Som alto, lixo e engarrafamentos longos têm incomodado moradores de Porto Grande, ao lado do Parador P12
Um dos grandes empreendimentos do verão capixaba, a Parador P12, franquia de Florianópolis instalada em Guarapari, vem gerando uma série de reclamações de uma comunidade de cerca de 400 moradores, Porto Grande, que fica muito próxima do empreendimento. O lixo deixado e o estacionamento de vários carros na entrada da comunidade, os engarrafamentos quilométricos, o som alto, têm sido algumas das queixas de moradores do pacato bairro que foram ouvidos pela reportagem.
A moradora Daniele Braga dos Santos aponta que o impacto do som tem incomodado moradores, especialmente os mais próximos do empreendimento. “Aqui é como se fosse uma rocinha na praia, um lugar tranquilo, sem muita quantidade de pessoas”, diz. Ela afirma que o disk silêncio já teria sido acionado por moradores, mas sem resultados. Ela possui um dos três comércios da comunidade, mas também trabalha fora. Diz que chegou atrasada no trabalho por conta do trânsito. Outras pessoas que frequentam igrejas em comunidades vizinhas como Meaípe, também não conseguiram chegar a tempo no domingo.
Outra que relatou se atrasar para o trabalho foi Luciely Ravani Liberato, presidente da Associação Comunitária de Porto Grande. “Às 8h da manhã, não dava para sair da comunidade. A rodovia estava praticamente interditada pelo grande fluxo de carros que transitavam. Estava tudo parado”, conta. Ela classifica o bairro como “pequeno mas organizado”. As imagens e vídeos registrados por moradores mostram que durante as noites do fim de semana até o início das manhãs seguintes a única entrada de acesso do bairro tem ficado repleta de carros estacionados dos dois lados da via, que dá acesso à ES-060 (Rodovia do Sol), onde fica a casa de shows, que trouxe atrações nacionais como Ivete Sangalo, Dennis e Henrique & Juliano, além do evento Vintage Culture, com DJs e promessa de música até o amanhecer. Daniele relata preocupação com acesso de caminhões ou ambulâncias que pode ser prejudicado pelos carros estacionados.
As imagens registradas por moradores mostram veículos estacionados em sequência nos acostamentos da rodovia, o que é proibido. Também há relatos de estacionamento em áreas próximas à praia, que podem afetar a pouca vegetação de restinga que permanece. “A gente não tem hábito de jogar lixo na rua. Num evento em que choveu, pudemos ver dezenas de capas de chuva deixadas na pista e calçadas. Eu mesma catei mais de 10, mas tinha muito mais, com risco de irem parar no mar”, conta a líder comunitária. Porto Grande e a P12 estão localizadas entre a praia e a lagoa Mãe-Bá, a segunda maior do Espírito Santo, redutos naturais separados apenas pela rodovia.
Luciely aponta que as promessas foram “enormes” antes da instalação do empreendimento, de que haveria apoio na limpeza, na segurança e no trânsito, o que não tem ocorrido de fato, segundo moradores. Embora muitos residentes de Porto Grande tenham trabalhos vinculados ao turismo na região, que tem no mês de janeiro seu auge, são poucos o que conseguiram empregos na P12, a maioria no setor de limpeza, onde se paga menos. “Sei de dois ou três que trabalham lá, mas pode ser que tenham alguns mais”, diz a comerciante. Alguns moradores tentaram conseguir recursos com o serviço de flanelinha, porém isso tem sido difícil, já que pessoas de outros municípios que trabalham na função têm vindo durante os dias de evento e isso tem amedrontado os moradores locais, não habituados com as lógicas de disputa de espaços.
O único benefício que a comunidade impactada vem recebendo é a doação de cestas básicas, que não são fruto de compras da empresa mas de “doações” do público, que ao levar 2kg de alimento, paga meia entrada – o que é usado por empresas do ramo como forma de burlar a lei de meia entrada para estudantes e outros públicos que possuem tal direito. No fim, com a doação de alimentos por um valor baixo, praticamente todos pagam o valor da “meia” – que no caso do show de Jorge & Mateus no próximo dia 14 vale R$ 300. Ou seja, se todo mundo paga meia, ninguém paga meia.
No caso das doações, Luciely não soube precisar a quantidade, mas considerou significativa. Porém, a empresa não levou as doações ao bairro. Coube aos próprios moradores conseguir o transporte. Para isso reivindicaram a prometida doação de ingressos da P12 para a comunidade. Conseguiram apenas três, próximo da meia-noite, quando já ocorria o show. Revenderam para conseguir pagar o frete de um caminhão para levar os alimentos, conta a líder comunitária.
“A empresa está dentro do nosso bairro, Porto Grande, no município de Guarapari, mas não vejo a P12 olhando para a comunidade como deveria. Tem causado muito impacto sem ter compensação”, reclama a presidente da Associação Comunitária. Ela reclama da dificuldade de contato com os responsáveis pela empresa. A comunidade também é impactada pela empresa Samarco, mineradora de grande porte, localizada em Ubu, no município vizinho de Anchieta. Como é uma empresa de ação permanente, possui uma equipe responsável pelo diálogo com a comunidade, tornando mais acessível para comunicar questões.
Ela avalia que a Associação pensa em procurar o Ministério Público para reivindicar seus direitos. Mas antes pretende insistir no diálogo com a P12 e formar uma comissão da vizinhança para se reunir com o grupo gestor do empreendimento, que no Espírito Santo é formado por empresários capixabas do setor do entretenimento.
Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Guarapari, por meio da Secretaria de Postura e Trânsito (Septran), informou que “todas as conversas estão sendo realizadas com a empresa em conjunto com ministério público estadual, visando menor impacto possível devido à ocorrência dos shows e do elevado público no local”. O Século Diário também tentou contato com a Parador P12 por e-mail e telefone e não teve retorno até o fechamento desta matéria.