A vila litorânea ainda não registrou casos de Covid-19, mas prefeitura autorizou abertura de pousadas
O clima é de apreensão na vila de Itaúnas diante da autorização da Prefeitura Municipal de Conceição da Barra (PMCB), no norte do Espírito Santo, para que hotéis e pousadas voltem a abrir. Conhecida por receber visitantes atraídos pelas praias com dunas, grupos de cultura popular e pela tradição do forró, a vila ainda não registrou casos de Covid-19 e os moradores têm realizado bloqueios na entrada para reter visitantes diante da atual conjuntura.
“Nós da comunidade estamos preocupados com isso. Fizemos quarentena, isolamento nesse período todo. Poderiam esperar um pouco mais, porque o impacto da reabertura das pousadas vai ser grande neste momento”, alertou um morador que preferiu não se identificar por temer represálias.
A preocupação aumenta porque o mês de julho é quando acontece tradicionalmente o Festival Nacional de Forró de Itaúnas, que reúne milhares de pessoas. O festival este ano vai acontecer apenas de forma virtual, com realização de lives.
Os moradores alegam que algumas pousadas chegaram a abrir clandestinamente durante o período de isolamento, embora a comunidade tenha se mantido firme. Os quiosques da praia de Itaúnas estão interditados e o Parque Estadual de Itaúnas, que dá acesso à praia, está fechado, assim como os demais parques estaduais.
“Posso afirmar que 90% por cento dos moradores são contra a abertura. Até quem trabalha para as pousadas está com medo. Porque vai ser obrigado a trabalhar e a maioria das pousadas não tem a estrutura financeira que os grandes empreendimentos têm para dar treinamento e oferecer EPIs [Equipamentos de Proteção Individual] que são necessárias para funcionar”, apontou outra moradora.
A comunidade realiza dois abaixo-assinados feitos em Itaúnas contra a medida. Num deles foram coletadas assinaturas físicas de moradores e o outro foi feito via internet na plataforma Change e já reúne cerca de mil assinaturas, contando com apoio inclusive de turistas que costumam visitar Itaúnas e defendem que o local continue fechado para visitas por conta da pandemia.
O abaixo-assinado aponta que a comunidade possui número considerável de pessoas que fazem parte do grupo de risco, incluindo idosos. Além da estrutura de saúde ser muito limitada, já que o atendimento para casos graves precisaria ocorrer no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, que segundo o último informe está com leitos de enfermaria 100% ocupados e possui apenas sete dos 30 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis.
“Nos parece mais que óbvio que o momento continua sendo de isolamento e lockdown, se não total, ao menos parcial, ou seja, bloqueio da entrada de turistas, abrindo exceção somente para o trânsito de serviços essenciais”, diz o abaixo-assinado online.
O vereador Adilson Poeta (PSC) enviou um ofício pedindo revisão da medida pelo prefeito Mateusinho Vasconcelos (PTB), que assumiu o cargo após o afastamento do prefeito Francisco Bernhard Vervloet, o Chicão (PSDB), e seu vice Jonias Dionizio (PROS), cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES).
“Aguardamos posicionamento do Executivo. Caso não acate este pedido, que possa nos auxiliar com barreiras sanitárias nas duas entradas de Itaúnas, seguindo protocolo com medição de temperatura, testes rápido e outros procedimentos necessários conforme exigência da OMS [Organização Mundial de Saúde]”, escreveu o vereador em suas redes sociais.
Em Conceição da Barra, o número de infectados vem crescendo nas últimas semanas e até o fechamento desta reportagem contabilizava 64 casos confirmados de novo coronavírus e quatro óbitos.
O decreto 5.299 foi publicado na última terça-feira (30) pela prefeitura, autorizando a abertura de toda rede hoteleira do município, indicando algumas restrições, como a ocupação de apenas 50% da capacidade. O decreto está em vigor desde o dia seguinte e também regula a reabertura de academias de esportes e afins.
Os estabelecimentos como resorts, hotéis, hostels, motéis, pousadas, albergues, camping e similares precisam assinar um Termo de Responsabilidade Sanitária se comprometendo a adotar uma série de medidas para evitar a propagação do novo coronavírus.
