Contrariando as recomendações científicas, lockdown continua descartado na próxima semana
Atualizado com o Mapa de Gestão de Risco corrigido pelo governo do Estado
Mais um triste duplo recorde no avanço da pandemia de Covid-19 foi registrado nesta sexta-feira (5) no Espírito Santo, com a confirmação de 1.586 casos e 53 óbitos pela doença, totalizando 18.480 pessoas confirmadas com a doença e 790 mortes. O índice de letalidade está em 4,27% e o isolamento social, em apenas 45,92%, um dos mais baixos das últimas semanas.
A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por sua vez, continua numa média perigosamente alta, com 88,11% na Grande Vitória e 84,91% na média estadual.
Ainda assim, o governador Renato Casagrande (PSB) se recusa a decretar medidas de restrição máxima de circulação de pessoas, mantendo os shoppings centers abertos e o comércio de rua funcionando de forma alternada, situação que foi citada pelo jornal The New York Times como exemplo de má gestão da crise no Brasil.
Fazem parte do grupo de municípios em Risco Alto: Afonso Cláudio, Água Doce do Norte, Águia Branca, Alfredo Chaves, Alto Rio Novo, Anchieta, Baixo Guandu, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Bom Jesus do Norte, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Colatina, Ecoporanga, Fundão, Guarapari, Ibiraçu, Ibitirama, Itapemirim, Itarana, João Neiva, Mantenópolis, Marataízes, Marechal Floriano, Mucurici, Muqui, Piúma, Presidente Kennedy, Santa Teresa, São Domingos do Norte, São José do Calçado, São Roque do Canaã, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória.
Estão no grupo de Risco Moderado os municípios de Alegre, Apiacá, Aracruz, Atílio Vivacqua, Brejetuba, Castelo, Conceição da Barra, Conceição do Castelo, Divino de São Lourenço, Domingos Martins, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Iconha, Irupi, Itaguaçu, Iúna, Jaguaré, Jerônimo Monteiro, Laranja da Terra, Linhares, Marilândia, Mimoso do Sul, Montanha, Muniz Freire, Nova Venécia, Pancas, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, Rio Bananal, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, São Gabriel da Palha, São Mateus, Sooretama, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Vila Pavão e Vila Valério.
A ausência de risco extremo só está sendo artificialmente sustentada pela negativa do governo do Estado em incluir o Índice de Transmissão (Rt) na Matriz de Risco, alertam os especialistas do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A recomendação foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF), que deu prazo até sete sábado (6) para que o secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, informe o nome do técnico responsável pelo Mapa, depois que o Estado não atendeu à extensão do prazo para explicar porque não incluir o Rt na Matriz de Risco.
Em coletiva realizada na última segunda-feira (1), Nésio disse que a inclusão não foi feita porque o Estado ainda não tem metodologia para medir o índice em âmbito municipal. Nesta sexta-feira (5), Casagrande afirmou que o MPF, “que está procurando serviço pra fazer”, deveria ajudá-lo a conseguir, junto aos hospitais privados, os dados diários de ocupação de leitos de UTI, visto que a informação chega ao governo de forma difícil, “no esforço do contato que a gente faz nos hospitais privados”.
A situação de fragilidade no tocante ao controle das informações oriundas do setor privado também se mostrou na discrepância entre os números informados no Painel Covid, classificado como campeão nacional de transparência, e os números reais, em campo, pelo menos na região sul.
A denúncia, também feita pelo MPF, mostrou que no dia 21 de maio, apesar do Painel mostrar vagas disponíveis na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, o hospital negou atendimento a oito pacientes, dois deles chegando a óbito pouco depois.
Sobre ela, Casagrande também desdenhou, dizendo ser “inconcebível que eles [MPF] possam levantar suspeitas sobre os dados dos leitos que nós estamos abrindo no Espírito Santo”.