Campanha nacional representada em Vitória pelo coletivo Pedalamente vai apresentar propostas à prefeitura e Câmara
Embora reconheça a importância do transporte coletivo como um meio social e ambientalmente eficiente, o coletivo alerta que a modalidade oferece mais riscos de contaminação, apesar das normas que tentam guiar o uso nos ônibus e terminais durante este período. Isso é confirmado pelos estudos do inquérito sorológico do governo em junho, que apontam que o uso prolongado de transporte coletivo diário é um dos fatores que aumentam o risco de contágio, sendo que 23,5% dos entrevistados tinham essa característica e totalizavam 29,1% dos testes positivos.
Já o veículo motorizado individual é considerado altamente poluente e pouco acessível à maioria da população, além de gerar trânsito. A bicicleta é vista então como uma alternativa que, tendo os devidos cuidados de proteção e higiene, permite manutenção de distanciamento, além de ser acessível e ecológica.
“A gente tenta fazer um movimento de cobrar do poder público que invista na infraestrutura cicloviária da cidade, para que se possa circular com segurança e comodidade, entendendo que a bicicleta também é um agente político no trânsito, pensando na relação com os demais indivíduos que estão transitando, na relação de cuidado e respeito com o meio ambiente, e na nossa própria saúde”, ressalta Yasmin Boni, integrante do coletivo Pedalamente.
Tanto o coletivo capixaba como a UCB entendem que para disseminar o uso da bicicleta durante e depois da pandemia, é preciso melhorar as condições e estruturas das cidades para o trânsito dos veículos não-motorizados e pedestres, além de campanhas educativas e fiscalização do cumprimento das normas.
Para isso é necessário aterrissar o debate e as mobilizações, por enquanto virtuais, nas cidades, que é o espaço onde as coisas acontecem. Isso é ainda mais importante em se tratando de um ano eleitoral, quando a pauta da mobilidade urbana tende a aparecer. “Alguns políticos conseguiram criar a falsa imagem de que Vitória é a ‘cidade-saúde’, de que tem acesso, que as pessoas pedalam. Mas é mais voltado para o lazer, não teve transformação efetiva na mobilidade ativa das pessoas. A cidade não é tão ‘caminhável’ e ‘pedalável”, afirma Daniela Rodrigues, que também integra o Pedalamente.
O coletivo chegou a enviar sugestões para a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) sobre novas ciclorrotas a serem estabelecidas, mas estas não foram aceitas. A PMV criou um grupo de trabalho para discutir, mas não incluiu nele a sociedade civil. Como não exigem grandes obras físicas e têm custo baixo, as ciclorrotas podem ser implantadas de forma rápida, em vias compartilhadas em automóveis e bicicleta. Daniela questiona, porém, o fato de serem implantadas em locais onde já há um fluxo de bicicletas, sem intervir em áreas onde os carros passam em alta velocidade.
A UCB já lançou uma uma série de documentos analisando a questão da ciclomobilidade na pandemia, recomendando o uso da bicicleta para transporte, mas evitando o uso para passeios e lazer. A entidade nacional oferece assessoria aos coletivos locais e dicas e documentos básicos que podem ajudar a criar diálogos e propostas de leis emergenciais e permanentes para melhorar a mobilidade nas cidades, apontando também como encaminhar as iniciativas e pressionar o poder público.
Nesse sentido, reunindo uma equipe de especialistas, o coletivo Pedalmente reformulou sua proposta e vai protocolá-la ao prefeito Luciano Rezende (Cidadania) e à Câmara de Vitória, sugerindo implementação de ciclorrotas em Joana D’Arc e de São Cristóvão seguindo até a Avenida Beira-Mar, onde já funciona a ciclofaixa de lazer aos domingos e feriados. “Nossas ações, por enquanto, têm sido burocráticas, respeitando as orientações de ficar em casa, pois entendemos que o distanciamento ainda é necessário. Mais pra frente devemos pensar em ações mais práticas na cidade”, relata Daniela.