirodoviários) tem cadeira no Conselho Tarifário. O representante é Miguel Leite, que é delegado de base da entidade, mas que não participou da reunião na qual foi aprovado o reajuste da tarifa porque estava na manifestação realizada nesta manhã pelos cobradores na Avenida Norte Sul, próximo ao Terminal de Carapina, na Serra.
Segundo Miguel, os trabalhadores questionam o reajuste. “As empresas querem retirar os cobradores, diminuindo despesa com funcionários, e ainda querem aumentar passagem?”, questiona. No protesto desta manhã os manifestantes bloquearam a entrada do terminal e enfileiraram os ônibus na avenida, deixando o trânsito lento.
Foi o quarto dia de manifestação dos cobradores, que querem retornar às atividades após sete meses suspensas pelo governo do Estado com a alegação de que é perigoso pagar passagem com dinheiro por causa da Covid-19, devendo ser paga pelos passageiros com cartão GV, segundo a gestão de Renato Casagrande.