Com apoio de arquitetos, iniciativa quer tornar replicável no Estado modelo para ajudar quem vive em moradias precárias
Buscando ajudar um morador que vivia em condições habitacionais precárias no bairro Consolação, em Vitória, um grupo de arquitetos apresentou uma proposta de construção rápida, barata e replicável.
“Vimos que não era caso de reformar, mas de fazer uma nova casa. Então pensamos como resolver o problema por meio de uma solução que fosse replicável, uma tecnologia que uma vez desenvolvida e dominada por nós, poderia ajudar em outras situações desse tipo”, conta Augusto Alvarenga, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Enquanto se tenta arrecadar os recursos necessários por meio de doações em uma campanha de financiamento coletivo em parceria com o Coletivo Beco e o núcleo BR Cidades do Espírito Santo, o protótipo da futura casa de Seu Manoel vem sendo desenvolvido por meio de um projeto de extensão universitária que envolve professores e estudantes da Ufes.
A nova casa se baseia no sistema WikiHouse, projeto de fonte aberta, ou seja, que disponibiliza livremente na internet a forma de planejar e construir casas com estruturas de madeira compensada. Além do WikiHouse, que mantém uma fundação de mesmo nome, outra inspiração vem da CAUH, uma empresa social argentina que realiza este tipo de construção, como mostra no vídeo abaixo.
Para realizar o projeto, a equipe da Ufes usa uma fresadora CNC, uma máquina de corte que funciona por computador e já fez os primeiros materiais para teste. A casa não tem parafusos ou cimento, apenas encaixes, não necessitando tampouco materiais elétricos para sua construção. Leva também um revestimento e telhados feitos de material reciclado a partir de caixas TetraPack prensadas, o que amplia o conforto térmico.
Participante do projeto, a professora Clara Miranda, também do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, aponta que ainda há preconceito sobre o uso de madeira para as construções, mas que é um recurso com muitas vantagens, dependendo do caso. “Esse material é mais leve do que alvenaria para carregar e construir em cima do morro. É renovável. Contribui mais para o ciclo regenerativo dos materiais”, diz, lembrando de situações em que moradores precisam subir as escadarias dos morros carregando cada tijolo necessário para construir uma casa.
De fato, Seu Manoel utilizou madeira, material mais leve e barato, para construir a casa precária que o abrigava, agora interditada pela Defesa Civil. Possuía fendas, infiltrações no telhado e não contava com banheiro e instalações elétricas e sanitárias, o que o colocava numa condição de vulnerabilidade ainda maior em momento de pandemia do coronavírus, em que se recomenda a lavagem constante das mãos.
Augusto Alvarenga explica que a nova casa projetada se adapta ao pouco espaço que Seu Manoel, contando com dois cômodos, com cozinha integrada, banheiro, área e varanda. “O espaço que ele tem para morar é muito pequeno, mas é possível ter uma situação de maior conforto e dignidade para a pessoa mesmo com espaço reduzido”, afirma o professor.
A campanha já arrecadou 43% dos recursos necessários para a construção da casa do Seu Manoel em Consolação, restando mais 33 dias para tentar cumprir a meta total de R$ 26 mil. Outra vantagem do projeto é que desenvolvidos os materiais, a montagem das partes da casa pode ser feita mesmo por pessoas sem treinamento formal em construção.
Apesar de afirmar ainda serem necessários mais testes, o professor Augusto estima que em cerca de 15 dias de trabalho na montagem no local escolhido é possível ter uma dessas casas pronta.
Com a construção da primeira casa, além de ajudar Seu Manoel a ter uma condição mais digna de habitação, o grupo de arquitetos busca também ter o conhecimento do processo e o primeiro exemplo para apresentar esse tipo de construção e buscar recursos para que possam ser usado para apoiar outras pessoas que estejam em situação precária de moradia.