Em junho de 2014, Leonice registrou denúncia no Ministério Público Estadual (MPES), relatando a delicada situação de seu filho e outras pessoas com mobilidade reduzida, em virtude da falta completa de acessibilidade do logradouro.
No documento, é mencionada a solicitação que já havia sido feita à prefeitura, quando, meses antes, os moradores foram recebidos pessoalmente pelo então prefeito, Mario Sergio Lubiana, o Barrigueira (PSB), reeleito em 2016.
Na ocasião, Barrigueira afirmou que “há muitas ruas para serem calçadas na cidade, não podendo afirmar que o calçamento seria realizado, mas que alguma providência seria tomada no sentido de melhorar a referida rua, para que o acesso e locomoção fossem mais fáceis”, registra o termo de declaração do MPES.
Até hoje, no entanto, nenhuma medida foi tomada por Barrigueira, nem mesmo a capina, que continua sendo feita pelos próprios moradores. Leonice conta que, nos dias de sol, os buracos são armadilhas para gestantes e idosos. Nos dias de chuva, o perigo vem da lama e poças d' água. E todos os dias, é impossível transitar com carros ou cadeiras de rodas.
“Não tem nem como colocar ele na rua para tomar sol”, diz a mãe de Wallace, que sofre com o confinamento do filho. “O pai dele tem que descer com ele no colo, porque não chega o carro. Quando começa a chover, a gente se preocupa, porque se precisar sair pro médico, como vai fazer?”, chora.
“É muito humilhante”, diz. “E não é só ele não, tem pessoa de idade, de quase 90 anos, tem grávida, mulher com filho novinho, senhor que usa sonda, tudo passa nesse lugar”, clama.
O martírio da família de Leonice e Wallace vai além da acessibilidade, sendo agravada pela insuficiência do atendimento de saúde. A lesão na coluna que deixou o rapaz paraplégico após um acidente automobilístico, exige medicamentos e curativos, além de sondas e coletores para esvaziar a bexiga de três em três horas, evitando complicações para os rins.
Na rede pública de saúde, a família consegue apenas um medicamento e metade do número de sondas, de um total de 180 por mês. Os coletores de urina não são fornecidos, sendo comprados na Grande Vitória, e o material para curativos não dá nem para uma semana. Total dos gastos: cerca de R$ 400,00 todo mês.
Há outras demandas da comunidade de Cedrolândia feitas à prefeitura o e ao Estado, todas elas sem qualquer resposta: a pavimentação das estradas que interligam os distritos vizinhos; a reforma da escola, que foi condenada pela Defesa Civil Municipal; e o tratamento de água, que foi abandonado pela Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), sendo feito de forma absolutamente precária pela própria Associação de Moradores.
As denúncias já foram feitas à Municipalidade, ao Ministério Público, ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-ES) e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES).