Uma questão contratual impedia Tiê Pordios de guardar sua cargueira na vaga de garagem do prédio em que mora, em Maruípe, Vitória. Para fugir ao desconforto de subir e descer escadas com um objeto grande e pesado, Tiê arranjou um expediente mais prático: prendê-la ao poste, na rua, onde era possível vigiá-la do segundo andar do apartamento.
Por muito tempo funcionou. Mas no final de janeiro, ele acordou, foi à janela e viu apenas o poste. Acabava ali uma relação de um ano e meio.
Não há dados oficiais, mas, conversando com integrantes de grupos de ativistas das duas rodas, há uma impressão geral de aumento de furtos e roubos de bicicletas em Vitória. A recente visibilidade que as bikes ganharam, com uma consequente ampliação numérica nas ruas, e a ausência de equipamentos públicos como bicicletários e paraciclos são as principais causas apontadas.
No ranking do site Bicicletas Roubadas, uma iniciativa independente que disponibiliza um cadastro nacional, o Espírito Santo figura em 13° lugar, com 14 casos. O primeiro estado, São Paulo, ostenta desoladores 756 casos.
Tiê integra o Bicicletada Vitória, grupo que divulga a bicicleta como meio de transporte e reivindica o espaço dos ciclistas nas ruas, e tem percebido um aumento nos casos de roubos e furtos de bicicletas. Ele relaciona o fato à questão da visibilidade das bicicletas como símbolo de mobilidade. Considera o seu um “caso de exceção”, embora não ache mal nenhum querer mais segurança.
Reiterando a mesma impressão, Felipe Borba, também integrante do Bicicletada Vitória, traz um “dado” interessante: desde o início do ano, pelo menos sete amigos – ou seja, não meros conhecidos – experimentaram esse dissabor. “Isso é proporcional ao aumento de bicicletas nas ruas”, diz.
Para ele, bicicletários e paraciclos, estruturas normalmente instaladas em locais de intensa circulação e visibilidade, que dispõem várias bikes em um mesmo espaço, dificultariam a ação dos outrora românticos “ladrões de bicicleta”.
Detinha Son, membro do grupo Ciclistas Urbanos Capixabas (CUC), concorda. Para ela, além de conferir mais segurança, bicicletários e paraciclos, equipamentos ainda em número insatisfatório na Grande Vitória, em estabelecimentos públicos e privados, deixam o visual da cidade mais agradável, ao evitar a desordem de bicicletas espalhadas por postes e árvores.
Detinha não percebe esse aumento, mas já espera que chegue por aqui aquilo que ocorre no eixo Rio-São Paulo: o furto/roubo de bicicletas com alto valor, aquelas de R$ 4 mil para cima. Ela percebe que o mesmo verniz de status que tingem os carros agora estão tingindo as bicicletas.
“O número de bicicletas caras está aumentando. Aí essa ‘moda’ vai começar a vir para cá”, prevê. O furto/roubo de bicicletas de alto padrão abre um mercado negro de venda de peças que não se encontram para venda imediata nas lojas especializadas.
Já Rafael Darrouy, outro membro do CUC, nota um aumento de roubos e furtos de bicicletas, e desde as mais humildes até as de R$ 20 mil. “Mais bicicletas na rua, mais roubo”, diz.
Para contornar a quantidade sofrível de bicicletários e paraciclos em Vitória, Dora Moreira, do Vix Cycle Chic, aconselha os ciclistas a estudar a dinâmica dos locais onde pedalam. “Não tem lugar seguro em Vitória”, diz. Ela reforça a tese de que os furtos e roubos aumentaram em função do incremento da circulação ciclística na cidade.
Dora faz uma advertência: que ao comprarem, os consumidores verifiquem a procedência do produto, para não alimentar o mercado paralelo de venda de bicicletas.
Ela também tem amigos que perderam bicicletas este ano. O caso mais recente aconteceu há 15 dias: entraram no local de trabalho de uma amiga, em Jardim da Penha, e surrupiaram a bike.