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Ciclovia da Avenida Rio Branco volta a ser debatida em Vitória

Coletivo de cicloativistas aponta necessidade de a prefeitura corrigir “erros sérios” no projeto

A Câmara de Vitória vai realizar mais uma audiência pública para debater a ciclovia da Avenida Rio Branco. A Comissão de Mobilidade Urbana promove o debate nesta quinta-feira (29), às 19 horas, na escola Irmã Maria Horta, situada na Praia do Canto.

A expectativa de mobilizadores que acompanham a discussão é de que a prefeitura tenha corrigido os erros técnicos apontados na última reunião, realizada em fevereiro deste ano. Segundo o integrante do coletivo de cicloativistas Pedalamente, Hudson Ribeiro, o projeto apresentado contava com falhas sérias. “Eles colocaram o estacionamento do lado da ciclovia. A pessoa do carro que parasse no estacionamento, teria que sair em cima e, praticamente, abrir a porta dentro da ciclovia. Uma série de problemas, situações e erros graves que poderiam resultar até em mortes”, enfatiza.

Para Hudson, mesmo que os erros apontados tenham sido reparados, problemas estruturais devem permanecer na proposta. “O principal objetivo se mantém, que é o que gera todos esses erros: privilegiar unicamente o carro […] Acredito que o grande problema desse projeto é justamente esse, não privilegiar as pessoas”, ressalta.

A discussão em torno da ciclovia já dura anos. A primeira versão do projeto surgiu em 2015, apresentada pela gestão de Luciano Rezende (Cidadania), mas a implementação foi adiada após críticas de moradores e comerciantes da Praia do Canto, que eram contra a redução do número de vagas de estacionamento. “Há uma cultura carrocrata muito forte. Mesmo sendo a favor da ciclovia, essas pessoas vão privilegiar o carro”, pontua Hudson

Em 2020, as obras foram realizadas apenas em um trecho que contempla o bairro Santa Lúcia, onde o assunto não gerou tanta discussão. “Nós tivemos opinião contrária a isso, porque sabíamos o que iria acontecer. Iriam resolver uma parte e a outra nunca seria feita”, destaca o ativista.

Na Praia do Canto, um grupo de moradores apresentou uma proposta sugerindo que a ciclovia fosse construída no canteiro central da avenida. No início, o projeto foi considerado tecnicamente inviável pela prefeitura. Apesar disso, em fevereiro deste ano, já no mandato de Lorenzo Pazolini (Republicanos), a gestão municipal apresentou um novo texto que dialogava com o desejo dos moradores. A proposta apontava para a manutenção do número de vagas de estacionamento e a construção da ciclovia no canteiro central da pista.

“Agora, com a gestão Pazolini, está sendo muito bem articulado o projeto com a opinião da associação de moradores […] Não acho que as coisas têm que ser feitas contra a opinião das pessoas que vivem ali. Só que se trata de uma ciclovia, de uma obra pública, que mexe com a vida de muitas pessoas, não só das que moram no bairro. Essas pessoas não são donas da rua. A rua é pública”, ressalta Hudson.

Em fevereiro, o secretário de Desenvolvimento de Vitória, Marcelo de Oliveira, informou que a ciclovia seria elevada com duas vias, além de contar com um piso permeável, para melhorar a drenagem e não prejudicar a irrigação das árvores do local.

Na ocasião, Renan Ferber, também integrante do coletivo Pedalamente, criticou o novo projeto, apontando a prioridade dada às vagas de estacionamento em detrimento dos pedestres e veículos não motorizados. “Na Avenida Rio Branco há seis trechos para carros, quatro faixas de rolamento e duas de estacionamento, o que representa mais de 60% da via para os automóveis”, disse.

Hudson acredita que, para que a implantação da ciclovia realmente seja benéfica para a cidade, é preciso fazer mudanças estruturais no projeto, de modo que o centro da discussão esteja focado nas pessoas. “Se você pensa nas pessoas, vai fazer uma faixa de pedestres bem feita, com tempo semafórico suficiente para uma pessoa idosa atravessar. Você vai fazer uma ciclovia larga, com espaço para todo mundo passar, sem correr o risco de um acidente”, elenca.

O ativista também aponta a necessidade de uma estrutura de proteção para evitar acidentes com os carros que passam ao redor dos ciclistas em alta velocidade, além de um sistema de arborização, para regular a climatização da via. “Se for pra fazer uma obra que vai colocar as pessoas em risco, é melhor nem fazer. Esse projeto só tem condições de ter andamento se mudanças estruturais forem feitas”, reforça.

Benefícios

Hudson lembra que estudos já apontam os benefícios das ciclovias para a cidade, inclusive para os comerciantes, que obtêm um retorno financeiro muito maior com esse tipo de via do que com um estacionamento de carros. “Não é questão de opinião. Existe um plano nacional de mobilidade urbana que fala que as cidades têm que privilegiar os meios de transporte não motorizados”, ressalta.

Uma solução apontada para conscientizar os moradores sobre o assunto é o urbanismo tático, que promove intervenções urbanas com foco em mudanças graduais. Esse tipo de estratégia é conhecido por acelerar a resolução de problemas que afetam determinadas localidades.

“Por exemplo, ao invés de construir uma ciclovia, vou pintar uma ciclovia […] Mostrando que esse convívio pode ser benéfico para todo mundo. A população vai tomando consciência disso e, com o tempo, se torna mais favorável a esse tipo de obra. Aí, sim, depois, se faz uma obra definitiva”, explica.

Outro ponto defendido pelo coletivo é a ampliação do diálogo em torno do tema. O ativista aborda a necessidade de mais audiências públicas, ouvindo representantes de diversos segmentos, como os pedestres e pessoas com deficiência. “Tem uma saída, mas é de um diálogo muito mais amplo do que está sendo feito”, afirma.

Esses entraves no diálogo com os movimentos se intensificaram na pandemia do coronavírus, já que nem todos os interessados pela discussão podem estar na reunião presencialmente, tendo em vista o risco de exposição. Segundo Hudson, mesmo com a possibilidade de participação online, muitas das perguntas enviadas de forma remota não são respondidas. “Eu entendo que é um espaço muito difícil. Já tem muita gente lá querendo falar, mas há muitas pessoas que estão impedidas de participar, por causa do formato”, critica.

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