Atendendo à Assembleia Popular, prefeitura edita decretos e código de postura e consegue reforço policial
“Fiquei muito feliz ontem quando vi o policiamento trabalhando. Ajudou muito a nossa comunidade. A minha mãe mora na rua principal, ela já é doente. Então é muito triste a bagunça para entrar no portão, a gente não consegue entrar no portão da casa da mãe! Até falei: se ela ficar ruim à noite, a gente não tem como sair, de tanto que eles são super agressivos com a gente, não temos como passar pra entrar. E como ela, há muitas outras pessoas idosas morando no centro da vila, passando pela mesma dificuldade. Então, ontem foi um trabalho bonito da polícia. Tem que lutar pra isso mesmo. Baderneiro, não. A gente precisa sim do turismo, mas um turismo de dignidade, familiar. Porque o futuro do nosso lugar que está em jogo. Se não agirmos agora, depois vai ficar cada vez pior”.
O depoimento emocionado de Luciene Lino Barra, nas primeiras horas do dia dessa segunda-feira de Carnaval (15), resume o sentimento dos moradores e amigos do Patrimônio da Penha, vila residencial rural do município de Divino de São Lourenço, localizada aos pés do Parque Nacional do Caparaó, um dos principais endereços da rota turística caparaoense, famosa por suas cachoeiras e poços de águas puras e geladas, caminhadas pela Mata Atlântica e povo simples, alegre e acolhedor.
O desabafo foi compartilhado no grupo da Assembleia Popular do Patrimônio da Penha, formada durante este verão pandêmico de 2021, para fortalecer o diálogo entre os membros da comunidade e dela com o Poder Público, e encaminhar soluções para o problema que se avolumava há meses, desde a flexibilização das regras de distanciamento social em função da Covid-19, em meados de 2020.
Depois de meses respeitando o isolamento social, com o comércio turístico todo fechado para evitar a propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a reabertura foi seguida de uma horda de visitantes até então pouco assíduos na região, com seus veículos barulhento, caixas de som e coolers de bebidas, baixo consumo no comércio local e um rastro de muito lixo e desrespeito aos protocolos biossanitários por onde passavam.
A falta de adoção de medidas enérgicas imediatas contra esse mau comportamento foi deixando que o problema se agravasse, culminando num Réveillon impensável para a bucólica vila até pouco tempo antes: aglomerações regadas a muito álcool, música alta, confusões, muito lixo e urina pelas ruas e calçadas, e perturbação do sossego dos moradores.
A primeira Assembleia Popular encaminhou denúncias ao Ministério Público Estadual e Federal (MPES-MPF), que continuam tramitando, à qual foi anexado um abaixo-assinado virtual e em papel, pedindo providências, diante da baixa atuação dos órgãos que deveriam fiscalizar e conter tamanha desordem.
Nesse primeiro momento, as respostas eram sempre negativas: não havia fiscal na prefeitura para conter os desordeiros – o servidor com a tarefa estava afastado por problemas de saúde – e a Polícia Militar não dispunha de efetivo para atender ao pedido de sossego da comunidade, já que os recorrentes eventos de aumento de assassinatos e assaltos no litoral e na região metropolitana se mostravam prioritários.
“De manhã são duas viaturas. A partir das 15h, a Kombi. E à noite o GAO, até às duas da manhã. Mas estamos em conversa com o Estado pra ter efetivo 24 horas nos próximos feriados”, relata Arinaldo, que aguarda agenda solicitada ao secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), Alexandre Ramalho.
Decretos emergenciais
Em paralelo, a comunidade se viu envolta em reflexões sobre a qualidade de vida que deseja para o lugar e, na efervescência das discussões, lançou o informativo O Sabiá, num chamado afetuoso para o respeito e a solidariedade mútuas, reivindicando diretamente a aprovação da Lei do Silêncio e de limite de horário para funcionamento de bares e restaurantes.
Código de Postura
No calor das construções, desconstruções e reconstruções de conceitos, sonhos e resiliências individuais e comunitárias, aos pés da Serra do Caparaó, por muitos chamada de montanha sagrada do Brasil, circula, nos comércios e nas redes sociais, o Código de Postura de Patrimônio da Penha, que, esperam os moradores, seja cada vez mais compartilhado e honrado.