Evento nesta nesta quarta-feira contará com atrações culturais, rodas de conversa e homenagem
Dia das crianças, da resistência indígena e aniversário do jornalista, fotógrafo e fundador de Século Diário, Rogério Medeiros. Dia 12 de outubro, quarta-feira, reunirá três comemorações em um único evento, no Centro Cultural Triplex Vermelho, Centro de Vitória. A programação contará com atrações culturais e rodas de conversa que giram em torno da cultura e resistência indígena e do trabalho desenvolvido por Rogério Medeiros em prol da valorização dos povos originários.
A programação começa às 18h, com o coro de crianças Guarani Tape Rexankã, da aldeia Nova Esperança, em Aracruz, norte do Estado. De acordo com um dos sócios do Centro Cultural, Perly Cipriano, a inclusão dessa atração faz uma referência ao dia das crianças. Em seguida, haverá exibição do documentário Genocídio Guarani, de Rogério Medeiros, disponível no YouTube em duas partes.
A produção audiovisual resgata a história de um genocídio ocorrido em Pancas, noroeste do Estado, nos anos 40, quando 233 indígenas morreram envenenados em cerca de uma semana após consumirem a água do córrego. A história desses indígenas em terras capixabas começa quando o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) os assenta em uma reserva destinada aos botocudos, nos anos 30, que não ficaram ali por serem nômades.
Não há registros sobre o genocídio, permanecendo na história oral a versão de que houve um surto de malária que acometeu fatalmente os indígenas. Essa história causa estranheza, uma vez que um surto desse tipo na região não atingiria somente esse grupo. Foi esse questionamento que levou Rogério Medeiros até Paraty, no Rio de Janeiro, onde entrevistou o único indígena sobrevivente, José Bonifácio, que confirmou ter sido de fato um genocídio, por meio do envenenamento da água do córrego, e não um surto de malária. O crime ocorreu quando ele tinha 16 anos.
Coincidentemente, ele faleceu 15 dias após a entrevista, ou seja, por pouco o genocídio ocorrido em Pancas poderia ter sido eternizado somente pelo viés da narrativa do homem branco. Vale lembrar que, naquela época, o noroeste capixaba registrava um intenso processo de colonização, tanto ao feitio pomerano – grupos familiares cultivando pequenos pedaços de terra – quanto ao assédio voraz dos fazendeiros da sul. Em Pancas, encontravam-se as terras mais férteis do Espírito Santo. Esses fatores podem ter sido motivadores do genocídio. Inclusive, pomeranos da região, entrevistados no documentário, afirmam que logo após a morte dos indígenas, um fazendeiro da localidade requereu a terra e a vendeu.