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Centro de Eventos Vitória: bairros do entorno temem os impactos viários

Já nessa segunda-feira (19), moradores de Bairro República e Mata da Praia demonstravam grande preocupação com os efeitos da instalação do Centro de Eventos de Vitória, um colosso de 42 mil metros quadrados que será composto por feiras e exposições, arena multiuso, restaurante e estacionamento com 1.691 vagas.  
 
Na ocasião, uma certa agitação nervosa tomava o auditório da Escola de Serviço Público do Espírito Santo (Esesp). O tema nem era o centro: era apresentado o Plano Específico de Ordenação das Formas de Uso e Ocupação do Solo da Zona de Equipamentos Especiais 1 (ZEE 1), a zona aeroportuária da Capital. 
 
Na noite dessa terça-feira (20), sim, o motivo da preocupação foi tema da audiência: na mesma Esesp, pouco mais de 100 pessoas conferiram a apresentação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) do Centro de Eventos de Vitória. 
 
A secretária municipal de Desenvolvimento da Cidade, Sandra Monarcha, apontou benefícios para a cidade: uma dinamização da economia e favorecimento do turismo e e da cultura. 
 
O engenheiro da Prefeitura de Vitória Leonardo Schultz conduziu os trabalhos e iniciou a apresentação com uma pergunta: “Qual cidade não gostaria de um centro de eventos de qualidade?”, ou seja, uma obra que comportasse veículos e pessoas sem prejudicar a cidade. 
 
Ele, então, passou a apresentar levantamentos e números de amparo à viabilidade técnica do projeto. Localizado às margens da Avenida Adalberto Simão Nader, entre a Praia de Camburi e o vindouro novo terminal de passageiros do Aeroporto de Vitória, o Centro de Eventos de Vitória poderá atender a até 15 mil pessoas – só a arena terá capacidade para sete mil.
 
Foram projetados quatro cenários de simulação de tráfego, cálculos de fluxo em 13 intersecções viárias, pesquisas com população circundante e residente, diagnóstico ambiental. A questão da mobilidade, claro, era o foco central. A tendência, segundo a prefeitura, é que não haja carros estacionados nas ruas em função do empreendimento, já que, segundo projeções, o estacionamento comporta a demanda.
 
Para desatar os nós viários – pelo aumento da circulação de pedestres, maior demanda por transporte público, maior fluxo de carros – Vitória deve receber pelo menos duas grandes intervenções viárias: um elevado no encontro das avenidas Fernando Ferrari e Adalberto Simão Nader e um mergulhão no das Adalberto Simão Nader e Dante Michelini. 
 
Há ainda a possibilidade de implantar uma rua projetada na altura do Shopping Norte-Sul. Também será construída uma ciclovia com capacidade para 1.200 bicicletas por hora ligando a Fernando Ferrari à Adalberto Simão Nader.
 
Intervalo para o café. “Isso vai ser bom para a especulação imobiliária” dizia um morador da Mata da Praia a outro. Ficou claro que os moradores não são exatamente contra o empreendimento; até aceitou-se o discurso dos benefícios econômicos para a cidade. O que eles temem é a perda de qualidade de vida. 
 
Bairros de ruas com traçado predominantemente estreito e de perfil eminentemente residencial, República e Mata da Praia já registram circulação veicular intensa, razão pela qual os moradores vislumbram um futuro não muito animador com a instalação do centro de eventos: mais carros, logo mais pressão sobre as ruas. 
 
Quando o microfone foi aberto às lideranças comunitárias, o presidente da Associação de Moradores do Bairro Morada de Camburi, Vilson Venturi, arrancou aplausos: “Não somos contra o progresso. Mas a que preço é esse progresso? Nenhum progresso vale a pena se o ser humano não for prioridade”.
 
Venturi foi ao cerne da questão. Para ele, o projeto, tecnicamente, é muito bom, mas, lembrou, não se falou dos impactos no interior dos bairros. Como exemplo, citou o aumento de fluxo que a obstrução de via do projeto Rua de Lazer, da Prefeitura de Vitória, que aos domingos fecha um sentido da Dante Michelini para os carros, causa nos bairros do entorno.
 
Ele também foi severo com os representantes da prefeitura presentes: ao final da apresentação do EIV, uma mensagem fornecia o famoso número de telefone 156 para quaisquer dúvidas ou reclamações. “Não funciona”, cravou. Ele solicitou que o projeto seja debatido com que reside nos bairros, quando alguém da plateia gritou: “Isso sem falar no Perim”. 
 
Ele agradeceu: “Isso mesmo. Isso sem falar do Perim”, lembrando que o supermercado de Mata da Praia ainda nem foi reinaugurado, o que pode pressionar ainda mais as ruas da região.
 
O presidente da Associação de Moradores de Mata da Praia (AMMP) Sandoval Zigoni, também elogiou as benesses do centro, mas levantou também os impactos negativos em termos de mobilidade. Demonstrou preocupação com o adensamento da região – especialmente Bairro República, que já recebe muito tráfego externo – e o aumento do porte das edificações. “Os bairros merecem muito mais que um redesenho viário”, disse. Ele também cobrou a realização de outra audiência pública.
 
As questões dos moradores, escritas em um pedaço de papel e lidas e respondidas por técnicos da prefeitura e do governo do Estado – um representante do Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes), reforçaram a preocupação com o volume extra de tráfego que os bairros podem ganhar com o Centro de Eventos de Vitória. 

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