O seminário Minha Vitória: humana, criativa e sustentável, promovido pela Prefeitura de Vitória para debater com os moradores a revisão do Plano Diretor de Urbano (PDU), abordou propostas e discussões interessantes para a cidade. Mas tropeçou na participação superficial, o que, obviamente, empobreceu o debate. O horário ajudou: o evento foi realizado pelas manhãs e tardes de segunda (28), terça (29) e quarta (30), o que contribuiu para afugentar moradores.
Poucas perguntas, muitas oriundas de funcionários da própria prefeitura. A participação de moradores foi muito baixa. O seminário registrou uma média de 100 participantes por sessão, o que deixou a prefeitura mais longe de debates mais fervorosos e questionamentos constrangedores. Ressalvando a participação de comissionados para inflar o evento, expediente, aqui, comum, esse número diminui ainda mais.
Não faltaram congratulações à prefeitura pela realização de um “debate tão importante para Vitória”. Nesta quarta-feira (30), o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV), André Gomyde, rasgou elogios a Luciano Rezende (PPS) por sua capacidade gestora em tempos de crise. O auditório vibrou em palmas ao prefeito.
O artigo do professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Roberto Garcia Simões publicado em A Gazeta de terça-feira (29) aponta mais um motivo para o empobrecimento do seminário: até agora, a prefeitura limitou-se a divulgar dados triviais sobre a dinâmica da cidade, sobre verticalização em certas áreas, dinâmicas de deslocamentos, preocupações com impacto de novos empreendimentos, entre outros pontos. E, também, não foi apresentado, como escreve o professor, um diagnóstico que localize a cidade no contexto da Grande Vitória.
Houve avanços, sobretudo em relação às discussões sobre outorga onerosa, para amainar a verticalização desordenada da cidade, e ao Imposto Territorial e Predial urbano (IPTU) progressivo sobre imóveis vazios, para barrar a especulação imobililária. São instrumentos importantes para regular a expansão de Vitória, por um lado, e reduzir o déficit habitacional, por outro. Mas, repetindo, a baixa adesão empobreceu a riqueza do assunto.
O seminário também foi pouco arrojado em alguns aspectos. A palestra Mobilidade Urbana – Priorização de Modais Não Motorizados, realizada pelo engenheiro da prefeitura Leonardo Schultz, não foi além do já apresentado em audiências públicas e encontros anteriores: divulgou ações cicloviárias efetivadas e previstas da atual gestão. Os ainda graves problemas da infraestrutura cicloviária da cidade não foram abordados.
A palestra Cidades Inteligentes: Uma Alternativa Para Vitória, feita por André Gomyde nesta quarta, pintou um futuro luzidio, porém distante para Vitória. Como não poderia faltar, Gomyde também destacou ações da atual administração, como a renovação da iluminação pública de Vitória e a instalação do Parque Tecnológico na região de Goiabeiras.